por Adriano Nicolau da Silva
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É possível que o homem seja feliz em meio às turbulências existenciais? Seligman e Csikszentmihalyi (2000) enfatizam que a psicologia não é só o estudo da patologia e da fraqueza, mas também o da força e da virtude. Segundo eles, a felicidade é o maior objetivo da vida humana.
Na sociedade contemporânea existe a preocupação em ter uma vida mais saudável em aspectos gerais, como alcançar a realização pessoal baseada no amor, na gratidão e em processos metafísicos, mas diferentemente disso, algumas pessoas buscam a felicidade focando em objetivos externos como dinheiro, fama e sucesso profissional. Os prazeres imediatos obtidos na compulsão por substâncias psicoativas, alimentação, comportamentos de risco não contribuem para a felicidade, ao contrário, podem conduzir a problemas sérios de saúde.
As ferramentas psicológicas ajudam o homem a gerenciar a insatisfação, proporcionando resiliência, inteligência emocional e reestruturação das crenças profundas, transformando-as em otimistas e proativas, facilitando o desenvolvimento da espiritualidade e humanidade. O trabalho pode ser uma alternativa inteligente para se sentir feliz, segundo o pesquisador Csikszentmihalyi, que criou o conceito de “fluxo” que expressa um estado mental em que o indivíduo fica completamente imerso, concentrado no que está fazendo, derivando dela um grande prazer. (Csikszentmihalyi, 1990).
Através da alimentação saudável, atividade física, sono reparador e administração das emoções, uma melhor qualidade de vida surge como uma possibilidade prática diária. Ela passa a ser analisada como uma vertente científica saindo dos padrões de crenças desde a antiguidade, por uma narrativa fundamentada em observações dos acontecimentos reais, buscando constantemente alcançar essas sensações, seja por produtos, serviços, empregos, casa própria, filhos, ou outras metas de vida “padronizadas” no imaginário social (Brinkmann, 2017; Warren, 2009).
Diante da pergunta “O que é felicidade para você”? Observei que cada pessoa reagiu de uma maneira. Uma começou a filosofar, outra começou a sorrir e dançar, outra disse que iria pensar e outras resumidamente disseram ser estado de harmonia entre mente, espírito e corpo, deixar se fluir diante da paz interior. As respostas envolviam os sentimentos e a subjetividade de cada um, uma em especial foi de um senhor de quase oitenta anos, ao responder estar vivendo um estado de felicidade que já fazia um bom tempo. Curiosamente, perguntei-lhe novamente e o que é de tão especial que o Senhor faz para viver tal sentimento nobre? Prontamente, ele respondeu, acordando às cinco da manhã e plantando cebolinha no meu quintal. Isto fez-me enxergar a importância das emoções positivas engajadas com o propósito de vida.
Muito se abordou sobre as mazelas psíquicas no modelo biomédico, e esquecemos de apresentar na história da psiquiatria as virtuosidades humanas baseadas em potencialidades. Na história da ciência da psicologia existiu uma preocupação de alguns pesquisadores em compreender o homem pelo aspecto positivo, fundamentado no humanismo, entre eles se destacam Carl Jung (1936/1969), Roberto Assagioli (1926), Abraham Maslow (1954) e Carl Rogers (1959) no entanto, as suas ideias não pareceram atrair para estudos de uma visão mais positiva do ser humano (Paludo & Koller, 2007).
O conceito de felicidade e bem-estar subjetivo, segundo a OMS (1946), “o completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de enfermidade” (Preâmbulo da Constituição da OMS), demonstra a importância de salientar o lado bom do ser humano. O fato de vivenciar sentimentos negativos como a tristeza, ansiedade, angústia ou raiva não significa infelicidade, estes sentimentos em alguns momentos são importantes como uma mola propulsora para o desenvolvimento humano.
Quando partimos para uma análise baseada no dicionário Houaiss (2009) da língua portuguesa, encontramos a definição: “1. Qualidade ou estado de feliz, estado de uma consciência plenamente satisfeita, satisfação, contentamento, bem-estar; 2. Boa fortuna, sorte; 3. Bom êxito, acerto, sucesso” (p. 884).
A nossa capacidade de se projetar fora de nós mesmos, aceitando as nossas limitações em todos os sentidos, assim como as nossas potencialidades, facilita o encontro com as pessoas no exercício espontâneo de vivenciar as emoções positivas, resultados da nossa liberdade perceptiva fundamenta nos aspectos subjetivos. Existe a necessidade de mais estudos para compreendermos porque algumas pessoas, mesmo diante dos acontecimentos caóticos, possuem um senso de transcendência para outros estados de virtuosidade e equilíbrio, superando adversidades. O fato é que entender por que uma pessoa sente um ataque de pânico no conforto do seu quarto e outra, mesmo vindo, no final de tarde, de uma instituição de trabalho, com um clima interpessoal altamente hostil, mantém o seu controle pessoal, o bom humor e perspectiva de uma vida saudável e feliz.
Existe fórmula de felicidade? Encontraremos em diferenças de gêneros, poder político ou financeiro, idade, música? Contemplação? Alegria? Nos filmes? Nos amigos? Livros? Na família? Filosofia? Religião? No esporte? No orgasmo? Nas artes? No acúmulo de bens materiais? No trabalho? Lazer? Na família? Nas relações humanas? No posicionamento interpessoal de forma extrovertida?
“A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade”. Immanuel Kant
A teoria de Seligman e Csikszentmihaly (2000), recebeu o nome de Psicologia Positiva e dedica-se a estudar os estados afetivos e as virtudes positivas, como a felicidade, a resiliência, o otimismo e a gratidão. Foi desenvolvida a partir da década de 1990 e investiga os sentimentos, as emoções, as instituições (como a família, escolas, comunidades e a sociedade em geral) e os comportamentos positivos que têm como finalidade a felicidade humana. (Seligman, 2000).
Menciono o filósofo Kant, quando afirma que a felicidade é a capacidade cognitiva para o homem pensar o mundo segundo a sua vontade e desejos. A pensadora Hannah Arendt alegou a importância da participação na vida pública com liberdade, agindo nela. Einstein reforçava a ideia de uma vida calma e simples, contrária a uma vida ambiciosa em busca do reconhecimento, o que poderia causar angústia. Para Nietzsche, a felicidade é passageira e é importante a contemplação, a imaginação e se alegrar com as pessoas. O escritor e psicanalista Freud alega que o homem busca freneticamente a felicidade e que não poderá ser encontrada no mundo real, pois a frustração sempre estará presente e, a felicidade poderá ser no máximo parcial.
O sentido de viver proporciona razões para pensar em realizações futuras, sejam elas de trabalho, relações afetivas ou o que a vida espera de nós, dizia o psiquiatra e psicólogo Viktor Frankl. A busca de sentido da vida é um processo natural no contexto da liberdade humana. Podemos escolher como pensar e sentir as nossas dificuldades, mesmo diante da dor. Não procuramos a felicidade, mas a razão para ser feliz.
Quando procuro o que há de fundamental em mim, é o gosto da felicidade que eu encontro. Albert Camus
Considerações finais
Percebe-se que o assunto felicidade é subjetivo, requerendo mais estudos das ciências da psicologia, extrapolando os muros das doenças mentais. Os componentes da personalidade, dos traços e temperamento diferem de indivíduo para indivíduo e o conceito poderá mudar conforme o lugar e a época estudada. Atualmente a Psicologia Positiva está voltada para o assunto, como ajudar as pessoas, as comunidades, as instituições de trabalho a desenvolverem as potências humanas baseadas nas virtudes, conseguindo caminho de promoção da saúde mental para toda a população. Faz-se necessário a reflexão sobre as prioridades, valorizando as demandas internas e externas com vistas ao equilíbrio e à satisfação de viver.
Portanto, concluo, pelo exposto, que a felicidade é específica de cada ser humano e sempre buscará as suas respostas para os acontecimentos da vida pessoal, de trabalho, social e familiar. E para você, o que é felicidade?
Como você faz para alcançá-la?
Referências
Brinkmann, S. (2017). Stand Firm: Resisting the self improvement craze. UK: Csikszentmihalyi, M. – Flow: the psychology of optimal experience. HarperCollins Publishers, New York, 1990
Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2009. FIGUEIREDO, C. Paludo, S. S. & Koller, S. H. (2007) Psicologia Positiva: uma nova abordagem para antigas questões. Paideia, 17(36): 09-20.
Seligman, M. E. P. & Csikszentmihalyi, M. (2000) Positive Psychology: An introduction. American Psychologist Association. Jan. 55(1): 5-14.
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Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. E-mail: adrins@terra.com.br. Colunista do Factótum Cultural.
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