Depressão, psicoterapia cognitivo-comportamental e Aaron Beck

1 – RESUMO 

O objetivo desse estudo é demonstrar, numa revisão bibliográfica em artigos  científicos sobre o tema “Depressão” e a relevância da psicoterapia cognitivo comportamental, na visão de Aaron Beck. 

SUMMARY 

The objective of this study is to demonstrate, in a bibliographical review of  scientific articles on the topic “Depression” and the relevance of cognitive behavioral psychotherapy, in the view of Aaron Beck. 

2 – INTRODUÇÃO 

2.1 – A Teoria de Aaron Beck e sua contribuição para a depressão 

No âmbito psicoterápico, a união da abordagem comportamentalismo,  com a terapia cognitiva de crescimento exponencial desenvolvida pelo psiquiatra  americano Aaron Beck resultou em um sistema teórico e psicoterapêutico sólido,  cientificamente orientado e objetivo, que visa a eficácia em prol do bem-estar do  paciente. 

Aaron T. Beck e sua teoria cognitiva consideram a cognição como a chave  para os estruturas de crenças à terapia cognitiva proposta por Beck et al. (1997).  Definindo-a como: 

Aquela função que envolve deduções sobre nossas experiências  e sobre a ocorrência e o controle de eventos futuros, a qual através da Teoria Cognitiva Comportamental clínica visa à possibilidade de identificar e prever processos de relações complexas entre eventos de um paciente, de modo a facilitar a adaptação a ambientais possíveis de mudança. (BECK, 1997). 

O Instituto Beck de Terapia e Pesquisa Cognitiva está recebendo  terapeutas de todo o mundo. O Instituto já chamou a atenção da Associação  Nacional de Saúde Mental, que avalia a terapia cognitiva como uma das poucas  formas de tratamento estudadas em estudos clínicos de grande escala. A terapia  cognitiva é, atualmente, o ramo da psicologia que mais se expandiu nos Estados  Unidos. O criador dessa técnica de psicoterapia é o doutor Aaron T. Beck, cuja  máxima preferida é: “Há na superfície muito mais do que é possível visualizar“. 

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é diretiva com as sessões  estruturadas, e tem objetivos claros a serem alcançados. A prática envolve  atividades em que tanto o paciente quanto o terapeuta participam ativamente  (BECK et al. 1997, p. 4). 

Durante 40 anos, o psiquiatra Aaron T. Beck descobriu que muitas das  dificuldades psicológicas de seus pacientes não estão escondidas no  inconsciente, mas sim em “problemas cognitivos”, muito mais próximos da  percepção consciente. A terapia cognitiva, procura auxiliar os pacientes a corrigir  essas distorções do raciocínio o mais breve possível, Beck diz que o método é  “simples e prosaico”, sem reviver recordações da infância que se foram, sem  examinar os desmandos dos pais, sem procurar por significados ocultos. “Ele  está ligado aos problemas do bom senso das pessoas”, afirmou. 

Na terapia cognitiva, os pacientes são incentivados a testar a opinião que  têm sobre si e os outros, como se fossem cientistas testando hipóteses. Os  pacientes são orientados pelos terapeutas a realizar tarefas em casa. Aprendem  a reconhecer suas crenças imprecisas e a estabelecer objetivos para modificar  o comportamento, proposta por Beck et al. (1997).  

Os princípios fundamentais da terapia cognitiva podem ser facilmente  explicados e sua simplicidade os torna uma ferramenta ideal para pesquisa.  Existem vários trabalhos realizados em todo o mundo comprovando a sua  eficácia no tratamento de depressão, ataques de pânico, vícios, distúrbios  alimentares e outros distúrbios mentais. Pesquisadores também analisam a  capacidade do método de tratar distúrbios de personalidade e, com  medicamentos, doenças psicóticas, como a esquizofrenia. Beck e colaboradores (2000) defendem que as pessoas deprimidas apresentam erros no  processamento cognitivo, o que resulta numa visão negativa persistente de si  mesmas, do futuro e do mundo. Acredita-se que esses conteúdos e processos  cognitivos estejam por trás dos sintomas afetivos e motivacionais da depressão. 

Beck sugeriu a utilização de esquemas, tríade cognitiva e erros cognitivos  (processamento defeituoso da informação). 

Os esquemas são elementos fundamentais da personalidade, que são  adaptados e organizados, resultando em uma organização e compreensão dos  diversos sistemas psicológicos. Os esquemas operam gradualmente durante a  interpretação individual do mundo, sendo considerados como “regras” que uma  pessoa tem à disposição para lidar com situações recorrentes, evitando todo o processo complexo que envolve lidar com situações novas. Problemas são  organizados em compostos mais complexos, denominados constelações  cognitivas, que se manifestam por meio de prontidões (sets) cognitivas, que  preparam um indivíduo para uma atividade cognitiva específica. Esses fatores  determinam a espécie e a amplitude das reações emocionais e  comportamentais.  

Em condições normais, um estado de prontidão cognitiva varia conforme  as alterações na estimulação. Se ele persistir em várias situações, o setor está  condicionando uma tendência que indica a ativação de um modo, o que significa  que o indivíduo permanece trabalhando apenas naquela função por um período  determinado.  

A ativação deste modo estimula a produção de esquemas  correspondentes que causarão pensamentos automáticos, tais como palavras  ou imagens escondidas, específicas, discretas, telegráficas, reflexivas,  autônomas e idiossincráticas, percebidas como plausíveis e razoáveis.  

Pensamentos automáticos geram emoções correspondentes e, por meio  deles, é possível identificar os esquemas que os criaram. Isto se deve ao  contexto clínico, no qual o terapeuta incorpora os conceitos relevantes dos  processos cognitivos, considerando a situação, para a crença, para a  interpretação, para o afeto e para o comportamento. Segundo a Terapia  Cognitivo-Comportamental, há três níveis básicos de processamento  cognitivo: pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças  nucleares. (Beck et al., 1997, p. 5).

Para a elaboração, estruturas ou esquemas de crença existentes são  ativados pelas condições ambientais. O processamento esquemático (de  significativo) seja consciente ou inconscientemente, gera uma interpretação. A  interpretação específica leva ao comportamento específico, que modifica a  situação original. Ao examinar este pensamento esquemático de informação,  será viável identificar os tipos de distorções cognitivas que sustentam as  enfermidades, sendo que cada uma delas funciona com tipos específicos de  distorções cognitivas. Para Beck, um dos esquemas mais cruciais é o domínio  pessoal, composto pelo conjunto de objetos visíveis ou irrelevantes para uma  pessoa. O foco de sua atenção está no conceito de si mesma, suas qualidades  físicas e pessoais, objetivos e princípios. Há objetos animados ou inanimados ao  redor do centro que representam investimentos e, em geral, incluem sua família,  amigos, bens materiais e posses. Os outros elementos podem variar em grau de  abstração: escola, trabalho, grupo social e valores tangíveis, dependendo da  forma como esta pessoa se comporta emocionalmente, como adicionando  (alegria/euforia), subtraindo (tristeza/depressão), ameaçando (medo/pânico) ou  invadindo (raiva/hostilidade) seu domínio. O modelo cognitivo baseia-se na  compreensão de que o “afeto e o comportamento de um indivíduo são, em  grande parte, determinados pelo modo como ele estrutura o mundo” (Beck et al.,  1997, p. 5). 

As pessoas adquirem seu controle pessoal por meio da percepção que  têm dos objetos que as cercam. A tríade cognitiva, descrita por Beck, se refere  à percepção que o indivíduo tem em relação ao seu domínio pessoal, que se  manifesta na visão do futuro, do presente e do passado.  

O modelo cognitivo de Beck, esquematicamente, sugere que a  experiência leva as pessoas a terem suposições ou concepções gerais de si  mesmas e do mundo. Algumas dessas ideias, ou suposições, no entanto,  acabam sendo rígidas, extremas e resistentes à mudança, o que as torna  disfuncionais. 

As suposições só se tornam inconvenientes quando a pessoa enfrenta  situações críticas que se relacionam com seu próprio sistema de crenças. Beck  salienta, diante de seu modelo cognitivo da depressão, que a interpretação de  uma experiência (presente, passada e futura) pode levar o paciente a  pensamentos automáticos negativos; negativos por estarem associados às emoções desagradáveis e automáticos por surgirem de súbito na mente das  pessoas, ao invés de serem o resultado de um processo deliberado de raciocínio.  Isso resulta em problemas de comportamento, motivacionais, emocionais e  físicos. Esses pensamentos geram um círculo vicioso que o terapeuta deve  interromper, instruindo os pacientes a questionarem tais pensamentos  negativos, proposta por Beck et al. (1997). 

Vale salientar que esses modelos cognitivos de Beck não só são  relevantes para a depressão, como também para problemas vários problemas  psicológicos e psiquiátricos.  

3 – MÉTODO 

Realizou-se uma busca bibliográfica para analisar os textos sobre o tema  proposto. Os documentos foram pesquisados nas bases de dados PubMed,  SciELO e Lilacs. Também foram usados livros que tratam do tema e que podem  ajudar na elaboração desta revisão.  

4 – RESULTADOS 

Com base na pesquisa bibliográfica, percebeu-se que Beck e  colaboradores (2007) atribuem que as pessoas deprimidas têm erros no  processamento cognitivo, o que resulta numa visão negativa persistente de si  mesmas, do futuro e do mundo. 

5 – CLASSIFICAÇÃO 

Nos anos de 1970, nos EUA, foi lançado o Manual diagnóstico e  estatístico das perturbações mentais, o DSM III, que representa um esforço de  síntese dos fatores biológicos, psíquicos e sociais; domina então a chamada  psiquiatria biopsicossocial. Depois de muitos anos de trabalho, este manual  sofreu uma alteração (DSM-R), surgindo ainda, em 1994, o DSM IV, considerado  uma nova visão na psiquiatria mental. 

O DSM III procura definir de uma maneira mais clara à concepção de  doença mental. O que se percebe é uma tentativa de unificar a leitura da doença  mental excessivamente diversificada pelas diferentes escolas de pensamento psiquiátrico, evitando assim um excesso de julgamento da pessoa do médico.  Há um esforço no sentido de definir conceitos de base: a noção de perturbação  mental, uma cuidadosa abordagem descritiva para conduzir o diagnóstico e, por  fim, uma avaliação multiaxial. 

O DSM I apontava uma referência à depressão neurótica, ou seja, definia  como uma reação depressiva decorrente de um conflito interno ou de um  acontecimento grave e claramente identificável. A noção de depressão neurótica  é mantida no DSM II. Já o DSM III elimina a ideia de conflito: o conceito de  inconsciente não tem importância alguma, a história do paciente não é valorizada  e a personalidade desempenha um papel secundário. Para alguns teóricos, a  partir desse manual, o diagnóstico de depressão deve preencher exigências, por  exemplo, humor disfórico, cujos sintomas podem ser tristeza, irritabilidade e falta  de coragem; presença de, pelo menos cinco entre os oito critérios da categoria  (perda de apetite e emagrecimento, perturbações do sono, fadiga, agitação ou  lentidão, desinteresse, sentimentos de autoacusação ou de culpa, falta de  concentração, ideias recorrentes de suicídio). Em verdade, a listagem de  sintomas é o que prevalece; a singularidade do sujeito e sua história de vida  ficam relegadas. A noção de “depressão maior” incluída na categoria de  “perturbações afetivas” toma, de alguma maneira, o lugar da distinção entre os  fatores endógenos, exógenos e neuróticos na dimensão etiológica. 

No DSM IV, a melancolia é incluída como uma característica do  Transtorno Depressivo Maior ou do Episódio Depressivo Maior, com  característica melancólica. Na CID 10 (Classificação Internacional de Doenças – OMS, 1993) a palavra melancolia não aparece. 

Segundo o DSM-5, o indivíduo deve, pelo menos, ter dois dos seguintes  sintomas: aumento de peso ou aumento do apetite, tendo uma preferência  especial por alimentos adocicados; Hipersonia, podendo dormir mais de 10  horas por dia; “paralisia de chumbo”: sensação de dor nas pernas e braços, com  sobrecarga nos ombros; A rejeição interpessoal é mais dolorosa do que se  esperava, permanecendo o sentimento desagradável mesmo após o episódio  depressivo. Além do humor deprimido, é necessário apresentar pelo menos 4  dos sintomas a seguir: O desânimo intenso; o reduzir ou aumentar o apetite;  alterações do sono; hipertensão ou insônia; O sentimento de culpa e/ou  inutilidade associado ao pessimismo; A falta de autoconfiança; agitação psicomotora ou retardamento motor; O pensamento suicida e os pensamentos  frequentes sobre a morte e prejuízo da concentração com problemas para  pensar. 

6 – DISCUSSÃO 

6.1 – A terapia: um caminho para superar a Depressão 

Na abordagem cognitivo-comportamental, o paciente tem a chance de  analisar seus comportamentos de forma ampla. Em alguns casos, podemos  identificar uma fragilidade emocional decorrente de experiências anteriores.  Reconhecer a importância dessa fragilidade na conduta do paciente é  fundamental para o terapeuta. Alguns indivíduos acabam presos em padrões  automáticos e repetitivos que causam sofrimento, sem conseguir quebrar esse  ciclo. O terapeuta, ao ter esse entendimento, procura incentivar a reflexão por  meio do questionamento socrático em relação às crenças irracionais. A reflexão  sobre o comportamento leva a pessoa a colocar em dúvida suas próprias  crenças, baseadas em valores pessoais. 

Diversos pacientes acabam por simplificar os seus sentimentos e reações,  respondendo de maneira automática diante de qualquer indício de perigo,  moldando o seu mundo de forma pessimista. Uma simples canção, um cheiro,  um barulho ou uma lembrança podem desencadear toda a fragilidade  psicológica. 

A finalidade da terapia cognitivo-comportamental é centrar-se na  investigação empírica dos pensamentos influenciados por inferências e  suposições automáticas e, na maioria dos pacientes, ocorre uma inadequação  das relações interpessoais. Eles se percebem julgados, afastados e sem  vontade de realizar atividades que antes lhes traziam prazer. Vários indivíduos  passam a adotar crenças sem fundamentos, manifestando-as por meio de suas  palavras e ações. 

Confira a seguir alguns exemplos: é imprescindível a aprovação de todas  as pessoas importantes em minha jornada; ser competente, eficiente e bem-sucedido em todas as áreas é essencial para ser reconhecido e respeitado; é  frustrante e desolador quando as coisas não acontecem conforme o planejado. 

Perceba como a pessoa se molda conforme o que acha que deve fazer.  Ao adotar essa mentalidade, ela acaba agindo de forma automática e se  envolvendo em sentimentos baseados em uma falsa convicção, resultando em  uma cobrança excessiva de si. 

A terapia consiste em modificar a experiência consciente contínua ou as crenças  do paciente. Bern, 1961, 1964; Frank 1961). 

7 – CONCLUSÃO 

Aaron Beck descreveu os fundamentos da TCC e concluiu que crenças e  pensamentos profundos são a causa da depressão. Além disso, a pesquisa é  baseada em provas substanciais. Este artigo mostra como a psicoterapia (TCC)  pode ser usada em indivíduos com transtorno depressivo. É conhecido que a  terapia cognitiva combinada com técnicas comportamentais pode ajudar o  paciente a desenvolver a reestruturação cognitiva, a assertividade  comportamental e a percepção de suas potencialidades intrapessoais e  interpessoais, bem como melhorar a sua vida familiar, social e de trabalho.  

8 – REFERÊNCIAS  

1 – American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of  Mental disorders – DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric  Association, 2013.  

2 – BECK, A. T. & ALFORD, B. A. 2000. O poder integrador da terapia  cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas. 

3 – BECK, A.T; RUSH, A., SHAW, B., E EMERY, G. Terapia cognitiva da  depressão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

4 – DSM-IV – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações  Mentais. Disponível em: < http://www.psicologia.com.pt/instrumentos/dsm_cid/&nbsp; >. Acessado em 19 de Fev. De 2018.