Entre a razão e a sensibilidade: Acredite em você!
Por Liliam Beatris Kingerski

“Seus próprios pensamentos e reflexões
costumavam ser seus melhores companheiros.”
Jane Austen
Venho escrevendo sobre as escritas das mulheres, para ressaltar o papel da mulher para além de todas as funções que sempre a definiram durante tempos: ser bela, recatada e do lar, a ótima esposa e mãe perfeita, a outra ou o seundo sexo; a mulher sempre vista pelos olhares masculinos ou como objeto; reafirmamos nesse texto, as mulheres como produtora de conhecimento, como ser humano, e para além disso, ser humano racional, capaz de pensar por si, enquanto ser que escreve sobre si e fala pela própria vóz.
Temo me tornar repetitiva, mas o tema é caro para mim…me identifico com as diversas mulheres e as suas obras, me deparo com a atualidade das situações que elas viveram, e que , por vezes, também já vivenciei.
Por um longo tempo, a mulher foi definida por seus sentimentos, e não pela sua capacidade de pensar, capacidade essa considerada exclusiva dos homens; precisamos afirmar sempre, que a mulher pode sim ser o que ela quiser, por isso a necessidade de tirar o véu, de tornar visível as mulheres e suas batalhas por um mundo mais justo.
Enquanto escrevo, me vem à mente o quanto ainda somos afetadas por nossos sentimentos, o quanto eles nos balançam, nos enfraquecem; penso no quanto já fui dependente emocionalmente de alguém, no quanto é difícil lutar contra os próprios sentimentos e no quanto é importante a busca pelo amor próprio…afinal, para amarmos outras pessoas, precisamos primeiro nos amar.
A escrita tem sido minha fortaleza, nela busco me encontrar…
Penso que todas temos nossas batalhas para enfrentar, e sabemos o quanto ser mulher hoje, é continuar a quebrar tabus e nunca desistir. Cada uma de nós luta com as suas armas e de maneiras diferentes, mas o importante é compreender a importâncias que temos e valorizar nossas histórias.
Por vezes, enquanto tentava escrever, desanimei…de repente comecei a ler o livro “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen, e não demorei para me identificar com sua literatura apaixonante e autêntica, e como se Jane gritasse comigo SEJA FORTE!
…sua escrita atravessa minha vida:
Há uma teimosia em relação a mim que nunca pode suportar ter medo da vontade dos outros. Minha coragem sempre aumenta a cada tentativa de me intimidar.[1]
Precisamos nos reconhecer em meio às dificuldades, é nestes momentos que percebemos o quanto somos fortes; é preciso coragem para seguir em frente e enfrentar tudo.
Jane Austen nasceu em 1775, na Inglaterra e escreveu grandes clássicos como Razão e Sensibilidade (1811), Mansfield Park (1814), Emma (1815), A Abadia de Northanger e Persuasão (ambos de 1818). Nas suas obras, criou personagens femininas, abordando questões relacionadas à classe e gênero, como Lizzy Bennet, que se recusa a casar por estabilidade na vida. No período em que viveu, as mulheres não podiam escrever; ela mesma escrevia desde muito jovem, escondida, e publicou algumas de suas obras no anonimato.
Me aventurei a ler outras de suas obras e fui contagiada por suas palavras, pelos conselhos valiosos às mulheres que podem ser aplicados ainda hoje:
… não tenho medo de mostrar meus sentimentos
e de fazer coisas imprudentes,
pois acredito que o que não se mostra, não se sente.
Coisa que talvez surpreenda muito a você,
pois os seus sentimentos são tão guardados
que parecem não existir realmente…[2] (trecho de Razão e Preconceito)
As palavras da autora representam claramente também suas convicções, suas personagens auxiliaram na reflexão sobre as noções de igualdade, liberdade de expressão e autonomia quanto à situação das mulheres na sociedade. ….Jane Austen é mais uma mulher além de seu tempo que deixa para nós uma importante lição:
Acredite em você, não deixe que ninguém te diminua, lute pelo que acredita e não tenha medo de ser quem és!
[1] AUSTEN, Jane. Orgulho e preconceito. São Paulo: Editora Pé da Letra, 2017.
[2] AUSTEN, Jane. Razão e sensibilidade. São Paulo: Penguim Classics Companhia das Letras, 2012.

Liliam Beatris Kingerski é professora de filosofia. Graduada em Filosofia, História e Sociologia, com pós-graduação em Política e Sociedade, História e Sociedade. Mestranda do programa PROF-FILO da UNESPAR. Pesquisadora da Filosofia Feminista, apaixonada por escritas de mulheres e Filosofia. Colunista do Factótum Cultural.
Os artigos publicados, por colunistas e articulistas, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Factótum Cultural.
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