Por Iara Aparecida Dams

O Olho é uma espécie de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.[1]

Cecília mais uma vez vem e poetisa algo tão inusitado porém cheio de significado: os olhos. Pequenos planetas, de diversas cores, portas da alma e da verdade, mas que são reflexos do universo que orbitam. É possível saber muito sobre uma pessoa olhando em seus olhos, mais ainda vendo como eles interagem, são como bolas de cristal para quem tem o dom da leitura.

Na literatura sempre há certo peso na personagem que tem o olhar marcante. Temos como ícone o exemplo de Capitu[2], dona dos olhos de cigana obliqua e dissimulada que capturam e prendem Bentinho. Ou pelo padre Amaro[3] com Amélia que vivem um amor trocando olhares enquanto D. Joaneira toma chá.

Porém, estive em uma conversa filosófica com meus alunos sobre o ato de ver e olhar, como vemos o mundo mas não conseguimos realmente olhar as coisas que estão à nossa volta. Parece ser tão complicado ver e vivenciar a realidade, estamos a todo momento mascarando as verdades e embelezando as cenas para se tornarem favoráveis ao que buscamos.

E quem se mostra grande aliada neste ato de embelezamento do olhar é a globalização, que veio trazendo uma outra realidade, como um universo paralelo, onde as pessoas vêem a necessidade de ter uma vida bela e feliz. Cria-se uma pintura perfeita, uma história com uma grafia um tanto errônea, porém capaz de encantar os olhos de quem acompanha.

As pessoas optam pelo que querem vislumbrar e viver, sendo possível ignorar tudo aquilo que fere o estereótipo que cada um escolheu para protagonizar. Mas, por trás das máscaras alegóricas não é difícil encontrar as cicatrizes e dificuldades que tornam cada pessoa um ser humano.

Não somos deuses, somos humanos. 

Não digo que não existe a possibilidade da alegria plena, mas que nós devemos aprender a olhar para além do que nos agrada e a ler os olhares com os quais convivemos. Já dizia Clarice Lispector: “cada ser é um mundo”,  e, eu acredito que os olhos são a porta de entrada para todos eles.

Para além das pessoas, eu desejo que este texto incentive cada leitor a olhar e vivenciar tudo à sua volta, desde as cores que que pintam o seu mundo, até os detalhes que o tornam único. Olhe as pedras no meio do caminho e as flores que nascem entre as rachaduras.

Permito-me ainda fazer um adendo e dizer que olhar é um início, fazer é o próximo passo em uma longa caminhada que não precisa transformar todo o mundo, mas deve te motivar a viver melhor no seu mundo.

Para onde você vai voltar seu olhar agora?


[1]MEIRELES, Cecília. Mapa de anatomia: o olho.

[2]ASSIS, Machado de. Dom Casmurro.

[3]QUEIROZ, Eça de. O crime do padre Amaro.

Iara Aparecida Dams, Professora do ensino fundamental I no Colégio Santos Anjos – PU. Graduada em Letras: Português/Espanhol (UNESPAR). Pós-graduada em Alfabetização, Letramento e Literatura Infantil (UNINA). Cursando Pedagogia (UNIASSELVI). Poetisa e escritora. Colunista do Factótum Cultural.

Os artigos publicados, por colunistas e articulistas, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Factótum Cultural.

Uma resposta para “Convite ao olhar”.

  1. Um texto com a poesia e a inquietude da doce Iara… meu olhar é de encantamento diante da tua escrita.

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