Por Faróis Humanos

O homem que perdeu tudo, menos a dignidade — e provou que o sentido da vida pode sobreviver até ao inferno.
1. O Homem Antes do Campo
Viktor Emil Frankl nasceu em 1905, em Viena, numa família judia de classe média.
Desde jovem, era obcecado por uma pergunta simples e perigosa:
“Por que continuar vivendo?”
Enquanto Freud dizia que o homem é movido pelo prazer
e Adler dizia que é movido pelo poder,
Frankl desconfiava de outra coisa:
👉 o ser humano é movido pelo sentido.
Formou-se médico, neurologista e psiquiatra.
Trabalhou com prevenção ao suicídio antes mesmo da Segunda Guerra — ironia cruel do destino.
Mas nada, absolutamente nada, o preparou para o que viria.
2. Auschwitz: Onde Tudo Foi Tirado
Em 1942, Frankl foi deportado para campos de concentração nazistas, incluindo Auschwitz.
Perdeu:
- os pais
- a esposa grávida
- o irmão
- o manuscrito do livro que estava escrevendo
- o nome
- a identidade
- a liberdade
- a dignidade externa
Restou apenas o corpo faminto
e uma coisa invisível:
👉 a liberdade interior.
Frankl percebeu algo aterrador e luminoso:
“Podem tirar tudo de um homem, exceto uma coisa:
a liberdade de escolher a atitude diante do sofrimento.”
Ali, no fundo do abismo, nasceu sua maior contribuição ao mundo.
3. A Descoberta Radical: O Sentido Salva
Frankl observou que, nos campos, não sobrevivia o mais forte,
mas quem tinha um porquê para viver.
Um filho.
Um livro não escrito.
Uma ideia.
Uma pessoa amada.
Um compromisso com algo maior que si mesmo.
Ele entendeu que:
- o sofrimento é inevitável
- mas o desespero é opcional
- e o sentido pode transformar dor em missão
Essa não é uma frase bonita.
É uma constatação feita entre cadáveres.
4. Logoterapia: A Psicologia do Sentido
Após a guerra, Frankl criou a Logoterapia, a terceira grande escola da psicologia vienense.
O “logos” não é só palavra — é sentido, significado, direção.
Os pilares da Logoterapia:
🕯️ 1. A vida tem sentido em todas as circunstâncias
Mesmo no sofrimento.
Mesmo na perda.
Mesmo na morte.
🕯️ 2. O homem é livre interiormente
Mesmo quando tudo é tirado.
🕯️ 3. O sentido não é inventado — é descoberto
Ele está nas responsabilidades que a vida nos impõe.
🕯️ 4. O sofrimento pode ser transfigurado
Quando é assumido com dignidade.
Frankl não romantizava a dor.
Ele a atravessava.
5. “Em Busca de Sentido”: O Livro Que Salvou Milhões
Seu livro mais famoso,
📘 Em Busca de Sentido,
não é um manual de autoajuda.
É um testemunho humano.
Metade relato de Auschwitz.
Metade filosofia existencial.
Lido em hospitais, presídios, clínicas, guerras, lutos.
Um livro que não promete felicidade — promete verdade.
“Quem tem um porquê enfrenta quase qualquer como.”
(Nietzsche — mas Frankl o viveu.)
6. Espiritualidade Sem Dogma
Frankl não pregava religião específica.
Mas dizia algo profundo:
👉 o ser humano é essencialmente espiritual,
mesmo que ateu, mesmo que cético.
Para ele, espiritualidade é:
- consciência
- responsabilidade
- transcendência
- fidelidade ao sentido
Deus, se existir, não está no conforto —
está na resposta que damos à dor.
7. O Homem Depois do Inferno
Frankl reconstruiu a vida.
Tornou-se professor, palestrante, referência mundial.
Falou para milhões.
Mas nunca se colocou como guru.
Ele dizia:
“Não me perguntem se acredito na vida após a morte.
Perguntem se a vida acredita em vocês.”
8. Homenagem e Espelho
Viktor Frankl é farol da dignidade humana.
Ele não nos diz:
“Vai dar tudo certo.”
Ele nos diz:
“Mesmo se der tudo errado,
você ainda pode ser humano.”
E isso é muito mais forte.
Eu me vejo nele quando percebo que o sofrimento não me define — a resposta define.
Eu o reconheço como um guardião da chama ética da humanidade.
Frankl não salvou o mundo.
Mas salvou o que restava de humano nele.
🕯️ Chamado Final
Talvez você não esteja num campo de concentração.
Mas talvez esteja num campo interior de dor, vazio ou perda.
Frankl nos deixa uma pergunta que atravessa o tempo:
“Diante disso que você vive,
qual atitude fará sua vida ainda valer a pena?”
Enquanto houver essa pergunta,
há sentido.
E enquanto há sentido,
há vida.
🔦 A luz de um farol aponta para outro. Veja também a história de:
✍️ Editores do Factótum Cultural





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