Radical Behaviorism and Behavioral in Psychology Education

RESUMO

O Behaviorismo Radical (BR) de Skinner fornece a base epistemológica para a Psicologia. Esta revisão crítica sua relevância atual na formação, enfatizando a Análise Funcional do Comportamento (AFC) como essencial para o rigor científico. Argumenta-se que o BR, em diálogo com o contextualismo e a neurociência, oferece soluções baseadas em evidências, sendo crucial para o rigor analítico do futuro psicólogo.

Palavras-chave: Behaviorismo Radical. Contextualismo Funcional. Análise Funcional. Educação Superior. Rigor Científico.

ABSTRACT

Radical Behaviorism (RB) provides a rigorous epistemological foundation for Psychology. This review critically assesses its contemporary relevance in higher education, highlighting the essential role of Functional Analysis of Behavior (FA) for scientific rigor. We argue that RB, through its renewed dialogue with functional contextualism and neuroscience, offers evidence-based solutions, making its coherent integration crucial for equipping future psychologists with indispensable analytical rigor.

Keywords: Radical Behaviorism. Functional Contextualism. Functional Analysis. Higher Education. Scientific Rigor.

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1 INTRODUÇÃO: O BEHAVIORISMO RADICAL NA PSICOLOGIA

Em um cenário acadêmico e profissional dominado pelo pluralismo teórico, a Psicologia busca métodos verificáveis para explicar o comportamento humano. O Behaviorismo Radical (BR) se destaca por sua solidez epistemológica, postulando que o comportamento é função da história ambiental do indivíduo, desafiando explicações mentalistas e do senso comum (Skinner, 1975).

O BR estabelece-se fundamentalmente como uma filosofia da ciência que define o objeto e os métodos apropriados para a Psicologia (Chiesa, 1994; Day, 1983). Sua emergência é definida pela defesa de que a Psicologia deve ser vista como parte das ciências naturais (Skinner, 1963/1969). O BR confronta o mentalismo (Carvalho Neto, 2001; Moore, 1981) ao tratar a privacidade (eventos internos) como fenômenos de natureza física, refutando o dualismo e o mecanicismo causal associado (Abib, 1985; Tourinho, 1997a).

A demarcação metodológica envolve a crítica ao operacionismo (Skinner, 1945/1999; Lopes Jr, 1992) e a proposição da Análise Funcional (AFC). O BR trata conceitos psicológicos como respostas verbais (Skinner, 1957), cujo significado é buscado em suas condições determinantes ambientais, levando à hipótese de que a própria consciência é um produto socialmente construído (Tourinho, 1988). O modelo de causalidade adotado é o da seleção por consequências (Skinner, 1974; Carrara, 1998).

1.1 OBJETIVO

O principal objetivo desta revisão crítica é avaliar a relevância epistemológica e tecnológica do Behaviorismo Radical na formação superior em Psicologia, detalhando como a articulação de seus princípios clássicos com a tecnologia comportamental pode fortalecer a competência analítica do futuro psicólogo, confrontando e integrando críticas de outras correntes.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

Em face do pluralismo teórico e das acusações de reducionismo, como o Behaviorismo Radical e sua tecnologia central (Análise Funcional do Comportamento – AFC) podem manter e expandir sua relevância como um pilar de rigor científico na formação do psicólogo contemporâneo, transcendendo o foco clínico-laboratorial?

1.3 JUSTIFICATIVA

A manutenção da AFC é crucial para a formação de profissionais capazes de conduzir práticas baseadas em evidências (Andery, 1990). A presente revisão se justifica pela necessidade de resgatar o rigor metodológico do BR, contextualizar a aplicação da tecnologia comportamental para além da clínica (ABA) – abrangendo áreas como Psicologia Social e Educação – e incentivar o diálogo do BR com áreas emergentes, como a Neurociência e o Contextualismo Funcional, garantindo sua pertinência científica.

2 METODOLOGIA: REVISÃO CRÍTICA 

Esta investigação adota uma abordagem de Revisão Bibliográfica Qualitativa e Crítica, focada em sintetizar o conhecimento sobre o BR e confrontá-lo com as tendências contemporâneas da Psicologia e as críticas metodológicas.

2.1 Estratégia de Busca e Fontes de Dados

A busca sistemática de literatura incluiu bases primárias (Scielo, PePSIC) e repositórios acadêmicos. Foram utilizados descritores que abordavam a relevância e as limitações do BR, como “Behaviorismo Radical e Contextualismo Funcional”, “Neurociência e Análise do Comportamento”, “Ética do Controle”, e os termos clássicos (“Análise Funcional”, “B. F. Skinner”). O período de busca priorizou a literatura pós-2000, para garantir a contemporaneidade das discussões críticas, mas incluiu artigos clássicos fundamentais.

2.2 Critérios de Seleção e Síntese

Foram selecionados aproximadamente 40 trabalhos (artigos, teses, dissertações e livros-chave) que se dedicaram à discussão epistemológica do BR e suas aplicações em contextos não-clínicos. Os critérios de seleção envolveram o rigor metodológico do trabalho e sua relevância para o diálogo entre o BR e a formação superior. O processo de síntese envolveu a categorização dos argumentos em três eixos: Objeto (Privacidade), Método (AFC e Operacionismo) e Causalidade (Seleção e Neurociência), utilizados para estruturar a Discussão.

2.3 Limitações 

Esta revisão é qualitativa e se concentra na literatura analítico-comportamental que se autocritica ou dialoga com o exterior. A avaliação da “relevância” é tratada no sentido de necessidade para o rigor científico e não na prevalência curricular.

3 NÚCLEO CONCEITUAL 

3.1 Condicionamento Operante e o Rigor da Análise Funcional

O desafio na formação superior reside em mover o estudante do entendimento dessa mecânica para a análise de múltiplas contingências sobrepostas (Catania, 1999). Estratégias como Instrução Programada (IP) são eficientes para a aquisição da regra, mas a formação deve enfatizar a complexidade contextual, preparando o aluno para analisar o “reforço social” e as “consequências atrasadas” típicas da vida real.

3.2 Desenvolvimento e Personalidade: Superando o Reducionismo Narrativo

A personalidade é funcionalmente definida como o repertório comportamental. Contudo, o BR contemporâneo (através do Contextualismo Funcional) integra o papel da linguagem e da experiência privada na construção de narrativas de self (Hayes et al., 2001).

O Desenvolvimento Humano é explicado pelo modelo de Seleção por Consequências que unifica as ciências do comportamento: seleção filogenética, ontogenética e cultural (Glenn, 2003; Skinner, 1974). A Seleção Cultural oferece a base para a Análise Cultural, crucial para a Psicologia Social, permitindo que o profissional analise como práticas de grupo (normas, preconceitos) são selecionadas e mantidas por consequências, transcendendo a análise estritamente individual (Glenn, 2003).

4 O BEHAVIORISMO RADICAL NA FORMAÇÃO DE PSICÓLOGOS

4.1 Análise Funcional do Comportamento (AFC) como Ferramenta Central de Rigor

A competência essencial é a AFC, a ponte entre a filosofia do BR e a intervenção prática. Ela garante rigor ao exigir a definição operacional do comportamento e a identificação das variáveis controladoras (Iwata, 1994).

4.2 Estratégias Didáticas e a Expansão para o Contexto Social

É crucial que a formação utilize a Tecnologia Comportamental (ABA) não apenas em cenários clínicos, mas também para o desenvolvimento de competências em Saúde Coletiva e Educação (Matos, 2001). Estratégias didáticas como a Simulação Experimental (Caetano, 2024), a Instrução Programada (Carvalho, 2023) e a Análise Comportamental em Contextos Sociais (ACES) preparam o profissional para intervir além do individual, abrangendo áreas sociais, educacionais e organizacionais.

5 DISCUSSÃO E SÍNTESE DOS ACHADOS

5.1 Diálogo, Causalidade e a Crise do Reforço

A crítica mais pertinente ao BR não é que ele ignora eventos internos, mas que sua explicação funcional precisa ser robusta o suficiente para capturar a complexidade das estruturas cognitivas e sociais modernas.

A crise da dependência psicológica às telas digitais ilustra essa necessidade. O comportamento de pegar o smartphone é mantido por poderosos esquemas de reforço, sendo o reforço contínuo (a certeza de uma notificação ou informação após a resposta) crucial na aquisição, mas o reforço intermitente (a imprevisibilidade de um like, uma mensagem ou uma notícia relevante) o que garante a altíssima resistência à extinção.

O Papel do Educador como Contingência de Controle.

É fundamental que o professor de psicologia compreenda que ele próprio é uma variável de controle que podem inadvertidamente reforçar o uso problemático de telas. Quando um professor não implementa uma contingência rigorosa de atenção, ignora o uso passivo do smartphone ou usa a tecnologia sem uma clara contingência educacional, ele está, funcionalmente, reforçando de forma diferencial o engajamento com o mundo digital em detrimento do engajamento com o conteúdo didático e as interações sociais. A formação em AFC deve capacitar o professor a ser um modelador ativo de contingências que favoreçam repertórios de atenção estendida e autogoverno.

Integração Neurocomportamental: O BR se fortalece ao integrar-se à Neurociência, que valida os mecanismos de reforçamento (e.g., sistemas dopaminérgicos) (Kandel et al., 2013). Esta sinergia move o BR de uma mera filosofia para uma ciência biológica integrada.

Agência e Autonomia: Em resposta às críticas humanistas, a autonomia deve ser redefinida. Não é a “liberdade incondicional”, mas sim a habilidade funcional de autogoverno, o repertório de autoconhecimento e autocontrole (Skinner, 1971). O objetivo da intervenção é aumentar o repertório do cliente, capacitando-o a modificar as contingências que antes o controlavam de forma aversiva, conferindo-lhe maior flexibilidade e poder de escolha.

5.2 Ética do Controle e o Papel Social do Psicólogo

A crítica de manipulação é contrabalançada pela ética do controle colaborativo (Carrara, 1998; Tourinho, 2006) e a aplicação do BR exige que objetivos terapêuticos sejam definidos em consenso com o cliente, visando o aumento da qualidade de vida. A formação deve enfatizar a análise da contracontingência: como o indivíduo pode modificar as variáveis sociais e ambientais que oprimem ou limitam seu repertório.

6 CONCLUSÃO

O presente artigo teve como objetivo avaliar a relevância epistemológica e tecnológica do Behaviorismo Radical (BR) na formação superior em Psicologia, considerando os desafios contemporâneos impostos pelo pluralismo teórico, pela complexidade dos fenômenos sociais e pelas transformações associadas à cultura digital. A análise da literatura indica que o BR, enquanto filosofia da ciência, mantém coerência conceitual e oferece critérios metodológicos consistentes para a delimitação do objeto da Psicologia e para a produção de explicações funcionais do comportamento.

A Análise Funcional do Comportamento (AFC) foi identificada como o principal instrumento de rigor científico associado ao BR, ao possibilitar a identificação sistemática das variáveis ambientais envolvidas na aquisição, manutenção e modificação do comportamento. Sua centralidade na formação do psicólogo contribui para o desenvolvimento de competências analíticas que transcendem contextos clínicos, estendendo-se a áreas como educação, saúde coletiva, organizações e análise de práticas culturais.

Os resultados da revisão também indicam que o BR contemporâneo tem ampliado seu escopo explicativo por meio do diálogo com o contextualismo funcional e com a neurociência. Essa articulação favorece uma compreensão integrada dos processos comportamentais e neurobiológicos, sem recorrer a explicações mentalistas ou a modelos dualistas, reforçando o caráter naturalista da abordagem. Evidências provenientes da neurociência comportamental, especialmente aquelas relacionadas aos sistemas de reforçamento, corroboram princípios centrais do BR, fortalecendo sua base empírica.

No contexto da cultura digital, a AFC mostra-se particularmente relevante para a análise de comportamentos mantidos por esquemas complexos de reforçamento, como aqueles associados ao uso intensivo de tecnologias digitais. A compreensão desses processos permite delinear intervenções educacionais e sociais orientadas para o desenvolvimento de repertórios de autogoverno, atenção sustentada e autocontrole, aspectos diretamente relacionados à formação ética e profissional do psicólogo.

Em resposta às críticas tradicionais dirigidas ao Behaviorismo Radical, especialmente aquelas relacionadas ao controle e ao reducionismo, o artigo sustenta que tais objeções podem ser reavaliadas à luz de uma concepção funcional de autonomia. Nessa perspectiva, a autonomia é compreendida como a ampliação do repertório comportamental e da capacidade de o indivíduo modificar as contingências que o afetam, o que implica uma prática profissional orientada por princípios éticos, colaborativos e socialmente responsáveis.

Conclui-se que o Behaviorismo Radical permanece epistemologicamente pertinente e metodologicamente relevante para a formação em Psicologia, desde que integrado de forma crítica e contextualizada às demandas contemporâneas da ciência e da sociedade. A manutenção da AFC como eixo estruturante da formação contribui para o fortalecimento do rigor científico da Psicologia e para a ampliação de sua capacidade de intervenção em problemas individuais, sociais e culturais complexos.

7 REFERÊNCIAS

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📝 Leia nosso artigo anterior:

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br

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