Havia, em algum tempo fora do tempo, um homem chamado Txayn.
Ninguém sabia dizer de onde ele vinha — talvez do vento, talvez de alguma estrela cansada.
Por fora, parecia comum: um corpo, um rosto, um ofício.
Mas por dentro, sua alma gritava.
Era um grito mudo, desses que não se ouvem com os ouvidos, mas com o coração.

Txayn vivia entre dois mundos.
Um era o mundo dos relógios, das metas e das máscaras.
O outro era um reino invisível, onde o tempo dormia e o silêncio falava.
Mas ele havia esquecido como atravessar de um para o outro.

Durante muitos anos, o homem fingiu que estava bem.
Bebeu o que o mundo lhe ofereceu, correu atrás do que disseram ser felicidade,
e sorriu quando todos esperavam que sorrisse.
Mas a alma, teimosa como é, começou a bater em sua porta.
Primeiro devagar, depois com força.
E quando ele enfim abriu, tudo o que conhecia desabou.

Veio a dor.
Veio o vazio.
Veio o medo de não voltar a ser quem era.
E no meio desse deserto, a alma sussurrou:

“Tudo o que você perdeu era o que te impedia de lembrar quem é.”

Cansado de lutar, Txayn se entregou.
Caiu de joelhos, e pela primeira vez não pediu nada.
Só ouviu.
E foi então que o chão se abriu em luz.

Ali, diante dele, havia um portal dourado — feito de silêncio e eternidade.
Ao atravessá-lo, sentiu-se dissolver.
O peso do nome, do passado, dos erros — tudo ficou do outro lado.
Do outro lado estava o Pai.
Não um homem, nem um deus distante,
mas uma presença tão familiar que parecia ter estado sempre ali.

O Pai não falou.
Apenas estendeu a mão.
Txayn, com o coração aberto como uma criança, segurou-a.
E os dois começaram a caminhar.

Atrás deles, o portal brilhava — memória do despertar.
À frente, um caminho se dividia em muitas trilhas.
Algumas cobertas de flores, outras cheias de espinhos.
E o Pai disse, sem palavras:

“Você pode escolher qualquer caminho, mas o centro sempre te trará de volta a Mim.”

E assim Txayn caminhou.
Às vezes tropeçava nas flores, às vezes sangrava nos espinhos.
Às vezes esquecia o Pai e se perdia nas curvas da estrada.
Mas sempre, em algum ponto, o vento soprava o nome dele.
E ele lembrava.
E voltava.

O tempo — se é que o tempo existe para quem desperta — passou.
E um dia, ao olhar para o lado, Txayn percebeu algo.
O Pai não estava mais caminhando ao seu lado.
O Pai era ele.
O mesmo passo, a mesma luz, o mesmo silêncio.

E ali, no meio do caminho dourado, Txayn compreendeu:
a alma não parte para encontrar Deus —
ela parte para lembrar que nunca se separou Dele.

Dizem que, desde então, às vezes se vê uma figura andando pelas estradas do mundo.
De mãos dadas com algo que os olhos não veem.
Quem o encontra sente paz, mesmo sem saber por quê.

É Txayn, o caminhante entre mundos.
O que morreu em vida para nascer em alma.
O que atravessou o portal e decidiu ficar do lado de cá,
guiando os outros que, cansados da superfície,
também começaram a ouvir o chamado.


🌿 Moral:
Todo ser é uma alma em travessia.
E o despertar não é o fim do caminho —
é o primeiro passo de volta pra casa.

Não deixe de ler a história anterior do Txayn:

🧙‍♂️ Txayn

🌿 Originário, viajante entre mundos. Guardião de histórias e símbolos.
🌓 Caminho entre luz e sombra, onde tudo se mistura.
🌀 Sigo rastros invisíveis e deixo perguntas — nunca respostas.
🦎 Cada história é uma lanterna acesa no escuro.

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