Acordei hoje com essa pergunta atravessada no peito, como se fosse um boleto vencido da vida:
Quem tá no controle dessa porra toda?

Olhei pela janela. Nada.
Só o vizinho andando em círculos com o cachorro que claramente já entendeu mais sobre o universo do que ele.
Olhei pro celular. Lá estava o Instagram tentando me convencer de que a resposta estava num vídeo de 30 segundos de um coach sem camisa.
“Você precisa vibrar na frequência do sucesso, irmão.”
Desliguei.

Caminhei até a cozinha.
Abri a geladeira: meia cebola, um limão deprimido e um restinho de água que tinha gosto de abandono.
O mundo parecia fora do lugar. E eu… dentro dele.

Passei o café e me sentei com a pretensão de responder a pergunta:
Quem controla o mundo?
Porque claramente não sou eu. Se fosse, a humanidade já teria siesta obrigatória às 14h, pizza toda segunda e orgasmo garantido por decreto.

Alguns diriam: “Ah, é o governo!”
Mas governo mal consegue aprovar uma lei sem antes brigar igual criança em festa de aniversário.
Outros dizem: “É o capitalismo!”
Sim, claro. Mas ele é um sistema, não uma pessoa. E sistemas são como minhocas: se você corta, elas se multiplicam.

E aí tem os bilionários, os banqueiros, as fundações misteriosas com nomes em latim.
Tem a BlackRock, a Vanguard, a Amazon que ouve suas conversas pelo microfone do controle remoto.
Tem o Elon Musk querendo implantar chip no seu crânio e mandar seu tédio para Marte.

Mas o pior, meu amigo, é que talvez o mundo seja controlado por algo ainda mais silencioso e escroto:
o algoritmo.
Sim.
Esse deus moderno que decide o que você vai desejar hoje, o que vai te dar gatilho, quem você deve seguir, o que você deve comprar pra se sentir menos um fracasso e, se tudo falhar, te entrega um Reels de gato tocando piano.

E tem mais: a Elite Z.
Você nunca ouviu falar, mas ela tá aí.
É a elite que te oferece pílulas para dormir, calmantes para sentir menos, distrações para pensar menos, e um plano odontológico que só cobre 20% de um dente que você nunca vai poder consertar.

Enquanto isso, você segue…
Numa espécie de transe coletivo.
Um sono acordado.
Uma simulação onde o chefe do RH é o Oráculo da Matrix, e seu antidepressivo chama-se “promoção imperdível de 48 horas”.

Mas eis que no meio desse torpor, algo dentro de você desperta.
Um enjoo. Uma indignação. Uma vontade de sair correndo pelado pela rua gritando:
“EU QUERO A VERDADE, CARALHO!”

Mas logo vem uma notificação.
E você esquece.

Porque a verdade dá trabalho.
E o mundo… ele segue sendo controlado não por quem tem mais poder, mas por quem controla o que você sente.
E você sente medo, desejo, culpa, carência.

E isso, meu caro…
Dá um lucro do caralho.


Não deixe de ler nosso texto anterior:

E não se esqueça: segunda, nossa coluna “Escrever para Não Enlouquecer” traz humor para os dias difíceis. Sábado a gente fala sério — mas só porque o universo exige equilíbrio.

Neemias Moretti Prudente é escritor, advogado, filósofo cômico, professor místico e editor-chefe do Factótum Cultural.

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