E se o mundo ao seu redor não passasse de um jogo cósmico rodando em um supercomputador? A ideia pode soar como ficção científica, mas cada vez mais filósofos e cientistas investigam a hipótese de que a realidade em que acreditamos não seja “real”.

A hipótese da simulação, defendida por pensadores como Nick Bostrom, sugere que o universo poderia ser apenas uma cópia criada por seres mais avançados. De falhas na Matrix a pistas da física quântica, descubra os argumentos que alimentam uma das teorias mais intrigantes do nosso tempo.

Imagine-se como um personagem de Minecraft: você coleta recursos, constrói casas e luta contra monstros, até que um dia percebe que não passa do avatar de alguém controlando tudo de fora. Essa é a essência da hipótese da simulação, uma ideia que há séculos intriga filósofos e que hoje também desperta o interesse da ciência.

Filosofia antiga, dúvida moderna

Muito antes da invenção dos videogames, pensadores como Platão, Descartes ou Zhuang Zhou já questionavam se a realidade não seria apenas uma ilusão ou um sonho. Em 2003, o filósofo de Oxford Nick Bostrom atualizou esse dilema ao publicar o ensaio Are You Living in a Computer Simulation? – “Você está vivendo em uma simulação?”.

Bostrom sugeriu que poderíamos ser NPCs (personagens não jogáveis) em um universo artificial criado por uma civilização tecnologicamente superior. E foi além: e se esses criadores também vivessem em uma simulação, dentro de outra, e assim por diante? Uma série de “realidades aninhadas”, como bonecas russas infinitas.

O argumento estatístico

O raciocínio de Bostrom é simples: se uma civilização pós-humana tivesse poder computacional suficiente, poderia criar inúmeras simulações. Nesse cenário, só existiria uma “realidade base” e infinitas cópias virtuais. Estatisticamente, seria muito mais provável estarmos em uma simulação do que na realidade original.

Alguns estudos chegaram a calcular que a chance de estarmos em uma simulação é próxima de 50%. A ironia? O próprio artigo de Bostrom seria, nesse caso, apenas mais uma parte do programa.

Procurando falhas na Matrix

Mas como provar algo assim? Houman Owhadi, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, ressalta que, se a simulação fosse perfeita e com poder de processamento infinito, jamais notaríamos as diferenças. No entanto, se nossos “programadores” têm recursos limitados, precisariam usar atalhos, como acontece em videogames e simulações de computador.

Esses atalhos poderiam deixar rastros: paradoxos ou irregularidades detectáveis em experimentos de física quântica ou observações cosmológicas. Um exemplo seria a possibilidade de o espaço-tempo ser discreto, funcionando em “pedaços” e não de forma contínua – algo semelhante aos pixels de uma tela. Se isso fosse comprovado, seria como espiar o código do jogo.

Um mundo só para você

Outra hipótese é ainda mais inquietante: talvez não seja necessário simular todo o universo. Para economizar energia e recursos, bastaria recriar apenas a realidade que você percebe. Nesse modelo, tudo o que você vê – este artigo, eu e até as pessoas ao seu redor – não passaria de uma ilusão programada para a sua mente.

Assim, cada indivíduo viveria em uma “bolha de simulação” própria, interagindo apenas com o que os criadores consideram relevante para sua experiência.

Ilusão ou realidade?

No fim, a hipótese da simulação permanece como uma mistura de especulação filosófica e investigação científica. Talvez nunca consigamos provar que vivemos em um programa de computador. Mas a simples possibilidade já nos obriga a refletir sobre a natureza da realidade e o que significa “existir”.

Afinal, se estivermos mesmo em uma simulação, cada dúvida, cada artigo e cada leitura também fariam parte desse grande jogo cósmico.

[ Fonte: The Conversation ]

Giz Modo. 14.9.2025.

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