Em busca de sentido – Viktor E. Frankl

Existem livros que passam; outros ficam. E há aqueles que, como cicatriz, marcam para sempre quem os lê. Em Busca de Sentido, de Viktor E. Frankl, pertence a essa última categoria. Não é apenas um relato de um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial. É um mergulho radical no que significa ser humano quando tudo foi arrancado: família, casa, profissão, futuro.

Frankl era psiquiatra em Viena quando foi deportado para os campos de concentração nazistas. Perdeu a esposa, os pais, quase todos os amigos. Viveu na pele a degradação que transforma homens em números, reduzindo a existência a pão duro e trabalho forçado. Mas, em meio ao horror, percebeu algo que mudaria para sempre a psicologia moderna: quem conseguia encontrar um sentido — por menor que fosse — tinha mais chances de sobreviver.

O livro se divide em duas partes. A primeira é o testemunho. Frankl descreve a vida nos campos com precisão e sensibilidade, mostrando como alguns prisioneiros, mesmo no limite da fome e da violência, encontravam força ao pensar em alguém amado, em uma tarefa ainda inacabada, em um futuro possível. Lembra-se, por exemplo, de sentir a presença da esposa perdida ao olhar para o pôr do sol atrás das cercas: naquele instante, não importava o frio ou os guardas; havia um porquê que lhe sustentava.

A segunda parte apresenta a logoterapia, abordagem criada por ele. Diferente de Freud, que via o homem movido pela busca do prazer, e de Adler, que falava em vontade de poder, Frankl coloca no centro a vontade de sentido. Segundo ele, não vivemos para ser felizes — vivemos para responder a um chamado que a vida nos faz a cada dia. Esse chamado pode ser um trabalho, um amor, uma responsabilidade. Pode ser até o modo como enfrentamos a dor. Mesmo no sofrimento, há liberdade: a liberdade de escolher a atitude diante do inevitável.

Ler Em Busca de Sentido hoje é mais do que um exercício intelectual; é um soco no estômago do nosso vazio contemporâneo. Em um tempo de hiperconsumo, pressa e ansiedade, Frankl nos lembra que felicidade não se persegue, mas acontece como consequência de viver um propósito. Quem tenta agarrá-la diretamente acaba frustrado; quem se dedica a algo maior do que si mesmo descobre que a vida já é suficiente.

O estilo de Frankl é sóbrio e ao mesmo tempo carregado de poesia. Não há melodrama em suas páginas, mas firmeza. Ele não romantiza o sofrimento, nem o idealiza: apenas diz que, se não podemos evitá-lo, podemos escolher dar-lhe um sentido. Essa é a virada. Sofrer por nada é desespero. Sofrer por amor, por fidelidade a um valor, por uma obra que ainda precisa ser escrita — isso é dignidade.

Em Busca de Sentido é, portanto, ao mesmo tempo memorial, manual de psicologia e livro espiritual. Não importa sua fé, sua ideologia ou sua profissão: ao lê-lo, você se verá diante da pergunta essencial — qual é o meu porquê?. E talvez seja justamente essa a grandeza do livro: não dar respostas prontas, mas lançar a pergunta de volta ao leitor, como quem entrega uma tocha e diz: “Agora é com você.”

No fim, Frankl nos recorda que a vida nunca perde sentido. Mesmo nas piores circunstâncias, sempre resta algo que só nós podemos responder. Essa exigência, por mais dura que seja, é também a nossa salvação. Ler esse livro é reencontrar não apenas a história de um homem, mas a possibilidade de resgatar o que nos faz humanos: a coragem de viver com sentido.

Saiba mais ou adquira o livro:

📚 Cada livro é um feitiço. Se abriu este, talvez queira decifrar também:

✍️ Editores do Factótum Cultural

Deixe um comentário

Tendência