Entre Vidas, Sonhos e Plantas Sagradas: A Jornada que me Trouxe de Volta

Há um silêncio que atravessa séculos. Ele está guardado no sangue, escondido nas células, nos ossos, nas histórias não contadas que nossos avós levaram para o túmulo. Esse silêncio é também um peso — e, às vezes, uma ferida aberta que não sabemos de onde veio.

A Psicologia Ancestral, o Xamanismo e os Rituais de Cura não são modismos espirituais para decorar o ego; são caminhos antigos, milenares, que nos ensinam a escutar esse silêncio e a decifrar o que ele quer nos dizer. São mapas para voltar para casa — mas não para a casa de tijolos, e sim para o lar que existe dentro de nós, onde habita nossa essência.


Psicologia Ancestral: As Vozes que Herdamos

A Psicologia Ancestral nos lembra que não começamos do zero. Antes de nós, houve guerras, fome, violência, perdas e milagres. Houve mulheres que enterraram filhos, homens que cruzaram oceanos, crianças que sobreviveram ao que parecia impossível.
Essas experiências não morrem com eles. Elas se transformam em marcas invisíveis que carregamos no corpo e na alma — memórias que não lembramos conscientemente, mas que nos moldam.

A ciência moderna chama isso de epigenética: traumas e experiências capazes de alterar a expressão dos nossos genes. A sabedoria indígena já sabia disso muito antes de qualquer microscópio. Eles chamam de espírito da linhagem.

Se repetimos padrões — de dor, de escolha, de fuga — não é apenas porque “erramos de novo”, mas porque carregamos fios que vêm de longe. E curar-se é, também, libertar toda uma fila de rostos atrás de nós.


Xamanismo: A Arte de Caminhar Entre Mundos

O xamanismo é uma ponte entre o visível e o invisível.
O xamã não é um curandeiro folclórico, mas um guardião de caminhos. Ele sabe que a realidade não é plana — ela é feita de camadas, e é possível atravessá-las.

Através de cantos, danças, tambores, jejuns e plantas de poder, o xamã acessa dimensões que a mente racional ignora, mas que a alma reconhece. Ele sabe falar a língua dos elementos, dos animais, dos espíritos, e sabe que cada doença física é também um sintoma espiritual.

No xamanismo, cura e espírito são inseparáveis.
A doença é um desequilíbrio; a cura, uma reconexão. Não existe cura verdadeira sem que corpo, mente e alma sejam chamados à mesma fogueira.


Rituais de Cura: Onde o Tempo se Dobra

Um ritual é mais do que um ato simbólico — é um espaço onde o tempo deixa de existir.
Pode ser um banho de ervas à luz da lua, um círculo de fogo no coração da mata, uma noite de canto e tambor, ou uma cerimônia de Ayahuasca. São portais criados para que a transformação aconteça, não pela força, mas pela entrega.

No ritual, você se despe do personagem que veste todos os dias. Entra como filho da sua história, mas sai como guardião do seu destino.
Ali, o invisível se torna palpável: lágrimas limpam feridas antigas, visões trazem respostas, cantos resgatam memórias, e o corpo se lembra do que a mente esqueceu.


Minha Jornada: O Vazio, a Queda e o Retorno

Minha busca não começou como uma aventura espiritual — começou como um grito por socorro.
Houve um tempo em que eu estava afundado: depressão, ansiedade, insônia, abuso de álcool e Zolpidem. Vivia fugindo de mim, anestesiando a dor que não sabia nomear. Um vazio profundo me acompanhava como sombra.

Eu pensava que era apenas “minha história”, mas no fundo carregava dores que vinham de antes de mim: minha linhagem indígena marcada por violência, minhas raízes atravessadas por silêncios, minha infância ferida pela dureza da vida.
Eu estava repetindo, sem saber, as dores e fugas que outros antes de mim também viveram.

Foi a Ayahuasca que me abriu a primeira porta.
Naquele ritual, não vi apenas cores e visões — vi minha infância, meus ancestrais, vi a corrente de padrões que se repetiam. E, mais importante, vi que não era condenado a segui-los para sempre.
A partir dali, iniciei um caminho: a Psicologia Ancestral para compreender, o Xamanismo para dialogar com o invisível, e Rituais de Cura para limpar e alinhar minha energia.

Não foi rápido. Não foi fácil.
Mas cada ritual, cada reza, cada silêncio na mata foi me devolvendo pedaços que eu nem sabia que tinha perdido. Hoje sei que ainda caminho na espiral da cura, mas já não caminho perdido — caminho consciente.


O Chamado

Se você sente um peso que não entende, um vazio que nada preenche, ou percebe padrões que insistem em se repetir na sua vida, talvez o que você carrega não seja só seu.
Talvez seja o eco de vozes antigas pedindo para serem ouvidas.

A Psicologia Ancestral, o Xamanismo e os Rituais de Cura não são atalhos, mas portas. E cada porta aberta não cura apenas você, mas também aqueles que vieram antes — e os que virão depois.

Se sentir que é hora de atravessar essa porta, estou aqui. Não para fazer o caminho por você, mas para caminhar ao seu lado.

Haux!


Podemos dizer que minha jornada por Psicologia Ancestral, Xamanismo e Rituais de Cura dialoga diretamente com reflexões que já compartilhei em textos como O sangue que me trouxe até aqui: uma homenagem aos povos originários, onde reconheço a força e a sabedoria que herdei de minhas raízes indígenas, e também com O Dia em Que Fui Iniciado, relato cru e visceral da minha primeira imersão em um ritual sagrado, que abriu as portas para compreender que a cura verdadeira exige entrega, desconstrução e coragem para atravessar o próprio abismo.


⚡ Neemias Moretti Prudente é escritor, advogado, filósofo, professor e editor-chefe do Factótum Cultural.

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