Chorar não te faz menos homem. Mas esconder a dor pode te fazer menos vivo.

Sim, é sobre isso que vamos falar hoje, mesmo que muitos homens já estejam com vontade de fechar a aba, abrir o YouTube e assistir a um tutorial sobre “como fazer o motor do Opala 1978 roncar mais alto”. Mas aguenta aí, que essa conversa é sobre você — ou sobre aquele amigo que vive irritado, sumido, bebendo demais e respondendo “tô de boa” quando claramente não está.

Depressão Masculina: O Sofrimento Silencioso e Viril

O nome técnico é bonito: “depressão encoberta”.
O nome real é: aquela sensação de que a vida perdeu a graça, mas você nem sabe como dizer isso, então prefere xingar no trânsito, descarregar na academia, aumentar a cerveja e diminuir as palavras.

Homens são ótimos nisso: escondem a dor com raiva, sexo compulsivo, álcool e maratonas de séries onde ninguém precisa falar de sentimentos.

Mas, veja bem: não é porque você não fala que ela deixa de existir.
Depressão masculina é traiçoeira porque se disfarça de “vida normal”. Afinal, quem vai desconfiar que aquele cara trabalhador, que nunca chora e só se irrita um pouquinho demais, está, na verdade, gritando silenciosamente por dentro?

Ferramentas Clássicas (Aquelas Que Você Já Ouviu, Mas Nunca Tentou)

Terapia? “Não preciso, sou homem, me viro sozinho.”
Psiquiatra? “Que nada, vou é tomar uma dose.”
Remédio? “Isso é coisa de fraco, eu só preciso de férias…”
(Ah, e elas nunca chegam.)

Pois é. As ferramentas clássicas estão aí, funcionam, e deveriam ser usadas sem vergonha.

  • Psicoterapia ajuda a nomear o que você sente (sim, esse nó na garganta tem nome).
  • Medicação pode equilibrar a química que você não controla com vontade.
  • Exercício, sono e alimentação regulam o humor mais que aquele churrasco de domingo.

Mas… e quando isso tudo não é suficiente? Quando o buraco é mais embaixo, ou mais acima, quem sabe no plano espiritual?

Ferramentas Espirituais: Quando Nem a Maromba Resolve

Aqui entra um combo que muitos desprezam até o dia em que a vida os obriga: espiritualidade e autoconhecimento.

Não, não estou falando de virar monge no Tibete (embora… quem sabe?).
Estou falando de:

Meditação:
Sim, sentar em silêncio, com a própria respiração, pode ser mais assustador que encarar a sogra.
Mas, acredite: funciona.
Ajuda a perceber que você não é seus pensamentos, tampouco seu histórico de boletos atrasados.

Silêncio:
Ficar quieto não é só “não falar”: é ouvir o que tem dentro, o que você nunca deixou emergir.
Aquele menino ferido, aquele pai que você não perdoou, aquele amor que não soube viver.

Natureza:
A floresta não te julga, nem pergunta quantos gols você fez na pelada.
Ela só existe.
Caminhar na mata, ouvir pássaros, olhar para um rio: tudo isso cura de um jeito que a medicina ainda não consegue embalar em cápsulas.

Ayahuasca, Psilocibina e afins:
Claro, com responsabilidade e contexto ritual.
Não é para “curtir uma brisa”, mas para abrir portais da alma que você sequer imaginava.
Já aviso: não é confortável, mas é transformador.

Autoconhecimento: O Espelho Que Você Evita

A grande pergunta não é “como sair da depressão?”, mas:
“Quem sou eu quando não estou ocupado fingindo que sou forte?”

Autoconhecimento é isso:

  • perceber que você não é só o papel de provedor;
  • que chorar não te faz menos homem;
  • que sentir é humano — e, pasme, pode até melhorar sua vida sexual (sim, eu sabia que esse argumento te convenceria).

A Noite Escura da Alma: Mais Comum Que Você Imagina

Místicos chamam de “noite escura da alma”. Outros chamam de “o fundo do poço”.
Tanto faz o nome: é aquele momento em que nada mais faz sentido, e nem o futebol salva.

Mas eis a boa notícia: a noite escura não é o fim, é só o convite para parar de correr atrás de soluções externas e, finalmente, olhar para dentro.
Não é derrota. É o começo de uma vida mais autêntica.

E Quando Procurar Ajuda?

Agora.
Sim, agora.
Se você leu até aqui, parabéns, já é um sinal de que sua alma está gritando mais alto que seu ego.

Procurar ajuda não é fraqueza.
Fraqueza é não fazer nada e deixar a dor consumir sua vida, suas relações, sua saúde e, às vezes, sua existência.

Como Fecho Esse Texto?

Assim:
Se você está passando por isso, ou conhece alguém que está, saiba que não está sozinho.

Nem todo mundo vai entender, muitos vão julgar, outros não vão ajudar… mas fique firme. Eu já passei por isso – e sigo a jornada.
E mais: eu já desci até andares que nem Jung imaginou.

E estou aqui, escrevendo esse texto, vivendo, respirando e, quem diria, até rindo de mim mesmo.

Se quiser ajuda, uma conversa, uma indicação ou só alguém que não julga, me chame.

A vida pode ser mais leve. E, sim, tem um caminho para a ‘cura’, por meio da consciência.

Quer entender por que o Ego é só um estagiário emocionado tentando ser Deus… e como isso tem tudo a ver com uma caverna escura, os ensinamentos dos Kogi e a sua própria vida? Escrevi sobre isso com aquele humor ácido, mas cheio de alma.

Para saber mais, indico o livroNão Quero Falar Sobre Isso: Como Superar o Legado da Depressão Masculina


Toda segunda, nossa coluna “Escrever para Não Enlouquecer” traz humor para os dias difíceis. Sábado a gente fala sério — mas só porque o universo exige equilíbrio.

⚡ Neemias Moretti Prudente é escritor, advogado, filósofo, professor e editor-chefe do Factótum Cultural. Se perdeu entre os livros, os filmes, os boletos e os rituais de Ayahuasca. Escreve para não enlouquecer — e às vezes enlouquece para escrever melhor.

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