Por Adriano Nicolau da Silva

1 – Resumo
O Transtorno da Personalidade Narcisista (TPN) é definido por um padrão de grandeza, anseio por admiração e ausência de empatia. Pessoas com (TPN) costumam resistir à psicoterapia, o que pode ser justificado por uma variedade de elementos cognitivos, emocionais e interpessoais. Este artigo explora as razões pelas quais essas pessoas podem ser resistentes ao tratamento, enfatizando a perspectiva cognitiva.
Descritores: terapia cognitiva; transtorno narcisista; resistência à psicoterapia. Abstract
Narcissistic Personality Disorder (TPN) is defined by a pattern of grandeur, longing for admiration, and an absence of empathy. People with (TPN) often resist psychotherapy, which can be justified by a variety of cognitive, emotional, and interpersonal elements. This article explores the reasons why these people may be resistant to treatment, emphasizing the cognitive perspective.
Keywords: cognitive therapy; narcissistic disorder; Resistance to psychotherapy.
2 – Introdução
Psicoterapeutas alegam que existe um desafio enorme ao acompanhar clinicamente pessoas com o Transtorno da Personalidade Narcisista (TPN). Na história da psicoterapia, nunca se falou tanto no (TPN). A busca por uma aparência atraente nas interações sociais estimula o comportamento de culto ao corpo ou exaltação do ego, visando conquistar elogios. Este fenômeno poderia estar relacionado às transformações aceleradas, como fenômenos tecnológicos, às mídias sociais, ou numa explicação da predisposição biopsicossocial em pessoas com traço narcisista.
Na psicologia, o narcisismo é um conceito criado por Sigmund Freud que indica o amor excessivo de uma pessoa por si mesma e, principalmente, por sua própria imagem. Na literatura científica, existe uma crítica acirrada em relação à conceituação do transtorno narcisista. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV, o transtorno é caracterizado por sentimentos exagerados de autoimportância, uma necessidade excessiva de admiração e uma falta de compreensão dos sentimentos dos outros. Na minha percepção, vejo nessas pacientes uma carência afetiva envolvida com a solidão, necessitando criar uma narrativa para dar sentido à sua existência. As pessoas afetadas muitas vezes passam muito tempo pensando em alcançar poder, sucesso ou sobre a sua aparência. Eles, muitas vezes, se aproveitam das pessoas a seu redor. O comportamento normalmente começa na idade adulta e ocorre numa variedade de situações. [1]
O transtorno de personalidade narcisista é raramente o principal motivo para as pessoas que procuram tratamento de saúde mental. Quando as pessoas com (TPN) entram no tratamento, isso é tipicamente provocado por dificuldades de vida ou para buscar alívio para outra desordem, como o transtorno depressivo maior, distúrbio por uso de substâncias, transtorno bipolar ou transtornos alimentares. A resistência à psicoterapia em indivíduos com (TNP) pode ser explicada por vários fatores cognitivos, entre eles: as crenças centrais, distorções do self e dos outros e a ideia de que são superiores e não precisam de ajuda. Outro elemento importante são as defesas cognitivas, como a negação, racionalização e projeção, dificultando o enfrentamento das vulnerabilidades, reforçando a interpretação dos feedbacks negativos como ameaça à autoimagem.
Isto é em parte porque os indivíduos com (TPN) geralmente têm um mau insight e falham em reconhecer que a sua percepção e comportamento são inadequados e problemáticos devido à sua autoimagem muito positiva. [2]
3 – DSM-5
A formulação do Transtorno de personalidade narcisista no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, (DSM-IV-TR) da Associação Americana de Psiquiatria foi criticada por não descrever o alcance e a complexidade do transtorno. Os críticos disseram que se concentra excessivamente em “padrões interpessoais externos, sintomáticos ou sociais do indivíduo narcisista, à custa de complexidade interna e sofrimento individual”, o que argumentaram ter reduzido a utilidade clínica da formulação. [3]
4 – Epidemiologia
A prevalência ao longo da vida de (TPN) é estimada em 1% na população geral e 2% a 16% em populações clínicas. Uma revisão sistemática de 2010 encontrou que a prevalência de (TPN) está entre 0% e 6% em amostras comunitárias. Há uma pequena diferença de gênero, o (TPN) tem incidência ligeiramente maior entre homens do que em mulheres. De acordo com uma meta-análise de 2015 que analisou as diferenças de gênero no (TPN), recentemente houve um debate sobre um aumento percebido na prevalência do (TPN) entre as gerações mais jovens e entre as mulheres. No entanto, os autores descobriram que isso não se refletiu nos dados, que a prevalência permaneceu relativamente estável para ambos os sexos nos últimos 30 anos (quando os dados sobre o transtorno foram coletados pela primeira vez). [4]
5 – Sinais e sintomas
As pessoas com transtorno de personalidade narcisista são caracterizadas por grandiosidade persistente, necessidade excessiva de admiração e falta de empatia para com outros. Esses indivíduos, geralmente, apresentam arrogância, um sentimento de superioridade, e comportamentos de busca por poder.[8] O transtorno de personalidade narcisista difere ao ter um forte senso de autoconfiança; valorizam-se e ignoram os sentimentos e desejos dos outros e esperam ser tratados como superiores, independentemente de status ou conquistas reais. [6][9], Além disso, as pessoas com (TPN) podem exibir egos frágeis, uma incapacidade de tolerar a crítica e uma tendência a desprezar quem está próximo, na tentativa de validar a sua própria superioridade.[9]
Conforme o DSM-5, pessoas com o (TPN) exibem a maioria ou todos os comportamentos a seguir: [6][9][10]
1. Grandiosidade com expectativas de tratamento superior aos outros; 2. Fixação por fantasias de poder, sucesso, inteligência, atratividade, etc. ;
3. Autopercepção de ser único, superior e associado a pessoas e instituições de alto status.
4. Necessidade constante de admiração pelos outros;
5. Senso de direito a tratamento especial e a obediência de outros; 6. Exploração de outros para obter ganho pessoal;
7. Desinteresse em simpatizar com os sentimentos, desejos ou necessidades dos outros.
8. Intensamente invejoso dos outros e a crença de que outros também têm inveja deles.
9. Atitude arrogante.
Um fator importante que colabora para a dificuldade dos diagnósticos é que a patologia acontece frequentemente de forma concomitante com outros transtornos de personalidade do tipo dramático. [5,6]
6 – Comorbidade
O (TPN) apresenta uma elevada taxa de comorbidade com outros distúrbios psicológicos. Indivíduos com (TPN) tendem a ter episódios de depressão, frequentemente atendendo aos critérios para transtornos coexistentes. Ademais, o (TPN) está ligado a transtornos bipolares, anorexia e problemas relacionados ao uso de substâncias, particularmente a cocaína. A Personalidade Narcisista pode se relacionar com o transtorno histriônico, borderline, antissocial e paranoico. [7]
7 – CAUSAS
Geralmente, os especialistas seguem um modelo biopsicossocial de causalidade, o que indica que uma combinação de fatores ambientais, sociais, genéticos e neurobiológicos pode desempenhar um papel. No contexto de estímulo, podemos identificar sinais de veneração ou críticas que prejudicam o desenvolvimento integral da personalidade da criança. Também é crucial considerar a genética, que representa as características herdadas, intensificando o traço de personalidade, e a neurobiologia, que liga o cérebro ao pensamento e ao comportamento. [8]
8 – Tratamento
A psicoterapia baseada em evidências oferece chances reais de mudança comportamental ao tratar os padrões de pensamentos disfuncionais que surgem das crenças profundas na personalidade. É crucial compreender os estímulos que provocam distorções cognitivas, incentivando a revisão de pensamentos automáticos e repetitivos, além de promover uma perspectiva mais realista dos acontecimentos. Nas sessões de psicoterapia cognitiva, é importante enfatizar atividades que estimulem a empatia e a compreensão das emoções decorrentes de comportamentos passados que, possivelmente, influenciaram a construção da personalidade narcisista.
Segundo Beck, a terapia cognitiva comportamental pode ser empregada no tratamento de diversos problemas psiquiátricos e psicológicos, incluindo o transtorno de personalidade narcisista, cujo comportamento característico é:
As explosões de autoconfiança decorrentes de uma competição bem-sucedida são intensificadas por sentimentos de superioridade, bem-estar, aprovação cultural, avaliação de valor e status, e, possivelmente, recompensas materiais. No entanto, também podem resultar em uma obsessão pelas consequências de uma eventual falha na competição pelo próprio valor. (Kernis, 2005). [10] [11]
As técnicas de reestruturação emocional, aliadas à assertividade, ajudarão a promover a empatia nas interações interpessoais, reduzindo a alienação social frequentemente associada ao narcisismo, favorecendo relações mais harmoniosas e duradouras. É notório que pessoas com perfil de personalidade (TPN) tendem a não buscar ajuda psicológica. Geralmente, quando procuram, a queixa está relacionada a um grave transtorno depressivo, distúrbio por uso de drogas, transtorno bipolar ou questões alimentares. Isso acontece em parte porque indivíduos com (TPN) tendem a ter uma perspectiva negativa e não percebem que as suas atitudes e comportamentos são inadequados e problemáticos devido à sua autopercepção excessivamente otimista. [9]
9 – Conclusão
A resistência à terapia em indivíduos com Transtorno Narcisista da Personalidade é uma questão complexa que pode ser analisada de maneira mais eficaz utilizando a abordagem cognitiva. É fundamental reconhecer e abordar os fatores emocionais e comportamentais que sustentam essa resistência para melhorar a eficácia do tratamento e promover mudanças significativas. Creio que adquirir competências para entender a história emocional do paciente nos ajudará a enxergar a pessoa além do narcisismo e das suas defesas psicológicas. Sabe-se que a personalidade narcisista se caracteriza por um complexo de autoimagem elevada e uma necessidade contínua de atrair a atenção alheia. É crucial entender que, embora apresente resistência à psicoterapia inconscientemente, temendo se expor, a sua verdadeira força se encontra na expectativa de obter apoio e na necessidade de não se sentir ameaçado por críticas que afetam a sua autoimagem.
Portanto, como psicoterapeutas, temos a responsabilidade de proporcionar a expectativa de mudança nas crenças e pensamentos, para que estes administrem as demandas da realidade social que apresenta desafios em várias dimensões. A terapia cognitiva pode auxiliar o paciente a descobrir novos horizontes desvendados durante o tratamento, fomentando uma identidade individual que favorece novas descobertas de um eu em constante transformação saudável.
Referências
1. Narcissistic personality disorder. Arquivado em8 de janeiro de 2010, noWayback Machine. Diagnostic and Statistical Manual of Mental DisordersFourth edition Text Revision (DSM-IV-TR)American Psychiatric Association(2000).
2. Caligor, E.; Levy, KN.; Yeomans, FE (2015). Narcissistic personality disorder: diagnostic and clinical challenges. He American Journal of Psychiatry. 172(5): 415–22.
3. Narcissistic personality disorder. Arquivado em8 de janeiro de 2010, noWayback Machine. Diagnostic and Statistical Manual of Mental DisordersFourth edition Text Revision (DSM-IV-TR)American Psychiatric Association(2000).
4. Ronningstam E (2010). Narcissistic personality disorder: a current review. Curr Psychiatry Rep. 12(1): 68–75.
5. Groopman, Leonard C. M.D. Cooper, Arnold M. M.D. (2006). Narcissistic Personality Disorde. Personality Disorders – Narcissistic Personality Disorder. Armenian Medical Network.
6. American Psychiatric Association (2013), Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed.), ISBN0890425558, Arlington: American Psychiatric Publishing, pp. 669–672
7. Ronningstam, Elsa (2016), New Insights Into Narcissistic Personality Disorder, Psychiatric Times, 33 (2): 11.
8. Paris, Joel (2014), Modernity and narcissistic personality disorder, Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment, 5(2): 220, doi: 10.1037/a0028580 (em inglês)
9. Paris, Joel (2014), Modernity and narcissistic personality disorder, Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment,5(2): 220, doi:10.1037/a0028580 (em inglês)
10. Beck, A. T. (2011). Cognitive Therapy of Personality Disorders. New York: Guilford Press.
11. Kernis, M. H. (2005). Measuring self‐esteem in context: The importance of stability of self‐ esteem in psychological functioning. Journal of personality, 73(6), 1569-1605.





