1 – Resumo 

O Transtorno da Personalidade Narcisista (TPN) é definido por um padrão de  grandeza, anseio por admiração e ausência de empatia. Pessoas com (TPN)  costumam resistir à psicoterapia, o que pode ser justificado por uma variedade  de elementos cognitivos, emocionais e interpessoais. Este artigo explora as  razões pelas quais essas pessoas podem ser resistentes ao tratamento,  enfatizando a perspectiva cognitiva. 

Descritores: terapia cognitiva; transtorno narcisista; resistência à psicoterapia. Abstract 

Narcissistic Personality Disorder (TPN) is defined by a pattern of grandeur,  longing for admiration, and an absence of empathy. People with (TPN) often  resist psychotherapy, which can be justified by a variety of cognitive, emotional,  and interpersonal elements. This article explores the reasons why these people  may be resistant to treatment, emphasizing the cognitive perspective. 

Keywords: cognitive therapy; narcissistic disorder; Resistance to  psychotherapy. 

2 – Introdução 

Psicoterapeutas alegam que existe um desafio enorme ao acompanhar  clinicamente pessoas com o Transtorno da Personalidade Narcisista (TPN). Na  história da psicoterapia, nunca se falou tanto no (TPN). A busca por uma  aparência atraente nas interações sociais estimula o comportamento de culto ao  corpo ou exaltação do ego, visando conquistar elogios. Este fenômeno poderia  estar relacionado às transformações aceleradas, como fenômenos tecnológicos,  às mídias sociais, ou numa explicação da predisposição biopsicossocial em  pessoas com traço narcisista. 

Na psicologia, o narcisismo é um conceito criado por Sigmund Freud que  indica o amor excessivo de uma pessoa por si mesma e, principalmente, por sua própria imagem. Na literatura científica, existe uma crítica acirrada em relação à  conceituação do transtorno narcisista. Segundo o Manual Diagnóstico e  Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV, o transtorno é caracterizado por  sentimentos exagerados de autoimportância, uma necessidade excessiva de  admiração e uma falta de compreensão dos sentimentos dos outros. Na minha  percepção, vejo nessas pacientes uma carência afetiva envolvida com a solidão,  necessitando criar uma narrativa para dar sentido à sua existência. As pessoas  afetadas muitas vezes passam muito tempo pensando em alcançar poder,  sucesso ou sobre a sua aparência. Eles, muitas vezes, se aproveitam das  pessoas a seu redor. O comportamento normalmente começa na idade adulta e  ocorre numa variedade de situações. [1] 

O transtorno de personalidade narcisista é raramente o principal motivo  para as pessoas que procuram tratamento de saúde mental. Quando as pessoas  com (TPN) entram no tratamento, isso é tipicamente provocado por dificuldades  de vida ou para buscar alívio para outra desordem, como o transtorno depressivo  maior, distúrbio por uso de substâncias, transtorno bipolar ou transtornos alimentares. A resistência à psicoterapia em indivíduos com (TNP) pode ser  explicada por vários fatores cognitivos, entre eles: as crenças centrais,  distorções do self e dos outros e a ideia de que são superiores e não precisam  de ajuda. Outro elemento importante são as defesas cognitivas, como a  negação, racionalização e projeção, dificultando o enfrentamento das  vulnerabilidades, reforçando a interpretação dos feedbacks negativos como  ameaça à autoimagem. 

Isto é em parte porque os indivíduos com (TPN) geralmente têm um mau  insight e falham em reconhecer que a sua percepção e comportamento são  inadequados e problemáticos devido à sua autoimagem muito positiva. [2] 

3 – DSM-5 

A formulação do Transtorno de personalidade narcisista no Diagnostic  and Statistical Manual of Mental Disorders, (DSM-IV-TR) da Associação  Americana de Psiquiatria foi criticada por não descrever o alcance e a  complexidade do transtorno. Os críticos disseram que se concentra  excessivamente em “padrões interpessoais externos, sintomáticos ou sociais do  indivíduo narcisista, à custa de complexidade interna e sofrimento individual”, o  que argumentaram ter reduzido a utilidade clínica da formulação. [3] 

4 – Epidemiologia 

A prevalência ao longo da vida de (TPN) é estimada em 1% na população  geral e 2% a 16% em populações clínicas. Uma revisão sistemática de 2010  encontrou que a prevalência de (TPN) está entre 0% e 6% em amostras  comunitárias. Há uma pequena diferença de gênero, o (TPN) tem incidência  ligeiramente maior entre homens do que em mulheres. De acordo com uma  meta-análise de 2015 que analisou as diferenças de gênero no (TPN),  recentemente houve um debate sobre um aumento percebido na prevalência do  (TPN) entre as gerações mais jovens e entre as mulheres. No entanto, os autores descobriram que isso não se refletiu nos dados, que a prevalência permaneceu  relativamente estável para ambos os sexos nos últimos 30 anos (quando os  dados sobre o transtorno foram coletados pela primeira vez). [4] 

5 – Sinais e sintomas 

As pessoas com transtorno de personalidade narcisista são  caracterizadas por grandiosidade persistente, necessidade excessiva de  admiração e falta de empatia para com outros. Esses indivíduos, geralmente,  apresentam arrogância, um sentimento de superioridade, e comportamentos de  busca por poder.[8] O transtorno de personalidade narcisista difere ao ter um  forte senso de autoconfiança; valorizam-se e ignoram os sentimentos e desejos  dos outros e esperam ser tratados como superiores, independentemente  de status ou conquistas reais. [6][9], Além disso, as pessoas com (TPN) podem  exibir egos frágeis, uma incapacidade de tolerar a crítica e uma tendência a  desprezar quem está próximo, na tentativa de validar a sua própria  superioridade.[9] 

Conforme o DSM-5, pessoas com o (TPN) exibem a maioria ou todos os  comportamentos a seguir: [6][9][10] 

1. Grandiosidade com expectativas de tratamento superior aos outros; 2. Fixação por fantasias de poder, sucesso, inteligência, atratividade, etc. ; 

3. Autopercepção de ser único, superior e associado a pessoas e instituições  de alto status

4. Necessidade constante de admiração pelos outros; 

5. Senso de direito a tratamento especial e a obediência de outros; 6. Exploração de outros para obter ganho pessoal; 

7. Desinteresse em simpatizar com os sentimentos, desejos ou necessidades  dos outros. 

8. Intensamente invejoso dos outros e a crença de que outros também têm  inveja deles. 

9. Atitude arrogante. 

Um fator importante que colabora para a dificuldade dos diagnósticos é  que a patologia acontece frequentemente de forma concomitante com outros  transtornos de personalidade do tipo dramático. [5,6] 

6 – Comorbidade 

O (TPN) apresenta uma elevada taxa de comorbidade com outros  distúrbios psicológicos. Indivíduos com (TPN) tendem a ter episódios de  depressão, frequentemente atendendo aos critérios para transtornos  coexistentes. Ademais, o (TPN) está ligado a transtornos bipolares, anorexia e  problemas relacionados ao uso de substâncias, particularmente a cocaína. A Personalidade Narcisista pode se relacionar com o transtorno histriônico,  borderline, antissocial e paranoico. [7] 

7 – CAUSAS 

Geralmente, os especialistas seguem um modelo biopsicossocial de  causalidade, o que indica que uma combinação de fatores ambientais, sociais,  genéticos e neurobiológicos pode desempenhar um papel. No contexto de  estímulo, podemos identificar sinais de veneração ou críticas que prejudicam o  desenvolvimento integral da personalidade da criança. Também é crucial  considerar a genética, que representa as características herdadas,  intensificando o traço de personalidade, e a neurobiologia, que liga o cérebro ao  pensamento e ao comportamento. [8] 

8 – Tratamento 

A psicoterapia baseada em evidências oferece chances reais de mudança  comportamental ao tratar os padrões de pensamentos disfuncionais que surgem  das crenças profundas na personalidade. É crucial compreender os estímulos  que provocam distorções cognitivas, incentivando a revisão de pensamentos  automáticos e repetitivos, além de promover uma perspectiva mais realista dos  acontecimentos. Nas sessões de psicoterapia cognitiva, é importante enfatizar  atividades que estimulem a empatia e a compreensão das emoções decorrentes  de comportamentos passados que, possivelmente, influenciaram a construção  da personalidade narcisista.  

Segundo Beck, a terapia cognitiva comportamental pode ser empregada  no tratamento de diversos problemas psiquiátricos e psicológicos, incluindo o  transtorno de personalidade narcisista, cujo comportamento característico é:  

As explosões de autoconfiança decorrentes de uma  competição bem-sucedida são intensificadas por sentimentos de  superioridade, bem-estar, aprovação cultural, avaliação de valor e  status, e, possivelmente, recompensas materiais. No entanto,  também podem resultar em uma obsessão pelas consequências de  uma eventual falha na competição pelo próprio valor. (Kernis, 2005). [10] [11] 

As técnicas de reestruturação emocional, aliadas à assertividade,  ajudarão a promover a empatia nas interações interpessoais, reduzindo a  alienação social frequentemente associada ao narcisismo, favorecendo relações  mais harmoniosas e duradouras. É notório que pessoas com perfil de  personalidade (TPN) tendem a não buscar ajuda psicológica. Geralmente,  quando procuram, a queixa está relacionada a um grave transtorno depressivo,  distúrbio por uso de drogas, transtorno bipolar ou questões alimentares. Isso  acontece em parte porque indivíduos com (TPN) tendem a ter uma perspectiva negativa e não percebem que as suas atitudes e comportamentos são  inadequados e problemáticos devido à sua autopercepção excessivamente  otimista. [9] 

9 – Conclusão 

A resistência à terapia em indivíduos com Transtorno Narcisista da  Personalidade é uma questão complexa que pode ser analisada de maneira mais  eficaz utilizando a abordagem cognitiva. É fundamental reconhecer e abordar os  fatores emocionais e comportamentais que sustentam essa resistência para  melhorar a eficácia do tratamento e promover mudanças significativas. Creio que  adquirir competências para entender a história emocional do paciente nos  ajudará a enxergar a pessoa além do narcisismo e das suas defesas  psicológicas. Sabe-se que a personalidade narcisista se caracteriza por um  complexo de autoimagem elevada e uma necessidade contínua de atrair a  atenção alheia. É crucial entender que, embora apresente resistência à  psicoterapia inconscientemente, temendo se expor, a sua verdadeira força se  encontra na expectativa de obter apoio e na necessidade de não se sentir  ameaçado por críticas que afetam a sua autoimagem. 

Portanto, como psicoterapeutas, temos a responsabilidade de  proporcionar a expectativa de mudança nas crenças e pensamentos, para que  estes administrem as demandas da realidade social que apresenta desafios em  várias dimensões. A terapia cognitiva pode auxiliar o paciente a descobrir novos  horizontes desvendados durante o tratamento, fomentando uma identidade  individual que favorece novas descobertas de um eu em constante  transformação saudável. 

Referências 

1. Narcissistic personality disorder. Arquivado em8 de janeiro de 2010,  noWayback Machine. Diagnostic and Statistical Manual of Mental  DisordersFourth edition Text Revision (DSM-IV-TR)American  Psychiatric Association(2000). 

2. Caligor, E.; Levy, KN.; Yeomans, FE (2015). Narcissistic personality  disorder: diagnostic and clinical challenges. He American Journal of  Psychiatry. 172(5): 415–22. 

3. Narcissistic personality disorder. Arquivado em8 de janeiro de 2010,  noWayback Machine. Diagnostic and Statistical Manual of Mental  DisordersFourth edition Text Revision (DSM-IV-TR)American  Psychiatric Association(2000). 

4. Ronningstam E (2010). Narcissistic personality disorder: a current  review. Curr Psychiatry Rep. 12(1): 68–75. 

5. Groopman, Leonard C. M.D. Cooper, Arnold M. M.D. (2006). Narcissistic  Personality Disorde. Personality Disorders – Narcissistic Personality  Disorder. Armenian Medical Network

6. American Psychiatric Association (2013), Diagnostic and Statistical  Manual of Mental Disorders (5th ed.), ISBN0890425558, Arlington:  American Psychiatric Publishing, pp. 669–672 

7. Ronningstam, Elsa (2016), New Insights Into Narcissistic Personality  Disorder, Psychiatric Times, 33 (2): 11. 

8. Paris, Joel (2014), Modernity and narcissistic personality disorder,  Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment, 5(2): 220, doi: 10.1037/a0028580 (em inglês) 

9. Paris, Joel (2014), Modernity and narcissistic personality disorder,  Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment,5(2): 220, doi:10.1037/a0028580 (em inglês) 

10. Beck, A. T. (2011). Cognitive Therapy of Personality Disorders. New  York: Guilford Press. 

11. Kernis, M. H. (2005). Measuring selfesteem in context: The  importance of stability of selfesteem in psychological functioning.  Journal of personality, 73(6), 1569-1605. 

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