Nosso início não acontece no momento do nascimento. Muito antes de darmos nosso primeiro suspiro, já estamos imersos em um universo de estímulos, emoções e influências dentro do ventre materno. A gestação não é apenas um processo biológico; é também uma experiência formativa que molda profundamente nossa estrutura psicológica e biológica.

Estudos da epigenética mostram que o ambiente emocional da mãe durante a gravidez impacta diretamente o desenvolvimento do bebê. O biólogo Bruce Lipton, um dos principais pesquisadores da epigenética, explica que os estados emocionais maternos afetam a expressão genética do feto, influenciando sua saúde física e emocional ao longo da vida. As emoções que a mãe vivencia – sejam de amor e segurança ou de medo e ansiedade – criam um campo químico e energético que influencia a forma como a criança perceberá o mundo ao longo da vida. A maneira como nos sentimos em relação a nós mesmos, nossa autoestima e até mesmo padrões de comportamento podem ter raízes nessa fase inicial.

Se a gestante experimenta estresse intenso ou sentimentos de rejeição, o bebê não apenas sente essas emoções, mas também recebe descargas hormonais que podem programar seu sistema nervoso para um estado de alerta constante. Por outro lado, se a mãe experimenta alegria, tranquilidade e conexão, essas sensações criam um ambiente que favorece o desenvolvimento de uma base emocional mais segura para a criança.

Eu mesmo carrego marcas desse período. Minha mãe passou por momentos difíceis durante a gravidez, enfrentando desafios emocionais e incertezas que, de alguma forma, foram transmitidos para mim. Desde pequeno, carreguei uma sensação inexplicável de inquietação, como se algo estivesse em constante estado de alerta dentro de mim. A ansiedade, o medo e uma sensação de vazio e desajuste no mundo pareciam fazer parte da minha essência sem que eu compreendesse exatamente o porquê. Só mais tarde, ao mergulhar no autoconhecimento, percebi que esses sentimentos podiam ter raízes muito mais profundas do que imaginava.

É interessante perceber como essas influências podem nos acompanhar em ciclos repetitivos ao longo da vida. Muitas inseguranças, traumas, ansiedades, depressões e dificuldades nos relacionamentos podem estar profundamente enraizadas nesse período primal da existência. No entanto, a boa notícia é que a neuroplasticidade do cérebro nos permite ressignificar essa história. O passado não é uma sentença irrevogável. Com autoconhecimento e práticas terapêuticas, podemos reconfigurar padrões herdados e nos tornarmos protagonistas de nossa própria jornada.

Esse conhecimento não deve gerar culpa, mas sim despertar a consciência. Como filhos, temos a oportunidade de compreender nossa própria trajetória com mais clareza. Como pais, podemos criar um ambiente mais acolhedor para as próximas gerações. Afinal, se cada nova vida carrega consigo as marcas do que foi vivido antes mesmo do nascimento, também carrega o potencial de transformação e cura.

A grande questão é: que história queremos contar daqui para frente?

Haux!

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