Por Tela Mística

O filme O Homem Invisível (2020), dirigido por Leigh Whannell, é um thriller psicológico que aborda de maneira impactante temas como abuso, manipulação e o efeito devastador do gaslighting na vida de uma vítima. Muito além de uma narrativa de suspense, o filme é um estudo poderoso sobre o abuso psicológico e as formas insidiosas de controle emocional que podem destruir a percepção da realidade de uma pessoa.
A Premissa do Filme
A trama segue Cecilia Kass (Elisabeth Moss), uma mulher que foge de um relacionamento abusivo com Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen), uma brilhante cientista que, por trás de sua fachada de sucesso, esconde um comportamento controlador e violento. Após sua fuga, Adrian aparentemente comete suicídio, mas acontecimentos estranhos levam Cecilia a suspeitar que ele encontrou uma maneira de continuar a atormentá-la, usando a invisibilidade como arma.
O que torna O Homem Invisível tão aterrorizante não é apenas o uso literal da invisibilidade, mas a forma como isso simboliza a natureza muitas vezes imperceptível do abuso psicológico. O filme leva o público a mergulhar na experiência de Cecilia, mostrando como ela é desacreditada por aqueles ao seu redor e como sua sanidade é questionada, mesmo quando ela tenta desesperadamente provar a verdade.
Gaslighting: O Abuso Invisível
No centro da narrativa é o gaslighting, uma forma de manipulação psicológica em que o abusador distorce a realidade da vítima, fazendo-a duvidar de seus próprios pensamentos, percepções e memórias. O vem termo da peça de teatro Gas Light (1938) e de sua adaptação cinematográfica, na qual um marido manipula sua esposa para que ela acredite que está perdendo a sanidade.
No filme, Adrian representa o gaslighter perfeito. Mesmo após sua “morte”, ele controla a vida de Cecília, manipulando os acontecimentos ao seu redor de forma tão sutil e cruel que as pessoas próximas a ela começam a questionar sua referência. Isso é típico do gaslighting: a vítima leva a acreditar que suas reações são exageradas ou irracionais, enquanto o abusador mantém o controle total.
Adrian não apenas se isola emocionalmente, mas também se coloca em situações onde suas ações são interpretadas como desequilíbrio mental, reforçando a desconfiança das pessoas ao redor. Esse padrão é comum em relações abusivas, onde o agressor busca invalidar a vítima e cortar seus laços de apoio.
O Impacto Psicológico do Gaslighting
O gaslighting tem efeitos devastadores sobre a saúde mental da vítima. No caso de Cecília, vemos o impacto do abuso se manifestar em crises de ansiedade, paranóia e isolamento. Essa manipulação psicológica a autoconfiança da vítima, que começa a duvidar de sua própria percepção da realidade. A luta de Cecilia para provar a existência de Adrian — e, por extensão, a verdade sobre o abuso que sofreu — é uma representação visceral da dificuldade que muitas vítimas enfrentam ao tentar se fazer ouvir e acreditar.
O filme também aborda como a sociedade muitas vezes falha no apoio às vítimas de abuso. Uma dúvida constante sobre a sanidade de Cecilia reflete como, na vida real, as vítimas do gaslighting frequentemente enfrentam descrição e julgamento. O sistema social e até jurídico, em muitos casos, tende a deslegitimar as experiências das vítimas, perpetuando o ciclo de abuso.
Uma Reflexão Sobre o Controle e o Poder
Adrian não é apenas invisível fisicamente; ele também simboliza o controle invisível que os abusadores exercem sobre suas vítimas. Ele conhece os medos e fragilidades de Cecília e os usa para continuar dominando-a, mesmo à distância. Isso reforça a ideia de que o abuso psicológico muitas vezes transcende o espaço físico, sendo interrompido por anos, mesmo após o término do relacionamento.
O filme nos convida a refletir sobre como o poder pode ser usado para manipular, intimidar e silenciar. Adrian é um cientista brilhante, rico e carismático, atributos que ele usa para mascarar seu comportamento abusivo. Essa dicotomia também está presente na vida real, onde muitos abusadores são figuras respeitadas publicamente, enquanto suas vítimas lutam para provar a verdade sobre o que acontece a portas fechadas.
O Triunfo de Cecília: Recuperando o Poder
No entanto, O Homem Invisível não é apenas uma história de sofrimento; é também uma narrativa de sobrevivência e empoderamento. A jornada de Cecília é marcada por sua luta para recuperar o controle de sua vida e expor a verdade. O final do filme, embora sombrio, é também um testemunho da força de uma mulher que se recusa a ser definida pelo abuso que sofreu.
O ato final de Cecilia mostra que, mesmo diante de um abusador aparentemente invencível, é possível encontrar força para resistir e superar. É um lembrete de que as vítimas de abuso podem, com apoio e determinação, reconstruir suas vidas e recuperar sua autonomia.
Conclusão
O Homem Invisível é mais do que um filme de suspense; é uma exploração profunda do impacto psicológico do abuso e do gaslighting. Ele coloca o espectador no lugar da vítima, oferecendo uma perspectiva visceral do que significa ser desacreditado e manipulado.
Para além do entretenimento, o filme nos convida a uma reflexão sobre como regularamos e lidamos com o abuso psicológico na sociedade. Ele nos desafia a acreditar nas vítimas, a questionar os padrões de poder e controle e a entender que, às vezes, o maior terror não é o que podemos ver, mas o que está escondido — tanto no invisível quanto no psicológico.
Se você ou alguém que conhece está passando por uma situação semelhante, é importante buscar ajuda. Existem profissionais e organizações especializadas que podem oferecer suporte e orientação para superar o abuso e encontrar segurança.

O Homem Invisível (The Invisible Man) – 2h05min – Fantasia, Terror, Suspense – 2020 – Direção: Leigh Whannell – Elenco: Elisabeth Moss
🎬 O filme não acabou — há sempre uma cena pós-créditos. Descubra-a em É Assim que Acaba, de Collen Hoover
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