O passar dos anos e a gente

À medida que o tempo passa, algumas coisas ganham um valor especial, como o alongamento diário e o silêncio, um bom chá e boa companhia. Combos que sempre foram bons, mas que, talvez, não fossem tão apreciados como agora.

Algo que contemplo mais: o cheiro das folhas depois da  chuva, por exemplo, o do manjericão. Aliás, em todo momento é bom apreciá-lo: manuseando-o para o preparo de uma refeição ou em um chá cítrico num dia frio. Manjericão é, de fato, uma planta amável.

Outra conquista a ser comemorada na vida adulta para além de três décadas: louça lavada, claro. “Pratos limpos” são metáfora de dignidade. O que é uma cozinha com cheiro de limpeza? Uma partícula de paz. 

Mais uma conquista na maturidade: a sensação de conforto que um breve cochilo entre uma cena e outra de um filme traz. Aquela dúvida ao despertar e o disfarce de que se está a par de tudo para não decepcionar a companhia – que, se for um adulto provavelmente também deve ter cochilado, mas se for uma criança deve ter provocado o despertar.

E outra dádiva não menos importante: véspera de feriado. 

Enfim, o esgotamento que os anos anteriores nos ocasiona em virtude da falsa ideia meritocrática que nos é imposta pela sociedade, desde a infância, nos fez perceber – não facilmente – o quanto descansar é valioso.

As decepções da vida fazem com que a gente passe a valorizar o que realmente nos faz bem: uma conversa leve, a xícara do chá preferido, uma taça de vinho, uma boa música, um poema, o cheirinho da nossa criança, o ombro de quem a gente ama ou qualquer momento em que a gente viva coisas boas.

Que o passar dos anos nos traga sensatez para perceber o que nos ocasiona de fato bem estar.

Boa vida!

Gisele Souza Gonçalves. Professora e Doutora pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Mãe. Colunista do Factótum Cultural.