I – Como funciona a intuição

A intuição está presente em todas as pessoas, seja para planejar um novo  projeto profissional, fazer uma viagem, redigir um texto ou simplesmente relaxar  e contemplar a natureza buscando inspiração. O termo intuição, originada do  latim intuitione, é definido nos dicionários como: presságio; percepção evidente  que, para ser compreendida pela mente, não requer raciocínio. Essa definição  também é destacada no dicionário FERREIRA (1986) como “conhecimento  instantâneo, que não necessita de raciocínio”. 

Há muito tempo que a questão da intuição desperta o interesse de  especialistas em diferentes áreas, desde a medicina até as ciências da mente e  do comportamento. Será que é possível que algum campo do conhecimento nos  forneça uma resposta clara sobre o verdadeiro significado da intuição? É sabido  que o cérebro humano é extremamente complexo e intrigante em todos os  aspectos, e mesmo com toda a tecnologia disponível ainda estamos  empenhados em estudar os cerca de 86 bilhões de neurônios, na esperança de  elucidar os processos da consciência, do raciocínio lógico e do pensamento  abstrato. 

Algumas pessoas têm a capacidade de pressentir fenômenos  inexplicáveis, como antecipar eventos ou ter insights inspiradores. A intuição, de  fato, é um recurso mental que oferece conforto e segurança nos momentos de  incerteza na vida. Em situações estressantes no trabalho ou ao tomar decisões  importantes, a intuição pode ser uma bússola para nos guiar pelos melhores  caminhos. Observo a criatividade andar de mãos dadas com a intuição e,  atualmente, devido às diversas distrações sensoriais e padrões de  comportamento, às vezes ela manifesta-se menos. A partir de vários relatos,  percebe-se que grandes conquistas pessoais e profissionais surgiram da prática  da intuição, como a formação de uma família, sucesso no trabalho,  gerenciamento das emoções e momentos de lazer e espontaneidade. A intuição pode até mesmo levar a prever o futuro, levando a pessoa a acreditar firmemente  que algo está por vir. 

A percepção pode ser uma ferramenta mental eficaz que, quando bem  aplicada, permite que a pessoa se destaque de maneira significativa na  autoaceitação e no planejamento de metas de curto e longo prazo, beneficiando se na hora de tomar decisões. Muitas vezes, pessoas com grande conhecimento  acadêmico mostram uma certa resistência em valorizar a sua própria criatividade  e percepção, alegando a falta de embasamento científico e acabam  negligenciando essa habilidade que, em momentos de descontração, manifesta se de forma natural. Por outro lado, mediante várias entrevistas realizadas em  consultório, foi observado que o desenvolvimento da percepção na vida pessoal  e profissional levou os indivíduos a considerarem novas possibilidades de  trajetórias, tornando-os mais perspicazes e ágeis na resolução de problemas,  além de promover uma comunicação mais espontânea e, assim, trazendo mais  sentido e eficácia para as decisões tomadas. 

A intuição faz parte do intelecto ativo, que reflete todas as coisas no  pensamento, permitindo assim a intuição intelectual. Esse intelecto é  abrangente, pois se iguala à totalidade dos intelectos pensados.  

Um recurso valioso para a intuição e a nossa habilidade de estar  plenamente conectado aos nossos sentidos. Ao iniciarmos um plano,  questionamos, será que tomamos decisões com base na razão, e não nas  emoções? Caso, sim, como isso interfere no nosso cotidiano? A intuição nos  leva a uma conexão profunda com as nossas experiências, sentimentos e nos  conduz ao terreno das emoções. Isso é nitidamente distinto do pensamento  lógico. A capacidade cognitiva foi aos poucos cedendo espaço para o  conhecimento e o conhecimento foi gradualmente sendo trocado pela  informação. É complexo lidar com circunstâncias não planejadas e procurar  soluções inovadoras, em vez de contar com um guia previamente criado para  solucionar problemas. Com frequência ignoramos as percepções sensoriais em  um ambiente já formado e preestabelecido. 

II – Comportamentos típicos de indivíduos com  habilidades intuitivas

Algumas pessoas, sem grande esforço de raciocínio, conseguem  perceber de maneira natural e espontânea o que é óbvio no cotidiano. Outra  característica observada em indivíduos intuitivos é a prática de algumas  habilidades, por exemplo, uma jogada genial no futebol ou o dom da eloquência,  como se o cérebro estivesse em piloto automático. Além disso, é possível  perceber o poder de visualização e criatividade de algumas pessoas com insights  frequentes sem uma justificativa lógica. 

Independentemente dos eventos externos ao ser humano, um aspecto a  ser considerado é a presença da função mental conhecida como “intuição”. Será  que grandes descobertas na história da humanidade e da ciência surgiram a  partir desse recurso mental? Essa questão, embora complexa, leva-nos a refletir  sobre a apreensão imediata da realidade e a espontaneidade que a intuição pode  proporcionar. Como Einstein disse uma vez, “Não há um caminho lógico para 

descobrir as leis do Universo – o único caminho é a intuição”. Outro aspecto  observável em pessoas intuitivas é a capacidade de meta-cognição, que envolve  a habilidade de conectar um pensamento a outro, sem recorrer a conceitos. A  intuição pode ser explicada de diversas formas, como mediante emoções,  raciocínio, experiências passadas, crenças religiosas ou o desejo de concretizar  algo, mas sempre diferindo do conhecimento embasado em evidências  científicas. 

Vejo que as atitudes das pessoas intuitivas podem estar relacionadas às  experiências em diferentes áreas que formam o conjunto completo de  conhecimento e as conexões cerebrais elétricas podem surgir de uma estrutura  intricada derivada de uma matriz intencional. Essas diversas associações podem  levar a respostas que vão além do racional, podendo ser interpretadas como  manifestações do subconsciente.  

Indivíduos capazes de se desligar do frenesi da vida e de potencializar a  intuição conseguem formar imagens mentais inspiradas, que vão além da  percepção linear de espaço e tempo. Ao longo da história da humanidade,  testemunhamos grandes descobertas e invenções feitas por pessoas intuitivas.  Espinoza afirmava que o conhecimento intuitivo é mais poderoso e valioso do  que a razão. 

A imersão da mente num estado intencional e relaxante diante de um  desafio, faz com que o cérebro entre no modo de funcionamento subconsciente, conectado a uma energia cósmica atemporal e local em busca de soluções. Um  exemplo disso é quando um pai sente algo estranho com o seu filho que está  longe de casa.  

Segundo o livro “Rápido e Devagar” de Daniel Kahneman, a mente pode  ser dividida em dois personagens fictícios: o sistema 1, que toma decisões  intuitivas, e o sistema 2, que demanda maior atenção concentrada. Quando nos  deparamos com informações simples que não exigem muita atenção, tendemos  a utilizar o sistema 1. O problema surge quando algumas pessoas, confiando  demais nas suas intuições, arriscam-se em grandes investimentos financeiros  sem ativarem o sistema 2, o julgamento racional, o que as colocam em risco de  perder tudo. 

Logo, podemos afirmar que a intuição desempenha um papel fundamental  no processo de adquirir novos conhecimentos, uma vez que permite estar  receptivo aos detalhes que podem resultar em importantes descobertas, tal como  o caso da penicilina, que só foi possível devido a uma série surpreendente de  eventos experimentais conduzidos por Alexander Fleming, um renomado  cientista na área de bacteriologia. A intuição auxilia na capacidade de raciocínio,  criação e imaginação de diferentes fenômenos, enquanto os métodos científicos nos possibilitam desenvolver leis e teorias por meio da experimentação,  antecipando acontecimentos e compreendendo o funcionamento das coisas de  maneira mais precisa. É notável como a intuição se alinha em nossas  experiências de vida.  

Você é intuitivo? A sua intuição é genuína ou está ligada aos  condicionamentos do meio social ou normatizações impostas pelo estado, pelas  instituições públicas ou privadas? 

“Eu nunca fiz uma das minhas descobertas através de um processo de  pensamento racional”. Albert Einstein 

III – Referências: 

KANEHMAN, Daniel. Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro:  Objetiva, 2012 .

FERREIRA, A.B. H., Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Editora Nova  Fronteira S.A., 2a edição, Rio de Janeiro 1986 p.963. 

MUNIZ, J. R. Intuição: um ensaio teórico. Inform. Psiquiatr., v.7, n.3, p. 99-104,  1988. 

EINSTEIN, A. – Revista Galileu no 161, dez. 2004, Editora Globo RJ.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.

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