
por Adriano Nicolau da Silva
I – Como funciona a intuição?
A intuição está presente em todas as pessoas, seja para planejar um novo projeto profissional, fazer uma viagem, redigir um texto ou simplesmente relaxar e contemplar a natureza buscando inspiração. O termo intuição, originada do latim intuitione, é definido nos dicionários como: presságio; percepção evidente que, para ser compreendida pela mente, não requer raciocínio. Essa definição também é destacada no dicionário FERREIRA (1986) como “conhecimento instantâneo, que não necessita de raciocínio”.
Há muito tempo que a questão da intuição desperta o interesse de especialistas em diferentes áreas, desde a medicina até as ciências da mente e do comportamento. Será que é possível que algum campo do conhecimento nos forneça uma resposta clara sobre o verdadeiro significado da intuição? É sabido que o cérebro humano é extremamente complexo e intrigante em todos os aspectos, e mesmo com toda a tecnologia disponível ainda estamos empenhados em estudar os cerca de 86 bilhões de neurônios, na esperança de elucidar os processos da consciência, do raciocínio lógico e do pensamento abstrato.
Algumas pessoas têm a capacidade de pressentir fenômenos inexplicáveis, como antecipar eventos ou ter insights inspiradores. A intuição, de fato, é um recurso mental que oferece conforto e segurança nos momentos de incerteza na vida. Em situações estressantes no trabalho ou ao tomar decisões importantes, a intuição pode ser uma bússola para nos guiar pelos melhores caminhos. Observo a criatividade andar de mãos dadas com a intuição e, atualmente, devido às diversas distrações sensoriais e padrões de comportamento, às vezes ela manifesta-se menos. A partir de vários relatos, percebe-se que grandes conquistas pessoais e profissionais surgiram da prática da intuição, como a formação de uma família, sucesso no trabalho, gerenciamento das emoções e momentos de lazer e espontaneidade. A intuição pode até mesmo levar a prever o futuro, levando a pessoa a acreditar firmemente que algo está por vir.
A percepção pode ser uma ferramenta mental eficaz que, quando bem aplicada, permite que a pessoa se destaque de maneira significativa na autoaceitação e no planejamento de metas de curto e longo prazo, beneficiando se na hora de tomar decisões. Muitas vezes, pessoas com grande conhecimento acadêmico mostram uma certa resistência em valorizar a sua própria criatividade e percepção, alegando a falta de embasamento científico e acabam negligenciando essa habilidade que, em momentos de descontração, manifesta se de forma natural. Por outro lado, mediante várias entrevistas realizadas em consultório, foi observado que o desenvolvimento da percepção na vida pessoal e profissional levou os indivíduos a considerarem novas possibilidades de trajetórias, tornando-os mais perspicazes e ágeis na resolução de problemas, além de promover uma comunicação mais espontânea e, assim, trazendo mais sentido e eficácia para as decisões tomadas.
A intuição faz parte do intelecto ativo, que reflete todas as coisas no pensamento, permitindo assim a intuição intelectual. Esse intelecto é abrangente, pois se iguala à totalidade dos intelectos pensados.
Um recurso valioso para a intuição e a nossa habilidade de estar plenamente conectado aos nossos sentidos. Ao iniciarmos um plano, questionamos, será que tomamos decisões com base na razão, e não nas emoções? Caso, sim, como isso interfere no nosso cotidiano? A intuição nos leva a uma conexão profunda com as nossas experiências, sentimentos e nos conduz ao terreno das emoções. Isso é nitidamente distinto do pensamento lógico. A capacidade cognitiva foi aos poucos cedendo espaço para o conhecimento e o conhecimento foi gradualmente sendo trocado pela informação. É complexo lidar com circunstâncias não planejadas e procurar soluções inovadoras, em vez de contar com um guia previamente criado para solucionar problemas. Com frequência ignoramos as percepções sensoriais em um ambiente já formado e preestabelecido.
II – Comportamentos típicos de indivíduos com habilidades intuitivas
Algumas pessoas, sem grande esforço de raciocínio, conseguem perceber de maneira natural e espontânea o que é óbvio no cotidiano. Outra característica observada em indivíduos intuitivos é a prática de algumas habilidades, por exemplo, uma jogada genial no futebol ou o dom da eloquência, como se o cérebro estivesse em piloto automático. Além disso, é possível perceber o poder de visualização e criatividade de algumas pessoas com insights frequentes sem uma justificativa lógica.
Independentemente dos eventos externos ao ser humano, um aspecto a ser considerado é a presença da função mental conhecida como “intuição”. Será que grandes descobertas na história da humanidade e da ciência surgiram a partir desse recurso mental? Essa questão, embora complexa, leva-nos a refletir sobre a apreensão imediata da realidade e a espontaneidade que a intuição pode proporcionar. Como Einstein disse uma vez, “Não há um caminho lógico para
descobrir as leis do Universo – o único caminho é a intuição”. Outro aspecto observável em pessoas intuitivas é a capacidade de meta-cognição, que envolve a habilidade de conectar um pensamento a outro, sem recorrer a conceitos. A intuição pode ser explicada de diversas formas, como mediante emoções, raciocínio, experiências passadas, crenças religiosas ou o desejo de concretizar algo, mas sempre diferindo do conhecimento embasado em evidências científicas.
Vejo que as atitudes das pessoas intuitivas podem estar relacionadas às experiências em diferentes áreas que formam o conjunto completo de conhecimento e as conexões cerebrais elétricas podem surgir de uma estrutura intricada derivada de uma matriz intencional. Essas diversas associações podem levar a respostas que vão além do racional, podendo ser interpretadas como manifestações do subconsciente.
Indivíduos capazes de se desligar do frenesi da vida e de potencializar a intuição conseguem formar imagens mentais inspiradas, que vão além da percepção linear de espaço e tempo. Ao longo da história da humanidade, testemunhamos grandes descobertas e invenções feitas por pessoas intuitivas. Espinoza afirmava que o conhecimento intuitivo é mais poderoso e valioso do que a razão.
A imersão da mente num estado intencional e relaxante diante de um desafio, faz com que o cérebro entre no modo de funcionamento subconsciente, conectado a uma energia cósmica atemporal e local em busca de soluções. Um exemplo disso é quando um pai sente algo estranho com o seu filho que está longe de casa.
Segundo o livro “Rápido e Devagar” de Daniel Kahneman, a mente pode ser dividida em dois personagens fictícios: o sistema 1, que toma decisões intuitivas, e o sistema 2, que demanda maior atenção concentrada. Quando nos deparamos com informações simples que não exigem muita atenção, tendemos a utilizar o sistema 1. O problema surge quando algumas pessoas, confiando demais nas suas intuições, arriscam-se em grandes investimentos financeiros sem ativarem o sistema 2, o julgamento racional, o que as colocam em risco de perder tudo.
Logo, podemos afirmar que a intuição desempenha um papel fundamental no processo de adquirir novos conhecimentos, uma vez que permite estar receptivo aos detalhes que podem resultar em importantes descobertas, tal como o caso da penicilina, que só foi possível devido a uma série surpreendente de eventos experimentais conduzidos por Alexander Fleming, um renomado cientista na área de bacteriologia. A intuição auxilia na capacidade de raciocínio, criação e imaginação de diferentes fenômenos, enquanto os métodos científicos nos possibilitam desenvolver leis e teorias por meio da experimentação, antecipando acontecimentos e compreendendo o funcionamento das coisas de maneira mais precisa. É notável como a intuição se alinha em nossas experiências de vida.
Você é intuitivo? A sua intuição é genuína ou está ligada aos condicionamentos do meio social ou normatizações impostas pelo estado, pelas instituições públicas ou privadas?
“Eu nunca fiz uma das minhas descobertas através de um processo de pensamento racional”. Albert Einstein
III – Referências:
KANEHMAN, Daniel. Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012 .
FERREIRA, A.B. H., Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira S.A., 2a edição, Rio de Janeiro 1986 p.963.
MUNIZ, J. R. Intuição: um ensaio teórico. Inform. Psiquiatr., v.7, n.3, p. 99-104, 1988.
EINSTEIN, A. – Revista Galileu no 161, dez. 2004, Editora Globo RJ.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.
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