por Adriano Nicolau da Silva

A autonomia é o princípio básico da ciência contemporânea, com as suas normas, regras, leis e métodos comparados com outras maneiras de conhecer, como a filosofia, teologia, política e a religião. A competência faz parte da ciência e em muitos momentos, o cientista busca amparo na fé para seguir com o seu trabalho com paixão e imparcialmente. Entretanto, a reflexão é: como Kant poderá contribuir de forma significativa para as nossas juventudes que se encontram angustiadas frente aos seus deveres e direitos humanos?
Segundo Kant, influenciar a ética e a moral com a religião é postura inteligente e o jovem que consegue aderir ao sagrado terá, como princípio básico, as regras sociais essenciais para a vida coletiva.
A transcendência para Kant é tão importante quanto a sua capacidade de influenciar os jovens na atualidade. A religião para ele se faz necessária sob o império da razão, por ser responsável pelas regras morais, essenciais para a vida social. Podemos considerar Kant como um sucessor de Descartes, visto que a razão é a premissa básica para os dois, pois, o discurso racional deverá justificar a totalidade da religião e a partir do iluminismo, tornou-se a expressão máxima do pensamento científico.
Como se dá o conhecimento para Kant? Envolve as questões, transcendentes e tais conceitos se referem à maneira como as informações recebidas de fora do sujeito são percebidos pelos sentidos, sendo transformados em objetos conhecidos.
O processo ou filtro mental a que se refere Kant, é considerado como transcendente, visto que, o fator existente acontece entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. “De que forma podemos transformar reflexos e sensações em conhecimento”? Immanuel Kant.
Revisão: Segundo Kant, a razão possui atributos a priori não dependendo do mundo exterior. Para ele, a razão vem antes do mundo objetivo que só deve ser possível se conhecido. Neste sentido, foi sempre crítico ao objetivismo, salientando que o mundo objetivo forma o conhecimento e como um idealista concebe o espírito e a razão é condição primeira. Para ele, o conhecimento é adquirido por juízos divididos em dois:
1. Juízos analíticos: São os inerentes, não têm origem na experiência, são verdadeiros, pois, não se pode provar a sua falsidade; são universais. A ideia religiosa está contida, certamente, entre os juízos analíticos, pois, para Kant, é anterior ao empirismo (experiência), é universal e está fora do espaço e do tempo.
2. Juízos sintéticos: Não estão relacionados com os sentidos; não se trata de juízos a priori, anteriores à experiência. Podem ser definidos como os resultados da experiência.
Para Kant, o conhecimento se situa entre as vertentes a priori e a posteriori e é justamente na junção das duas que conhecemos o mundo. O a priori não pode ser ciência, porque as questões transcendentais envolvem premissas subjetivas que não podem ser provadas e comprovadas pelos sentidos. O campo da religião abrange o problema da metafísica, a alma e o universo. Kant não nega Deus, pois, para ele, a razão pura não pode se deter naquilo que não está contido na experiência. Os juízos científicos só podem se dar no espaço e no tempo e Deus não está no espaço e no tempo.
Segundo Kant, a religião possui papel utilitário, é necessária porque estimula o ser humano para uma boa formação de caráter e a preservação do mesmo na sua vida pessoal e social. A moral só é possível pela crença religiosa, o que transforma numa necessidade social. Neste sentido, Kant deixa claro que a religião está presente na vida do ser humano como um elemento imprescindível, porque as normas impostas pela sociedade são obedecidas somente por que se tem medo da punição divina. Kant reforça a ideia de que a religião garante a consciência moral e não tem como base somente a repressão para consolidar o cumprimento dos deveres, que devem ser respeitados porque são legítimos. A fé cristã para Kant é conceituada como a única fé racional (Kant, 1992).
A religião surge como uma necessidade que garante a liberdade social e a utilidade faz bem para o homem quando se acredita num Deus. O mundo dos fenômenos está localizado fora do sujeito e não é descrito como além de uma noção, uma ideia, porque a própria moral é confundida com Deus. Diante de tal afirmação, Kant faz aproximadamente trezentas citações bíblicas nas suas obras (DUPLÁ, 2012, p. 11). Para Kant, não é Deus que justifica a moral, mas a moral que justifica Deus. Neste sentido, conclui-se que, segundo o seu pensamento, mesmo que não tivesse como intuito, foi um dos filósofos que revolucionou o pensamento humano.
Abordar as questões éticas e morais, sempre foi um desafio. Assim, não é possível dissecar o tema, requerendo mais estudos e reflexões nas obras do filósofo Kant, na intenção de generalizar as suas teorias para a prática da moral e das regras sociais na nossa cultura.
Referências
DUPLÁ, Leonardo Rodríguez. L’esegesi Biblica Kantiana. Studi Kantiani, vol. 25, Accademia Editoriale, 2012, pp. 11–29.
KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Gulbenkian, 1992. PIMENTA, s. g. (org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 2000. ZILLES, U. Filosofia da religião. São Paulo: Paulus, 1991.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. E-mail: adrins@terra.com.br. Colunista do Factótum Cultural.
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