1 – Resumo 

Suicídio é um tema complexo de ser abordado, mas, é necessário alertar as pessoas para este  assunto. O desafio é entender o autoextermínio, já que a vida é sagrada e o nosso bem maior.  Segundo estimativas da (OMS), aproximadamente 800 mil pessoas são vítimas desse mal em  todo o mundo. A psicoterapia cognitivo-comportamental é uma prática científica  comprovadamente diretiva, de curto prazo, e poderá contribuir significativamente com o  paciente com ideação ou tentativas de suicídio. O psicoterapeuta, munido de ferramentas  psicoterápicas, a partir de uma análise acurada do paciente, intervirá e auxiliará a reestruturar  as suas crenças, os seus sentimentos e os seus comportamentos. 

Abstract: Suicide is a complex topic to address, but it is necessary to make people aware of this issue.  The challenge is to understand self-extermination, since life is sacred and our greatest good.  According to WHO estimates, approximately 800,000 people are victims of this disease  worldwide. Cognitive-behavioral psychotherapy is a proven, short-term, scientific practice that  can significantly help patients with suicidal ideation or attempts. The psychotherapist, equipped  with psychotherapeutic tools, based on an accurate analysis of the patient, will intervene and  help restructure their beliefs, their feelings and their behaviors. 

Palavras Chaves: Psicoterapia Cognitivo-Comportamental, Suicídio. 

Keywords: Cognitive-Behavioral Psychotherapy, Suicide. 

2. Objetivos 

O objetivo desse estudo é apresentar a complexidade, gravidade e seriedade do tema suicídio em nossa sociedade. Demonstrar que o problema poderá ter ligação direta com comportamentos relacionados aos deficits emocionais e comportamentais, assim como  desenvolver uma revisão da literatura e a atuação da psicoterapia cognitivo-comportamental,  com base em análises de artigos sobre o tema.  

3. Introdução 

O assunto suicídio é considerado um problema social grave. A incidência de suicídio no  mundo inteiro provoca uma preocupação dos governantes que leva a pensarem em condutas de  prevenção e tratamentos para pessoas com ideação e tentativas de suicídio. Estima-se que o  Brasil está entre os 10 países com a maior taxa de prevalência, são aproximadamente 24 mortes a cada dia. Do total de mortos, 79,3% são homens, prevalecendo uma razão de 3,8 homens para  cada mulher sendo que o suicídio é a segunda maior causa de morte de jovens (entre 15 e 29  anos), perdendo apenas para acidentes de trânsito, conforme o Ministério da Saúde (Brasil,  2007). 

A organização de saúde (OMS, 2021), afirma que cerca de 700 mil pessoas por ano tiram  a própria vida, o que representa uma pessoa a cada 40 segundos.  

Sabe-se que a quantificação exata dos números de suicídio registrados é um desafio no  olhar da psicologia clínica e o motivo é que ao divulgar, corre-se o risco de estimular alguns  indecisos para o ato. 

Segundo o sociólogo Émile Durkheim, os fatos sociais estão diretamente ligados em  três vertentes: a coercitividade, a exterioridade e a generalidade. O fato social é coercitivo  quando o sujeito faz algo que independe da sua vontade, é um fenômeno externo porque já  estava pronto na sociedade antes do próprio nascimento e atinge a todos independentemente da  individualidade e das esferas sociais. Com este raciocínio, percebe-se a complexidade para entender o fenômeno suicídio na nossa sociedade. 

Considera-se suicídio todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato,  seja positivo ou negativo, realizado pela própria vítima, que previa o resultado. Já a tentativa  de suicídio se caracteriza pelo ato, conforme previamente definido, porém interrompido antes que dele resulte morte (Durkheim, 2007). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),  suicídio é o ato deliberado de matar a si. 

Atualmente, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e a sua prevenção  é uma tarefa difícil, já que um dos maiores desafios é identificar o risco de suicídio (Quevedo  & Carvalho, 2014). Portanto, é importante compreender que o fenômeno é a consequência final  de um processo, já que se trata de um comportamento com determinantes multifatoriais que  resulta de uma complexa interação entre fatores psicológicos, sociais, culturais, biológicos e  genéticos, não sendo possível indicar uma razão específica (CFM/ABP, 2014). 

4. Psicoterapia Cognitivo-Comportamental 

A psicoterapia cognitivo-comportamental, poderá ser útil no tratamento em pacientes  com tentativas e ideação suicidas. O desafio do psicoterapeuta é desenvolver uma análise  funcional e entender os comportamentos antecedentes, dentre eles, perceber os sinais de aviso articulados aos processos mentais de intenção de cometer o ato de suicídio. De posse dos  entendimentos das constelações cognitivas, resultados de crenças profundas e intermediárias  que estimulam os pensamentos e os sentimentos, o clínico poderá ter um norte de tratamento. 

É importante entender os estímulos desencadeantes de tais pensamentos, por exemplo,  experiências traumáticas, que remetem a mente aos pensamentos catastróficos, assim também  faz se necessário compreender a formação da personalidade, aptidões, as suas orientações  educacionais, psicológicas e vulnerabilidade comportamental que é consequência de transtorno  depressivo e ansiedade.  

O processo psicoterapêutico começa com a avaliação psicológica utilizando-se de  manuais diagnósticos, avaliação cognitiva das crenças centrais, das crenças intermediárias e  dos pensamentos automáticos. Algumas ferramentas psicoterapêuticas poderão ser utilizadas,  por exemplo, o Inventário de Depressão de Beck, a Escala de Desesperança e a Escala de  Ideação Suicida (Marback & Pelisoli, 2014). 

A partir de análise em vários artigos científicos, verifica-se uma preocupação de alguns  psicólogos que atuam na vertente cognitivo-comportamental, em “escolher”, técnicas, métodos  e procedimentos de atuação. Com base em experiência clínica, nota-se que é necessário entender o paciente nas múltiplas demandas existenciais, oferecer-lhe um acolhimento baseado na compreensão absoluta da sua peculiaridade e individualidade para se pensar em caminhos  terapêuticos com perspectivas de reestruturação emocional e comportamental. Numa análise criteriosa, o psicoterapeuta que atua na abordagem cognitivo comportamental deverá ficar atento para as questões sociais, culturais e familiares. Quando o  psicoterapeuta atua numa postura sistêmica, torna-se compreensível analisar e intervir em alguns possíveis estímulos desencadeantes do suicídio. Para ilustrar esse pensamento citaremos  o sociólogo Durkheim ao definir o seu objeto de estudo, os fatos sociais.  Segundo ele, os acontecimentos sociais podem ser entendidos como: […]toda maneira de  fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda  maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma  existência própria, independentemente de suas manifestações individuais (DURKHEIM, 2007, p.  13). 

Em comprovações científicas, entende-se que a psicoterapia cognitivo-comportamental  tem eficácia frente aos problemas relacionados ao suicídio. Essa abordagem, diante dos seus  axiomas e pressupostos teóricos, filosóficos e práticos, atua na intervenção imediata dos  pensamentos ideacionais catastróficos e dos sentimentos persecutórios do paciente que sofre  por consequência desse desarranjo psíquico, causador de intenso sofrimento. 

A diretividade do psicoterapeuta não implica em uma observação superficial do  repertório comportamental do paciente, aponta Skinner, em 1953/2003. Ele afirma que a  interação entre o organismo e o ambiente de estímulo, passa a ter importância para o indivíduo  que se comporta de maneira privada/encoberta (sonhos), ou operante (fazer algo). A  inconsequência de alguns atos como, dirigir embriagado, cometer delitos sociais, transgredir  normas, autoabandono, pode dar indícios de que algo não está bem.  

Auxiliar o paciente a pensar no que está acontecendo de forma consciente, reconhecendo  e modificando a maneira disfuncional do processamento de informações, os pensamentos  automáticos e repetitivos ajuda, significativamente, para a melhora do paciente. (Wright et al.,  2008). Estabelecer vínculos afetivos com amorosidade e imparcialidade, ser diretivo sem ser  áspero, ser acolhedor e passar segurança, são posturas do psicoterapeuta fundamentais que  contribuirão no processo de mudança. 

Um dos componentes da tríade cognitiva se refere à visão negativa que o paciente tem  de si. O paciente sem esperança e com baixa autoestima se vê diminuído frente aos desafios da  vida. Com o respeito e compreensão do paciente, entendendo a sua tríade cognitiva, o seu eu, o outro e o mundo/futuro, facilita para o terapeuta desenvolver o questionamento socrático, assim,  não confrontando e insultando para que este não se esquive ou fuja do processo terapêutico, colocando em prática as defesas psicológicas (Beck, 1979). 

5. Metodologia 

Este artigo foi desenvolvido a partir de pesquisas como SCIELO (Scientific Eletronic  Library Online), e outros artigos pesquisados sobre o tema suicídio e a psicoterapia cognitivo comportamental. O presente estudo tem caráter descritivo, sintetizado com informações  retiradas de livros e periódicos com cunho teórico, técnico-científico em saúde mental. Esta pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica narrativa cujo objetivo foi identificar e analisar  as contribuições dos fatores predisponentes do suicídio e a contribuição da psicoterapia  cognitivo-comportamental. Por se tratar de uma revisão qualitativa que permite ao leitor  adquirir e atualizar os conhecimentos sobre um determinado assunto, essa categoria de pesquisa  não possui metodologia que permita a replicação dos dados ou uma análise quantitativa (Rother,  2007). 

6. Fatores Predisponentes 

Segundo Bertolote (2004), existem alguns fatores que estimulam o ato do suicídio e os estímulos estressores deverão ser analisados, as situações que implicam sentimentos de perdas e a mudança no estilo de vida observados foram os seguintes: sexo masculino; perda do  emprego e ruptura com vínculos afetivos; abuso físico e abandono na infância; história familiar  de suicídio, abuso de álcool; alta recente de hospitais psiquiátricos; doenças físicas; rejeição  afetiva, social e outros. 

Alguns transtornos relacionados a doença mental, deverão ser compreendidos pelo  psicólogo cognitivo-comportamental. Segundo o mesmo autor, os mais destacados são:  transtorno do humor, alcoolismo, esquizofrenia, transtorno da personalidade, transtornos  mentais orgânicos, transtornos de ansiedade e transtornos psicóticos.

7. Considerações finais  

É difícil entender as razões pelas quais uma pessoa decide cometer o ato de  autoextermínio, mas é possível oferecer-lhe uma avaliação e compreensão empática do seu  problema, tendo em vista um tratamento que poderá ajudar significativamente a dessensibilizar  essa ideia. O artigo apresenta a psicoterapia cognitivo-comportamental que diante de pesquisas  demonstra a eficácia nos seus resultados para essa população, que por vários motivos  existenciais, escolhem o suicídio. Diante de um estudo clínico minucioso, é possível entender  as causas relacionadas na vida social do paciente, os processos cognitivos, os ambientes  precipitadores e as razões para decidir interromper a própria vida. A intervenção consiste no  diagnóstico e no tratamento dos possíveis transtornos psicológicos, psiquiátricos e nas  mudanças profundas do funcionamento cognitivo, afetivo e comportamental, incluindo o olhar  sistêmico, social e de trabalho. Sabe-se que o autoextermínio não pode ser divulgado, mas, o  objetivo maior do trabalho é sensibilizar os nossos dirigentes para a tomada de consciência  desse assunto seríssimo, oferendo dados e referências bibliográficas para maior compreensão  do fenômeno, auxiliando na elaboração de intervenções clínicas e terapêuticas e na construção  de programas e políticas educativas de prevenção do suicídio na área profissional da saúde em  geral. Novas pesquisas são necessárias para contribuir com informações para a compreensão  dos processos mentais, entendendo os principais gatilhos desencadeantes, como também para estimular a prática no engajamento psicoterápico de forma efetiva. 

8. Referências Bibliográficas 

American Psychiatric Association (APA). Psychiatric Diagnosis and the Diagnostic  Statistical Manual of Mental Disorders (Fourth Edition – DSM-IV). Fact Sheet. 1997;1-4. 

Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, B. F., & Emery, G. (1997). Terapia cognitiva da depressão (S.  Costa, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1979) Bertolote JM, Fleischmann A, De Leo D, Wasserman D. Psychiatric diagnoses and suicide: revisiting the evidence. Crisis. 2004;25(4):147-55. 

DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007. O comportamento suicida no Brasil e no mundo. Revista Brasileira Farrington, D. P. (2005).  The importance of child and adolescent psychopathy. Journal of Abnormal Child  Psychology, 33(4), 489-497.

Marback, R. F. & Pelisoli, C. (2014). Terapia Cognitivo-Comportamental no manejo da  desesperança e pensamentos suicidas. Rev. Bras. De Ter. Cog., vol. 10, n 2, 122-129.

Quevedo J. & Carvalho A. F. (2014). Emergências psiquiátricas. 3.ed. Porto Alegre: Artmed.  https://www.setembroamarelo.com/OMS (Organização Mundial da Saúde). Prevenção do suicídio: um recurso para  conselheiros. Genebra, 2006. Disponível em: http://www.who.int/mental_health/media/  counsellors_portuguese.pdf. Acesso em: 10 maio 2021. 

SKINNER, B. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ROTHER, E. T. Revisão sistemática x revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem, São  Paulo, v. 20, n. 2, p. v-vi, jun. 2007. 

Wright, J. H., Basco, M. R., & Thase, M. E. (2008). Aprendendo a terapia cognitivo comportamental. Porto Alegre: Artmed.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. E-mail: adrins@terra.com.br. Colunista do Factótum Cultural.

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