por Adriano Nicolau da Silva

Jean-Paul Sartre, um homem que revolucionou o pensamento filosófico com as suas ideias e atitudes corajosas quando as apresentou à comunidade científica. Um homem comunicativo e capaz de seduzir o público com o seu jeito de ser e que exerceu uma influência na corrente existencialista, conseguindo alertar as pessoas da época a refletirem sobre as suas vidas.
Nasceu na Europa (França) em 1905, na juventude serviu no exército durante a Segunda Guerra Mundial e na época, sofreu muito por ter sido preso pelos alemães. No seu país, destacou-se como um grande intelectual e foi o precursor do grupo de estudo denominado “Socialismo e Liberdade” que lhe deu muitos incentivos.
Escreveu várias obras, livros, novelas e romances. O seu grande lema era a libertação e responsabilidade do homem para as suas vidas. Neste período, estava muito empolgado e estimulado com os resultados das suas experiências mentais e pelos encontros acadêmicos em múltiplas instituições de ensino, nessa nova onda de pensamento. Um exemplo foi à conferência que proferiu na época e salientou a importância do existencialismo para a filosofia, “o existencialismo é um humanismo” em 1946.
Sartre escondia a sua timidez atrás de um charuto que fumava, constantemente, durante as suas palestras e convenções. A impressão era que esboçava uma inquietação mental e um charme com aquela fumaceira toda. As ideias surgiam de forma espontânea e compulsiva numa revolução cognitiva. A dialética se fazia em jogos de linguagem, como dizia antes de Sartre, o filósofo Ludwig Josef Johann Wittgenstein, “o grande erro da filosofia, o qual criticou firmemente, consiste na crença de que as sentenças são compostas por palavras, que no que lhe concerne, designam objetos, e o significado da palavra é o objeto”.
De acordo com essa perspectiva, à medida que reconhecemos o sentido da sentença, somos obrigados a procurar objetos no mundo que cumpram as funções de significado da palavra. Referência: (Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Literatura e humor, n 123 o 37, p. 121-133, 2º sem. 2008). Sartre fazia isso muito bem, dava nome aos comportamentos encobertos, o exemplo clássico é: “O homem é condenado a ser livre”.
Primeiro o homem precisa aprender a existir, descobrir-se surgindo no mundo e só depois irá se definir, ou seja, primeiramente ele é “vazio”, só depois “será”, conforme se construir, o que tiver planejado. Com essa ideia, entende-se que o homem é condenado a ser livre, tomando consciência da sua existência e do grande desejo de ser humano realizado. Ao contrário das coisas que são em si, ou seja, já estão prontas e acabadas como a madeira, a água, o homem é diferente, porque no momento em que ele é concebido, o desenvolvimento da sua identidade começa a se construir numa evolução constante. Para ele, a consciência humana “é um ser para o qual, no seu ser, está em questão o seu ser enquanto este implica outro ser que não ele mesmo”. Vimos, então, um ser que está absolutamente condenado a assumir as suas responsabilidades, desde as mais simples às complexas. O desenvolvimento da individualidade para Sartre é tão importante como também é para as outras pessoas. Assim, o homem se forma, responsavelmente, por tudo que faz numa realidade sem justificativa e escolhe o seu caminho por acreditar que não existe o sentido pré-existente. Nas palavras de Sartre, nem mesmo Deus, pode justificar o homem ou retirá-lo da sua liberdade total e absoluta, ou ainda salvá-lo de si, pois este necessita se construir na sua totalidade.
A busca diária do aprimoramento pessoal, com esperança em conquistar a liberdade de pensar e agir para adquirir uma vida com sentido, faz o homem se amparar nas possibilidades que ele mesmo construiu, resultado da sua motivação. Para Sartre o homem não poderá considerar viável as conquistas pessoais por meio da utopia religiosa e sim das suas potências individuais.
O para si não pode ser uma ideia fechada, pois não existe um criador responsável pelo processo existencial, o para si deverá dar conta de si, isso oferece oportunidades de pensar o que passou e o que estamos passando, podendo ou não, mudar a trajetória do futuro. Essa afirmativa reforça a ideia do existencialismo citada por Sartre, “a existência precede e governa a essência”, já que o homem investe naquilo que considera ser um bem, que seja virtuoso e tenha instinto de vida com qualidade, ética e honra.
Sartre apresenta na filosofia, a capacidade que o ser humano poderá adquirir com o compromisso de escolher ser livre para pensar e realizar os seus desejos, diante de si e de toda a humanidade, com profunda responsabilidade, conhecendo a si, entendendo o que se passa no seu universo mental e emocional, com demandas subjetivas motivacionais, projetando a sua percepção diante dos acontecimentos sociais e posicionando-se com consciência da realidade. E diante disso, o principal representante do existencialismo, afirma que a essência do eu no mundo reflete-se na liberdade pessoal, diretamente na evolução contínua da autonomia comportamental e na formação da existência.
Portanto, quando o homem escolhe, ele assume compromisso implicando em ter liberdade, dignidade e honradez com a responsabilidade assumida diante dos desafios. Como consequência dessa dinâmica, vamos encontrar um homem feliz com as suas escolhas ao vivenciar e experimentar a sensação da missão cumprida diante dos seus acertos e erros, assumindo autonomia por si e também para o mundo que o cerca.
“O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós”. Jean-Paul Sartre
Referências:
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Trad. Vergílio Ferreira. São Paulo: Abril Cultural, 1978 [1946]. (Os Pensadores)
SARTRE, J. P. El ser y la nada. Buenos Aires: Losada, 1983.
WITTGENSTEIN, L. J. J. Investigações filosóficas: os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p.109.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. E-mail: adrins@terra.com.br. Colunista do Factótum Cultural.
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