por Gisele Souza Gonçalves

À medida que os anos passam, vamos colecionando memórias e aprimorando nossos gostos. Temos nossas preferências: cores, saberes, lugares, estações, meses, pessoas, livros, música… E elas sofrem alterações no caminho: aquilo que antes suportávamos, pode não ser tolerado depois de um tempo; o que não apreciávamos, pode ser contemplado após algumas experiências.
Maio chegou e já está acabando. É um mês de que gosto, porque ele é um pouco frio, mas não muito; embora não prefira dias gelados, sei que algumas manhãs frescas podem ser apreciadas. Gosto também desta época porque é quando comemoro meus anos (o que faço geralmente sem festas), é um mês que me faz alegre por materializar mais um ano de vida e esperar pelo novo ciclo. É também o mês em que descobri que seria mãe. Essas lembranças e esperançar de novos desafios fazem de maio um mês interessante.
O mês em que completamos anos pode ser cheio de expectativas ou não. Eu gosto de pensar nas pessoas que conheci e que conheço, as quais me ensinam algo bom e que, provavelmente, nem saibam disso porque geralmente são humildes e pouco vaidosas. Gosto de ler as mensagens de aniversário no whats, na publicação, no bilhetinho justamente porque me fazem lembrar de cada autor ou autora e dos momentos que pudemos compartilhar.
Outro mês do meu coração é outubro: é quando sinto o cheiro de Natal – mangas e uvas fazem parte disso -; o som das cigarras também me lembra que o fim do ano está próximo. Quando criança, era neste mês que começávamos a fazer planos: “onde será que vamos passar o Natal? E o Ano Novo? ”. Era sempre na mesma cidade, só mudava a casa às vezes. O mais emocionante era ficarmos acordados até meia-noite (os que aguentavam, porque brincar o dia todo dava um cansaço que nos vencia, pelo menos a mim que dormia muito mais do que hoje).
Há vida pisa, mas também acaricia. Isso é viver. Com o tempo, vamos entendendo algumas coisas e buscando descobrir outras, ficamos cheios de dúvidas sobre tantas situações, mas também percebemos que esse processo é viver e faz parte da humanidade, ninguém está isento de duvidar, hesitar, sofrer, amar, errar. Também percebemos que as aparências são prisões, as quais podem nos enclausurar por muitos anos, mas, quando a reconhecemos e então tentamos abrir algumas portas, é um grande avanço.
Logo, o mês de maio acaba e vem junho, metade de um ano vai ter ido e tudo passa tão rápido que mal percebemos o quanto aprendemos, inclusive porque algumas percepções ocorrem a longo prazo.
Assim seguimos, dia após dia, ano após ano, contando os meses, muitas vezes ocupados com os prazos e metas, sem aproveitar o momento presente. Até chegar outro aniversário e percebermos que um ano já passou, até chegar outro Natal e notarmos que algumas pessoas se foram, nossas crianças cresceram, nossos rostos têm mais marcas desse tempo que contamos, mas não apreciamos como poderíamos.
Que venham mais dias para comemorarmos o quanto podemos vivê-los intensamente a cada momento. Que nossas vidas sejam mais importantes que nossos prazos e que seja possível aprender durante nosso tempo o que realmente importa, colecionando momentos que nos façam perceber o quanto a vida é para o agora.

Gisele Souza Gonçalves. Professora e Doutora pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Mãe. Colunista do Factótum Cultural.
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