por Adriano Nicolau da Silva

Ao investir em psicoterapia, pensa-se em um modelo de análise, no psicoterapeuta, o melhor dia e alguns possíveis caminhos que poderão ser trilhados neste percurso mental e emocional. À medida que a ciência psicoterapêutica se desenvolve, esperamos que, em breve, com a participação da neurociência e psicologia clínica, possamos tratar de milhões de pessoas que sofrem de várias doenças psíquicas, que podem prejudicar suas orientações vocacionais e profissionais ao longo da vida. A psicologia existe desde o período pré-socrático, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Isso é o que qualquer psicoterapeuta faz, compreendendo e acompanhando os movimentos da mente, diante da nossa grande ignorância sobre o tema.
Durante a análise, percebemos uma atitude crítica de certas pessoas quando questionam as próprias existências, são cautelosas ao tomarem consciência de sua duração. Sabemos que o tempo e a paz são os maiores bens. As expectativas são únicas para cada pessoa, mas há uma insatisfação e confusão ao tentar responder a seguinte pergunta, o que você quer? A resposta torna-se difícil, pois o desejo e a motivação muda a cada demanda vivenciada. O que se espera alcançar agora no reino do intelecto, amanhã ou depois, a motivação se transforma em outra, como o sentimento de pertencimento à família ou a sociabilização. O homem, por natureza, busca sempre se prover e, pensando nisso, a psicoterapia pode ser uma aliada nessa busca, tendo a chance de refletir, mudar ou continuar a focar sempre em si. A importância para uma vida com mais sentido passa a fazer parte do dia a dia com vários questionamentos. Qual o verdadeiro papel da existência? Podemos ver claramente, nas respostas de análises psicoterapêuticas, que o maior desejo é permanecer mental e fisicamente intacto para estabelecer vínculos afetivos.
A dor emocional diante ao abandono que ameaça desde a mais tenra idade, é trabalhada no processo psicoterapêutico e a célula familiar, os amigos, a comunidade, são valorizadas na busca do autoconhecimento, nos distanciando da solidão, apatia e indiferença.
Pessoas solitárias que se isolam e cultivam conflitos interpessoais sofrem mais problemas psicológicos. A psicoterapia poderia ser o exercício para aprender a administrar melhor as fases emocionais que ocorreram e continuam produzindo repercussões positivas. O questionamento da existência é uma característica do ser humano, pois a cada pergunta há uma resposta, e cada resposta é objeto de novos estudos descobertos. Buscar respostas para nossos desejos, necessidades e a consciência de nossa própria identidade, facilita nossa gestão e valorização do universo de amor que existe dentro de nós. Às vezes nós temos plena consciência do isolamento, seja por defesa psicológica, seja pela necessidade de organizar o “eu” desestruturado. Com o processo psicoterápico, conseguimos visualizar o outro como meu parâmetro de realidade interna e externa e podemos superar a angústia, ao tomarmos consciência das habilidades e defesas e se entregar aos afetos mais profundos e verdadeiros. Organizar recursos psicológicos para encontrar a libertação pessoal, com base na sensação de um renascimento de um “eu” livre e colocar em prática as virtudes e os limites como ser humano íntegro é ato de sabedoria. Reestruturar a forma de acreditar para o encontro com o novo e recomeçar uma vida com mais engajamento e sentido, baseada em uma coragem consciente, proporciona escolher os valores que farão parte da vida, sem a pressão de aderir às normas impostas por uma ideologia.
Aparentemente, nada é mais difícil de suportar, para o homem comum, do que o sentimento de não se identificar com o grupo.
Erich Fromm
Decidir investir em psicoterapia é um ato sábio, quebrando certas certezas e os paradigmas de crenças profundas são questionadas. Nesse processo, a reestruturação e a redefinição das crenças profundas multiplica o compromisso de assumir o rumo da consciência e dos limites. A libertação começa com o desejo de descortinar as janelas da consciência e do inconsciente, dando um sentido justo e humano, assim a natureza se aflora para a vida com calma e serenidade. “Nenhuma ideia criada por outra pessoa ou por mim é tão confiável quanto minha própria experiência”. Carl Rogers
Não podemos ficar reféns dos acontecimentos e do ambiente, mas agir sobre eles com discernimento sem se deixar influenciar de maneira irracional. Explicar e dar sentido nos colocam na situação de deixar fluir com o natural, em como queremos perceber a vida que escolhemos. Esta libertação desenvolvida no processo psicoterapêutico nos conduzirá ao desenvolvimento de autorrealização e nos colocará no caminho do propósito de ser feliz e proporcionar também aos outros o bem-estar. Como dizia o pensador Abraham Maslow, “Todo homem pode ser o que deve ser”.
O estado mental pode ser compreendido no momento de análise e percebe-se que o analisado tem responsabilidade de suas intenções de atrair para si o que é significativo. Nada é imutável, tudo é dinâmico, são 100 bilhões de neurônios o todo tempo querendo fazer sinapses em busca do novo e do desconhecido. Tudo está fluindo e mudando no reino emocional dos sentidos de maneira grandiosa, construindo uma vida otimista dinâmica com crescimento contínuo, revelando as potências humanas e colocando-as em prática.
“O que serei e o que farei no momento seguinte é algo que brota do próprio momento e não pode ser previsto”. Carl Rogers

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. E-mail: adrins@terra.com.br. Colunista do Factótum Cultural.
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