por Gisele Souza Gonçalves

Na rotina que compõe casa, parentalidade, família, trabalho, relacionamento entre outras esferas, quase não paramos para fazer nada.
Nada de específico, nada de cansativo, nada de responder mensagens, emails e solicitações presenciais… Esse tempo de nada quase nunca acontece. Todavia é importante e necessário.
É no nada que observamos as melhores nuvens, os mais lindos pássaros em pleno voo. É no nada que pensamos aquilo que o tudo de todo dia não permite.
É no nada que vêm as memórias de abraços interrompidos pela pandemia e dos impossíveis abraços pela morte.
É no nada que acontece o riso de uma boa lembrança e a retomada de um lindo momento na memória.
É no nada que você pensa coisas como essa que escrevo e que precisou de muitos nadas para se construir.
No nada a gente se permite ser a gente mesmo, sem compromisso, sem pressa, só ser porque somos.
Fazer nada faz um bem incrível, porque ali falamos de nós para nós. Sem cautela, sem receio. O nada permite que pensemos sobre aquilo que quase não se tem tempo entre um ponteiro e outro.
No nada, até o relógio é ignorado. É ali que as dores aparecem mais nitidamente e também é ali que elas podem ser pensadas, repensadas e curadas talvez.
Mas para isso é preciso muitos nadas.
Quem sabe por isso – pensar nas dores – o nada seja tão evitado e cada momento tão ocupado por distrações cotidianas, stories e trabalho.
Fazer nada poderia entrar em nossas rotinas para preencher os vazios das horas tão ocupadas.

Gisele Souza Gonçalves. Professora e Doutora pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Mãe. Colunista do Factótum Cultural.
Os artigos publicados, por colunistas e articulistas, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Factótum Cultural.






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