por Álefe Nícolas dos Santos Carvalho

Por vezes, sinto que estou vivendo dentro de um complexo aparato mecânico. Olho ao redor e vejo as engrenagens, as esteiras e toda aquela maquinaria trabalhando freneticamente para fazer algo que não sei o que. Em alguns momentos, percebo a máquina entrando em contradição, desfazendo o que acabou de fazer. Em outros momentos, parece-me que os dispositivos mecânicos mudam de ideia e começam a fazer algo completamente diferente.

            Ao fechar os olhos, porém, uma não-realidade impõe-se sobre meu entendimento. Quando fecho os olhos enquanto estou naquele complexo aparato mecânico, eu vejo a verdade. Vejo que todas aquelas polias, alavancas e dispositivos, tudo aquilo é uma ilusão da minha mente. Nada existe por si só, tudo aquilo existe pois eu decidi acreditar em sua existência. O que seriam das porcas e parafusos, se eu não soubesse o que é uma porca? Se eu não conhecesse o conceito de parafuso? Nada.

            Abro os olhos. Miro em volta, vejo aquela engenhoca a todo vapor e me sinto perdido. Fecho os olhos novamente, e volto a perceber que toda aquela realidade que me cerca, de porcas e parafusos, não faz sentido. Por que as engrenagens rodam? Não existe motivo intrínseco para uma engrenagem rodar. O motivo para essa invenção humana fazer o que faz é um motivo inventado por um humano, que inventou um motivo para tal invenção. A engrenagem roda para girar a esteira, para levar as peças ao longo da linha de produção e construir o carro. Que é esteira? Que são peças? Que é carro?

            Não passam de invenções humanas. Não existem em essência, em inevitabilidade, em eternidade. Que sentido faz viver dentro desse mecanismo, se sei que toda e cada peça que o compõe não passa de miragem? Se sei que, no final das contas, não existe um fim para este meio? Que não existe fim, ou meio, afinal – o conceito de início e final também é uma invenção.

            Acordo de meus devaneios. Não estou mais dentro da máquina, mas sim, em meu quarto a olhar pela janela. A faculdade, as amizades, a vida já não faz sentido. É hora de fingir-se de sonso e aceitar as “verdades” inventadas pela sociedade para carregar o pesado fardo que o coletivo nos impõe.

Álefe Nícolas dos Santos de Carvalho, Estudante de Jornalismo e escritor jornalístico.

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