por Iara Aparecida Dams

Sempre dizem que concluir é difícil, encontrar as palavras que amarram todas as ideias, eu acredito que começar é mais complicado. 

A folha em branco dói pois é uma constante lembrança do que não conseguimos expressar. 

Vejo que é ridículo que em uma língua tão rica ainda não existam palavras suficientes para o que a alma sente. 

Os substantivos abstratos formam a  classe de palavras mais pobre da gramática.

Quem foi o sádico que definiu que simples palavras poderiam idealizar sensações e sentimentos que muitas vezes não entendemos? O que é o amor se não um amontoado de sentimentos que (se me lembro bem discutimos sobre isso em um entardecer) mudam de acordo com cada ser?

Ouvi certa vez que amar é adiar a tristeza.

E a grande complicação dos sentimentos é que eles são fluidos, líquidos, exuberantes. 

E quem consegue colocar todo o mar em um aquário? 

Sentir é tudo, ou você arrisca no hoje ou morre sem saber o que tem além dos olhos, vivendo à margem das possibilidades. 

E na nossa miséria linguística eu sou profundamente a favor da liberdade de expressão, incentivando a demonstração de afeto e a criação de dialetos sentimentais que difundem no universo em que vivemos as mais puras sensações. 

Sentir não é abstração. 

Sentir é verbo. 

No fundo todos nós sabemos que no dia em que as lágrimas puderem ser poetizadas teremos os livros mais sinceros.

Talvez aí paremos de julgar os emocionados que choram até pelo som do sopro do vento. 

Eu queria chorar pelo vento. 

A maior amargura é ver que o mundo vem caminhando lentamente contra a liberdade de expressar os sentimentos, punindo de forma rigorosa (e ridícula) os que abrem seus corações. Somos descendentes de poetas e escritores que usaram as escassas línguas que possuíam e tornaram palpável sensações que atualmente estão sem explicação. 

E pensar que evoluímos linguisticamente é psicologicamente. 

Estudos conseguiram reconhecer as áreas do nosso cérebro que são ativadas quando experimentamos tudo, desde o ódio ao amor; quais substâncias químicas que fazem com que nos sintamos diferentes; em qual idade começamos a reconhecer cada sentimentos. 

Ainda sim, você consegue descrever o que é o amor? 

Sou do encantamento, eterna romancista, sempre penso no amor como sentimento primordial. Mas todos os outros valem para a questão acima, como explicar em palavras o que é tristeza, alegria, raiva, medo, ansiedade, angústia, paixão? 

Somos seres terríveis. 

Entender o que é cada sentimento é como tentar colocar o mar em um aquário e ver os peixes navegarem. O mais incrível nisso é que apenas 10% dos oceanos foram explorados pelo ser humano. Imagino eu quanto do sentir não conhecemos ainda. 

Iara Aparecida Dams, Professora do ensino fundamental I no Colégio Santos Anjos – PU. Graduada em Letras: Português/Espanhol (UNESPAR). Pós-graduada em Alfabetização, Letramento e Literatura Infantil (UNINA). Cursando Pedagogia (UNIASSELVI). Poetisa e escritora. Colunista do Factótum Cultural.

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