por Illyana Magalhães

Estou sentada em um banco frio de Londres com um café quente para me aquecer. Ontem, particularmente, estive sentada em um banco no cemitério de Feltham refletindo acerca da brevidade da vida e sobre nossa insignificância. Suspendi um pouco as minhas leituras para que minhas ideias não fossem maculadas por opiniões alheias.

Hoje escrevo para lhe dizer sobre sonhos. Escrevo, pois, uma grande amiga com seus 50 e poucos anos, confidenciou-me que o tempo passara e seus sonhos não foram vividos. Ela está triste porque a vida passou sem esperar que seus sonhos fossem concretizados. Parei para refletir, concatenei algumas reflexões e aqui estou.

Quando eu tinha 16 anos minha professora pediu que escrevêssemos uma carta ao nosso eu do futuro. Uma carta relatando nossos sonhos e predileções. Eu tenho essa carta até hoje. A Illyana de mais de 10 anos atrás confidenciou alguns sonhos que não condizem com a Illyana de hoje. Meus sonhos pretéritos talvez possam condizer com a Illyana de amanhã, mas no momento eu vivo nesse equilíbrio entre minhas vontades, a vontade dos outros (minha família, por exemplo) e o que a sociedade espera que eu viva.

Eu já tenho uma idade considerável para casar e ter filhos, certo? Errado. Um dos meus sonhos antigos era esse, mas hoje não me vejo cedendo meu tempo e espaço para uma criança em minha vida. Preferi congelar meus óvulos a me ver viajando com alguém berrando no meu ouvido. Os meus sonhos atuais não comportam os sonhos da Illyana com dezesseis anos, imatura e com uma visão extremamente limitada da vida.

Citei meu exemplo para que você tenha uma noção básica acerca de sonhos que podem ressurgir, morrer ou até mesmo se reinventar. Eu, por exemplo, tinha o sonho de ter um filho, mas adaptei a ideia e “adotei” crianças. Isso não significa que meu sonho morreu. Isso significa que eu simplesmente reinventei meu sonho a partir de novas perspectivas.

Embora eu tenha dito que minhas leituras foram interrompidas temporariamente, sugiro um livro de Sêneca intitulado “Sobre a brevidade da vida” caso você sinta o mesmo dissabor que a minha amiga sofre. Eu penso que, quando você toma completa noção da escassez temporal que temos os seus sonhos passam a ter mais prioridade do que qualquer outra coisa. Antes, por exemplo, eu chorava porque não consegui bolsa estudantil para custear o meu Mestrado. Hoje eu penso que esse sonho não tem conexão alguma com a Illyana de hoje. Eu penso que o conhecimento que a vida nos proporciona e infinitamente superior ao conhecimento livresco. A vida intelectual precisa de alimento dos fatos, como dizia Sertillanges.

Sonhos são abstratos, são interessantes de serem relembrados, revividos, sonhados. Mas não e interessante que você sofra por algo que foge do seu controle. Se eu tenho noventa anos e sofro porque não me casei com o Brad Pitt por exemplo, cabe a mim espernear porque a vida não me concedeu essa oportunidade? Obvio que não. Chega a ser imaturo sofrer por algo que foge do nosso controle. Outro exemplo mais palpável. Eu sofro pois não desbravei o mundo como gostaria (queixa que mais ouço) ou estive em um relacionamento durante anos que não me agrada mais (famosa perda de tempo). Ambas as queixas são fruto de nossas responsabilidades. Sei que é doloroso reconhecer isso, mas não vejo forma mais sensata de dizer que seus sonhos morreram por falta de ação e/ou coragem e não por falta de tempo. Todos temos o mesmo tempo, depende o que você faz com o tempo que tem.  

Bem, agora preciso ir. Está muito frio aqui e meus dedos estão congelando (isso impede a escrita). Espero que tenham gostado do texto e que reflitam sobre. Um beijo e até a próxima!

Illyana Magalhães é advogada, aspirante a filósofa e escritora. Colunista do Factótum Cultural.

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