por Gisele Souza Gonçalves

É domingo de manhã, chove, tomo um café ainda na cama.

As gentilezas são sempre bem-vindas.

Assisto ao documentário “Eles poderiam estar vivos”.

Sentimentos se misturam: dor, saudade, indignação, esperança.

A dor compartilhada por aqueles que contam suas experiências é de alguma forma parecida.

Já não me sinto só, há ainda um luto coletivo quase apagado pelos dias “normais”.

Uma gratidão também me habita por aqueles que, por meses, podendo trabalhar remotamente, respeitaram o distanciamento social.

Penso naqueles que gostariam de tê-lo feito, mas não puderam.

Cada vida seguida deveria ser grata a cada um que lutou por todas as vidas indiscriminadamente.

Nos hospitais, nas periferias, nas casas, nas ruas, em tantos lugares que desconhecemos houve quem realmente se importasse.

Assim como, infelizmente, houve quem comemorou a tristeza de tanta gente.

Vem um pensamento: ainda está tão forte em mim essa dor.

Para os que sentem, talvez ela nunca acabe; apenas irá se ajeitando nas memórias, dividindo espaço com outros sentimentos que a vida também oferece: alegria, afeto, esperança.

Penso nas pessoas que construíram este documentário: um compromisso com os fatos e as vidas que se foram e aquelas que pedem por respostas e justiça.

É triste chorar, mas é preciso não esquecer.

E o ritual de tomar meu cafezinho poderia ser compartilhado com aqueles que se foram e com quem tive a felicidade de tantas vezes saborear a companhia.

Todas as vezes em que eu posso desfrutar de um café sozinha, eu lembro de quem gostava de me convidar para um.

E penso nelas, às vezes, até converso em pensamento e imagino sua resposta ou seu sorriso.

Vocês poderiam estar aqui.

O domingo segue com mais chuva, a vida segue com a lembrança de quem com a gente viveu.

Sigamos sempre e sem esquecer porque a vida é mais que aceitar.

Gisele Souza Gonçalves. Professora e Doutoranda pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Mãe. Colunista do Factótum Cultural.

Os artigos publicados, por colunistas e articulistas, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Factótum Cultural.

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