Por Illyana Magalhães

Todo mundo que você conhece está travando uma batalha sobre a qual você não sabe nada. Seja gentil. Sempre.
Brad Meltzer
Em 2000 e alguma coisa fui afastada do meu cargo no Ministério Público do Espírito Santo. Eu estava sentada em minha mesa, analisando alguns inquéritos policiais com meu café e água filtrada enquanto minha chefe me olhava com uma cara de “quero dizer-te algo, mas não sei como”.
Como venho dizendo anteriormente eu convirjo para a ideia de que as coisas, além de acontecerem como tem de acontecer, elas surgem para nos dar valorosas lições (aqueles que estão dispostos a aprender). Apesar desse cargo não ser vitalício e não auferir uma boa margem salarial, eu me sentia feliz por ter galgado a primeira colocação e mais feliz por ter sido direcionada para a área criminal, área que academicamente me apetece. Eu estava feliz pela possibilidade de ser contratada ao final do período contratual de forma permanente, auferindo mais consequentemente. Duvidando você ou não, as publicações do site do Ministério Público do Espirito Santo são públicas, de forma que você pode acessar sem receio algum.
Ocorre que, internamente, eu sentia que aquilo não me pertencia. Corriqueiramente eu entrava em conflitos internos acerca de determinados processos, mesmo sabendo que aquela discussão não residia apenas no âmbito ministerial. Certo, vou evitar entrar em termos jurídicos. Convém apenas explicar o início do meu descontentamento e a minha exponencial queda. O ápice foi galgado quando notei que, entre 10 inquéritos analisados, 9 eu não
desejava apresentar denúncia. Ou seja, eu entendia a insatisfação da minha chefe.
Enquanto eu abria as páginas de um outro inquérito, ela me chamou em sua mesa e me disse que eu precisava ser afastada. Meus olhos lacrimejaram, pois eu sabia que isso iria refletir na minha pós-graduação e vida pessoal. Não me contentava ter que contar aos meus amigos e familiares o que aconteceu. Não me contentava ter que interromper os meus estudos. Eu não aceitava ser “descartada”. Entretanto, e isso eu lembro como se fosse ontem, minha chefe confirmou aquilo que eu sabia mas queria esconder: “Illyana, isso não é para
você. Reveja suas predileções, planos, funções. O Ministério Público não é para você, ao menos não aqui, não agora”.
A imaturidade de antes não me fez enxergar algo que hoje me e cristalino. Sai de sua sala transtornada e procurei algum canto qualquer para chorar. Eu não sabia o que fazer. Eu não conseguia ver oportunidades ante as perdas (futuramente contarei outros casos celebres). Eu apenas liguei para um amigo, sentei em uma cafeteria e chorei. Chorei como se não houvesse amanhã.
Longe de mim querer que você veja oportunidades milagrosas diante de demissões, términos ou divórcios. Existem as fases do luto e eu não vou adentrar nesse mérito psicanalítico agora. Convém apenas frisar que as dores nesses eventos são tamanhas que nos impedem de ver uma luz ao fim do túnel. Eu sei como é delicado perder alguém ou algo, mas isso não impede que futuramente novas coisas sejam galgadas. Coisas até melhores inclusive. Falo por experiência.
Não perca a sua esperança diante de eventos que transparecem perda. Na verdade, como diz uma celebre frase que muito me apetece, o que nos parece uma perda amarga, pode ser uma benção disfarçada. Depois dessa perda eu enveredei pelos caminhos do Mestrado, caminhos esses que muito me ensinaram e felicitaram (assuntos para novas publicações).
Desejo a vocês um excelente caminho nesse trilhar chamado vida. Beijinhos e até a próxima!

Illyana Magalhães é advogada, aspirante a filósofa e escritora. Colunista do Factótum Cultural.
Os artigos publicados, por colunistas e articulistas, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Factótum Cultural.






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