Empatia entre as pessoas, sororidade entre as mulheres…
por Ana Daniele Holovaty Amaral

Ainda acredito no ser humano…. Depois de passar por inúmeros problemas confesso que preciso da conversa cara a cara, do contato físico, do abraço, do carinho… Por mais que algumas pessoas prefiram os animais em relação às pessoas (muitas vezes em decorrência das decepções da vida), somente o ser racional e as relações sociais são capazes de suprir o vazio existencial humano.
Passando por um problema sério em minha vida, como mulher, senti a necessidade desse contato. Inicialmente, achei que não conseguiria devido ao uso constante da tecnologia e do afastamento natural ocasionado pela pandemia do Covid – 19, mas aos poucos percebi que ainda existe humanidade no ser humano. Em meio ao caos sempre existe a mão que afaga, o olhar que conforta, a palavra que consola e simplesmente a compreensão de quem ouve. A humanidade ainda tem salvação… Quando nos deparamos com problemas avassaladores percebemos o quão importante é o ser humano. Como cita Augusto Comte, o ser humano é um ser social e em alguns momentos a rede de apoio é valorosa para que determinadas ações não repercutam em consequências traumáticas.
Acontecimentos como lutos, divórcios, doenças, deixam os seres humanos sujeitos às patologias psíquicas. Nesse momento a interação social é fundamental… Quando não existe essa rede de apoio as pessoas têm muitas probabilidades de entrar em depressão. Por mais que se busque a ajuda profissional, os laços de amor e amizade são fundamentais para o enfrentamento dos problemas.
Parece ser uma teoria simplesmente otimista negando as vantagens da interação social… mas se aproxima muito de situações corriqueiras no que tange às idiossincrasias individuais em relação à realidade. Nesse sentido, o ser humano vive melhor se tem mais amor para compartilhar.
Não é para ser uma teoria melodramática, apesar de parecer…
Na realidade essa constatação parte da real experiência humana e flerta com as ideias anarquistas de Roberto Freire… as pessoas sempre estão em busca do amor, do tesão, mais precisamente, para desenvolver as atividades do cotidiano… e , uma das formas de atingir esse objetivo/ sentimento se dá através da interação social…
Posso até me basear em exemplos… o que é uma pessoa depressiva??? Resposta: é uma pessoa que pode até sentir mas não consegue mostrar ou transmitir o amor e muito menos o tesão. A depressão é o contrário do tesão… do tesão pela vida! Nesse caso, sou muito Roberto Freire em uma de suas obras: Sem Tesão não Há Solução. E esse desejo de vida é alcançado através do amor, dos laços que envolvem os seres humanos, mesmo que de forma efêmera.
Outra rede de apoio que se torna indispensável é a de gênero. Onde a empatia feminina, em alguns problemas é fundamental em uma sociedade onde o machismo estrutural naturalmente julga as ações das mulheres. Podemos acompanhar os casos que repercutiram na mídia referente à situação envolvendo casos de estupro, aborto e doação de menor. Em todos esses casos, as pessoas julgadas sempre foram as mulheres (meninas que enfrentaram problemas gigantescos devido a uma situação tão dolorosa e devastadora como o estupro)!!! Quem foram os estupradores? Como eles foram punidos? Pouco se sabe, infelizmente. A preocupação maior da nossa sociedade machista foi em decidir o que fazer com a questão da maternidade e o que fazer com o corpo da mulher em nome de uma moral que supostamente defende a vida da criança. Felizmente percebi que algumas celebridades e cada vez mais mulheres começaram a praticar a empatia e apoiar as próprias mulheres… Ainda é pouco, mas já é um começo!
A sororidade nesses casos ajudam a superar os problemas e fortalecer as relações humanas. Pois tem situações que os homens não conseguem entender. Só estando no corpo e na alma de uma mulher para entender a sede, o amor e o tesão pela vida… principalmente nas circunstâncias nas quais envolvem o instinto feminino ou algo considerado muito importante na vida de uma mulher. Então, por experiência própria, as relações humanitárias, a empatia e a sororidade nos fazem sentir mais humanos… Criaturas passíveis de erros e acertos! De altos e baixos… Como afirmou Cartola na música A Vida é um Moinho:
“… Presta atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó…”
Em meio a esse pessimismo “Nitchichiano”, vale afirmar que as relações humanas e as interações sociais aliviam os problemas e humanizam a sociedade através das diferentes formas do entendimento acerca do que é o amor em suas diferentes formas e representações. Dando noção ou mesmo uma ilusão de que ainda vale a pena viver em sociedade!

Ana Daniele Holovaty Amaral. Pós – Graduação em História e Sociedade pela UNESPAR.
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