Inveja: o pecado envergonhado
por Leandro Karnal

Você é uma pessoa invejosa?
Machado de Assis definiu a inveja como “a admiração que luta”. A afirmação está no genial “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.
No meu livro “Pecar e Perdoar”, tratei dos vícios fundamentais da nossa espécie.
Constatei (em harmonia com quase todos os moralistas) que a vaidade é a base de todos os erros, capitais, morais, veniais ou pecadilhos cotidianos.
O orgulho fez cair Lúcifer, o mais belo dos arcanjos.
Como ele, portador de luz, poderia prestar reverência ao homem recém-criado?
Lúcifer preferiu, como escreveu o poeta John Milton (1608-1674), ser senhor do Inferno a servir no céu (“Better to reign in Hell, than serve in Heaven”).
Curioso que a fala orgulhosa dele indica, alguns versos antes, que o Todo-Poderoso instituiu aquele lugar não por inveja e, por isso, eles não serão desalojados dali.
Comportamento típico de acusados: tentar jogar a culpa em mais gente.
Inveja e orgulho estariam associados para sempre.
O invejoso acha que o mundo lhe deu pouco, ou que é mais merecedor do que aquele que parece mais realizado.
Assim, na ambição de uma vaidade desequilibrada, germina a tristeza pela felicidade alheia, a mais clara e precisa definição de inveja.
Abstraia o tema de Milton: um Céu e um Inferno. Elimine por um instante a possibilidade de um Deus. Pense fora da gramática moral. Assuma apenas o lado técnico:
O que alguém ganha invejando?
Absolutamente nada.
Pelo contrário, ao olhar a vida alheia com força, tende a perder foco na sua.
O jovem pintor que se queima de inveja diante dos quadros dos mestres tem uma chance grande de nunca pintar nada bom.
Em nada melhora meu projeto profissional achar o do outro superior.
Atacar alguém pelas redes sociais revela muito de mim e da minha dor, raramente elimina a fama do meu alvo.
Pelo contrário, aumenta a presença dele entre os trend topics…
O invejoso ajuda no sucesso alheio.
Se não tenho inveja de nada, provavelmente já fiz a transição para o país da morte, pois viver, em parte, é invejar.
Mortos não invejam, no entanto ainda podem ser invejados.
Considero uma luta diária e renhida.
Focar no meu projeto.
Ser consciente dos meus limites.
Admitir meus erros ao menos para mim.
Perceber que a luz alheia pode cegar a mariposa do bom senso e me fazer adejar de forma errática em fonte luminosa errada.

Nesta semana gostaria de convidar você a refletir sobre o uso das redes sociais.
A internet é uma ferramenta. Que tal usá-la a seu favor?
Compartilho com você uma estratégia para transformar suas redes sociais em local de aprendizado, debate e conhecimento.
Preparei um vídeo, que está disponível no TikTok.
Clique no botão abaixo e confira:
“Ter um inimigo é importante não somente para definir a nossa identidade, mas também para encontrar o obstáculo em relação ao qual medir nosso sistema de valores e mostrar, no confronto, o nosso próprio valor. Portanto, quando o inimigo não existe, é preciso construí-lo.”
Esse pensamento de Umberto Eco está no primeiro ensaio que dá nome à coletânea publicada pela Record. É a minha recomendação de leitura dessa semana.

Um grande abraço!
LK e Equipe K
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