Conceição Evaristo e sua escrevivência: uma literatura que abraça

Por Gisele de Souza Gonçalves

A sua vida, menina, não pode ser só sua.  Muitos vão se libertar, vão se realizar por meio de você.

Conceição Evaristo, em Becos da Memória.

Escrevo um breve texto para compartilhar uma necessidade: “falar” de Conceição Evaristo. Sua escrita, singular e acolhedora, cheia de escrevivências me lembram diversas histórias – algumas minhas, outras dos meus colegas de escola, da minha família e de tantas outras pessoas que passam por nossas vidas. As palavras de Conceição unem sentimentos e humanidade numa poesia onde identificamos realidade e ficção num amálgama prazeroso ocasionado pela leitura. A beleza contada em cada história, seja em prosa ou em versos, nos remete a um mundo onde pensar sobre si, as outras e os outros acontece de maneira envolvente e sensível, mas, sobretudo, emocionante. Cada frase, parágrafo ou estrofe nos leva a um mundo que só a literatura proporciona: uma leitura de encantamento.

Como mulher, como mãe, como gente, a escrita de Conceição me emociona e me aproxima de um passado que vivi, ou ainda de um passado onde as mulheres da minha vida se aproximam, numa relação de ascendência que antes eu não pensava. A literatura de Conceição proporciona esta conexão que perpassa a nossa zona de conforto, quando nossas tristezas, revoltas e mágoas do passado voltam com significados diferentes, os quais nos fazem reconstruir percepções do mundo e de nós mesmas.

Conceição Evaristo precisa estar em nossas casas, escolas e pensamentos para trazer debates que por muito tempo não aconteceram e que, ainda hoje, são evitados. Debates sobre desigualdade, racismo, mulher, violência e força, esta força que transcende e que, por muito tempo, ficou esquecida. Entre as palavras de Conceição Evaristo que mais me tocam neste momento (pois as palavras mudam de intensidade junto com o nosso tempo), são estas escritas no livro “Insubmissas lágrimas de mulheres”: “E, quando de mim uma lágrima se faz mais rápida do que o gesto de minha mão a correr sobre meu próprio rosto, deixo o choro viver” (EVARISTO, 2016, p.07). A humanidade desta escrita me faz pensar na construção desta escritora que escuta, escreve e sente, e que nos emociona a cada texto que publica. Ler Conceição Evaristo é conhecer outros mundos e reconectar o nosso eu-mulher lendo sobre outras mulheres que uma mulher incrível percebeu.

Referências

EVARISTO, Conceição. Becos da Memória/ Conceição Evaristo. 3ª ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2017.

EVARISTO, Conceição. Insubmissas lágrimas de mulheres/ Conceição Evaristo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Malê, 2016.

Gisele de Souza Gonçalves. Professora e Doutoranda pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Mãe. Colunista do Factótum Cultural.

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