por Adriano Nicolau da Silva
Resumo
Estudos participativos sobre as novas formas de aprendizado histórico e o uso de tecnologias digitais como recursos de ensino para tornar as aulas mais dinâmicas e envolventes. A troca de ideias poderá ser embasada na vivência do professor/aluno e no conteúdo programático do curso.
Palavras-chave: História Pública, Ensino de História Digital
A atual sociedade está vivenciando um incrível avanço tecnológico que nos surpreende a cada dia. Os alunos, na disciplina de história, estão envolvidos em diversos ambientes, ricos de aprendizagem e troca de informações, e muitas vezes lidam com isso de forma independente e o papel do professor com a sua instrumentalização é imprescindível no processo de aprendizagem.
Com a evolução da tecnologia, a atual situação do aumento do uso das redes sociais, o conhecimento está sendo compartilhado por um número elevado de pessoas e, consequentemente, o público também se ampliou, resultando num interesse crescente por uma história mais dinâmica, fora das instituições tradicionais, com materiais e métodos diversos que estimulam a interação, porém exigindo uma maior atenção dos especialistas.
Com base nos temas como: aprendizado de história e conhecimentos escolares, percebeu-se, no entanto, uma relação interessante entre a era digital e a história pública. A história não mais se produz somente nos muros universitários, muito menos se veicula apenas por meio do livro impresso. As plataformas digitais incluíram as bases da produção e circulação das narrativas sobre o passado. Esses espaços se mostram cada vez mais democráticos no sentido de que qualquer pessoa é capaz de emitir a sua opinião sobre determinado fato histórico baseado nas suas próprias convicções ou interesses particulares. “Se ensinar é marcar, se ensinar História é produzir marcas temporais, é discutir e fazer ver as marcas que o tempo deixa nos nossos corpos, nas nossas vidas e nas nossas sociedades, o ensino de História deve ser capaz de expor feridas, de remexer traumas, de expor a carne sangrando, os corpos em sofrimento, os homens em comoção” (ALBUQUERQUE JR. D. M., p. 40).
Nessa perspectiva, o autor se refere sobre os regimes da historicidade, o próprio ensino de história e a relação – Professor/aluno. Cada vez mais pessoas interessadas em fazer sentido do passado voltam-se à história como espaço de experiência para guiar a sua ação ou para utilizar esse conhecimento como arma política no presente. Podemos considerar que as transformações ao longo do tempo alteraram como divulgamos e adquirimos conhecimento, se antes o livro era o principal veículo, hoje a internet e tudo que contempla o mundo virtual, vai muito além da escrita, ofertando diversas formas de divulgar esse conhecimento, seja mediante vídeos, blogs, filmes, postagens, imagens, jogos, redes sociais e muitas outras possibilidades. “Tendo em vista que o ensino escolar da história deve ser colocado na sua dimensão real, ou seja, mergulhado na vida da sociedade que o produz(…), não se pode menosprezar, nas pesquisas que se utilizam da didática do ensino de história, o diálogo — em alguns casos, entrechoque — produzido na sala de aula entre a narrativa daí resultante, a historiografia e as narrativas históricas midiáticas” (WANDERLEY, S. p. 213.)
A relação entre ensino de história, história pública e as mídias, na atualidade, implica num desafio para todas as instituições educacionais. Faz-se necessário horário, links permanentes para abertura de salas de aulas via Meet, distribuição de e-mails para que os alunos tenham acesso. Existe a produção de um variado número de instrumentos que servem de material de apoio a serem explorados no momento da aula, como: slides, vídeo aula, jogos e avaliações. Criam-se contatos e grupos de aprendizagem no WhatsApp, aprende-se a utilizar as mais diversas plataformas a fim de proporcionar o aprendizado e dar assistência aos educandos da maneira mais dinâmica possível. Todo material pesquisado ou desenvolvido pelos professores é disponibilizado no Google, sala de aula, ou na plataforma criada para dar assistência aos alunos. Em meio à necessidade, emerge um modelo de ensino diferente do usual, cheio de estratégias, recursos tecnológicos e utilização de novos espaços virtuais. Dar continuidade à utilização dessas ferramentas em sala de aula no formato presencial, ainda que seja desafiador, mostra-se como fator primordial para o processo de integração, visto que se trabalha com uma geração habituada, na sua grande maioria, ao meio digital.
A tecnologia vem modificando a vida das pessoas no que se refere à economia, produção e relações humanas, essa evolução também perpassa o meio educacional, proporcionando virtualmente visitas em exposições em museus, monumentos, artefatos construídos por nossos antepassados, que podem ser estudados de maneira efetiva. Agora, mais do que nunca, vivemos um período promissor, em que incorporar os novos meios, buscar o domínio das mais variadas ferramentas que temos disponíveis acabou por se mostrar essencial. Não se trata aqui de colocar o ser humano como escravo da tecnologia e sim de fazer um bom uso do leque de possibilidades de que dispomos a fim de dinamizar o processo de ensino de história e melhorar a qualidade da aprendizagem. Nesse sentido, o professor de História terá que se alinhar com uma metodologia segundo as demandas educacionais exigidas na contemporaneidade.
Embora este não seja um elemento absolutamente novo. Já no final dos anos 1990, a historiadora Circe Bittencourt já escrevia…
A escola sofre e continua sofrendo, cada vez mais, a concorrência da mídia, com gerações de alunos formados por uma gama de informações obtidas por intermédio de sistemas de comunicação udiovisuais, por um repertório de dados obtidos por imagens e sons, com formas de transmissão diferentes das que têm sido realizadas pelo professor que se comunica pela oralidade, lousa, giz, cadernos e livros, nas salas de aula (BITTENCOURT, 2019, p. 14).
O problema central é a ascensão de discursos evasivos, negacionistas e redutores sobre o complexo processo de reconstrução do passado realizado por historiadores profissionais.
Nela confluem as experiências e conhecimentos do professor/pesquisador, formado profissionalmente na universidade, e do estudante, cuja vivência sociocultural, política e econômica ajuda a conformar uma percepção de conhecimentos; além daquilo que podemos chamar de saber histórico universal, construído por meio de variadas culturas, comunidades, sociedades e linguagem registrando a riqueza das narrativas humanas.
Estabelecer caminhos que proporcionem a integração dos novos espaços de aprendizagem e a inovação das práticas de ensino no contexto atual, em que as mudanças ocorrem de maneira cada vez mais acelerada e em todos os âmbitos, é um desafio. Refletir acerca da ação docente mostrou-se no desenrolar deste artigo como exercício essencial à comunidade escolar, visto que estamos vivendo um período de grandes transformações, principalmente quando o objetivo é contribuir para uma formação crítica e atuante.
Conforme o olhar da professora Cristiane Bereta da Silva, do departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em relação aos que estão engajados no estudo da história é,
“Não apenas conhecer os acontecimentos do passado, mas privilegiar o investimento em dotar os estudantes de instrumentos para a análise e interpretação desses processos que lhes permitam construir a sua própria representação do passado. Conhecimento histórico que seja capaz de possibilitar aos estudantes lidar com versões contraditórias, com conflitos, que consigam contextualizá-los, conscientes da distância que os separa do presente, das suas crenças, das suas perspectivas, do lugar que ocupam no mundo”. (FERREIRA; OLIVEIRA, 2019, p. 54).
Dessa forma, a proposta é desconstruir ideias e crenças anteriores e se concentrar nos processos de interpretação que se baseiam na epistemologia do professor, historiador com ferramentas digitais atuais, e claro, sempre respeitando a ciência histórica e os limites humanos.
Para Ferreira (2018) a escola tem lugar privilegiado para a história pública, pois é um lugar em que os profissionais que trabalham no campo da história tenham contato com diferentes profissionais e alunos, sendo possível utilizar diferente materiais para a divulgação do conhecimento histórico, sendo ele, por exemplo, filmes, fazendo com que o conhecimento e a pesquisa histórica saiam do ambiente acadêmico e alcancem diferentes públicos.
“O âmago do processo educativo está em aceitar esta responsabilidade pelo mundo, mesmo que estejamos insatisfeitos com ele no presente. A educação passa por inserir estes jovens no mundo e garantir que eles assumam este compromisso pela sua continuidade, caso contrário à sua existência está em risco. ” (PENNA, F. A e SILVA, R. C. A, p. 201).
Enfim, apresentamos os sérios problemas das fake news e a pandemia Covid-19 é um exemplo notável de crueldade na história recente do Brasil, atingindo níveis preocupantes, tais como a negação ou minimização da gravidade da doença, o boicote às medidas preventivas, a falta de informações epidemiológicas, a omissão de traçar políticas nacionais de saúde, o estímulo a tratamentos terapêuticos sem comprovação científica e a tentativa de descredibilizar a vacina, entre outros exemplos. A recusa aumenta as dúvidas, afeta a adesão da população aos protocolos de prevenção, a resposta do país à pandemia e ameaça a democracia.
Durante a pandemia do (Covid-19), o Brasil atingiu níveis preocupantes, como a diminuição da gravidade da doença, o boicote às medidas preventivas, a falta de dados epidemiológicos, a omissão de traçar estratégias nacionais de saúde, o incentivo a tratamentos terapêuticos sem comprovação científica e a tentativa de desacreditar na vacina, dentre outros exemplos. A negação aumenta a incerteza, afeta a adesão da população aos procedimentos de prevenção, afeta a resposta do país à pandemia e ameaça a democracia.
Esse fenômeno pode incentivar especulações ou mentiras. Um conjunto de crenças que, de forma sistemática, nega o conhecimento objetivo, a crítica relevante, as evidências empíricas, o raciocínio lógico, as premissas de um debate público racional, e uma rede de desinformação organizada. Em outras palavras, os historiadores não são considerados “formadores de opinião”. Se incluirmos os encarregados das mídias sociais nessa categoria, a situação se agrava. (PIANTÁ; TERRES, 2020). Os historiadores, na esfera pública das mídias digitais, têm um papel relevante nos resultados a serem alcançados para combater os fenômenos das fake news, da pós-verdade e do negacionismo histórico.
Dessa forma, os historiadores cumprirão a sua função social, demonstrando que o conhecimento histórico pode contribuir para que a sociedade atual não adote características, como a falsidade e a falta de transparência em relação à verdade. (PRADO, 2021).
É necessário pensar em como podemos assumir uma epistemologia de história na era digital para enfatizar a relevância do conhecimento histórico. Ao longo deste artigo, procuramos relacionar o campo de estudo do ensino de história às discussões sobre a história pública, para criar um conhecimento escolar mais plural, democrático e conectado às demandas dos estudantes na atualidade. Dessa forma, a relação entre o ensino de história e a história pública pode ser considerada uma atividade de natureza dupla. A história pública deve reconhecer que se constitui por ações de mediação didática e pode ajudar a despertar a consciência da dimensão pública do ensino de história. A história escolar deve reconhecer que o conhecimento que produz e mantém circulante é uma constante inserção pública, o que ajuda a descobrir novos caminhos metodológicos para uma comunicação eficaz com públicos mais amplos e para a produção colaborativa de saberes históricos.
Dessa forma, a tarefa escolhida pelo professor de história pode variar conforme a temática escolhida para o aprendizado, podendo incluir a introdução da turma ao conteúdo das aulas de história, disponível no blog ou nos grupos de aprendizagem da escola, ou a exploração coletiva, mediante uma leitura dinâmica em sala de aula, observando e questionando os passos, tanto as situações apresentadas quanto as decisões a serem tomadas e o feedback recebido.
Portanto, é crucial que o professor incentive o estudante a aprender a história, pois isso é relevante para a divulgação dos eventos ocorridos e para a formação do cidadão que deseja se relacionar com a sociedade de maneira crítica e ativa.
Referências
1. ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru: EDUSC, 2007.
2. FERREIRA, Marieta de Moraes; OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (org.). Dicionário de ensino de história. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2019.
3. FERREIRA, Rodrigo de Almeida. Qual a relação entre a história pública e o ensino de História? In: Ana Maria Mauad; Ricardo Santhiago; Viviane Trindade Borges. (Org.). Que história pública queremos? 1ed.São Paulo: Letra e Voz, 2018, v. 1, p. 29-48.
4. PRADO, Giliard da Silva. Por uma história digital: o ofício de historiador na era da internet. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 13, n. 34, p. e0201, 2021. DOI: 10.5965/2175180313342021e0201. Disponível em:https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180313342021e0201. Acesso em: 19 mar. 2024.
5. PIANTÁ, Lucas; TERRES, Pedro. Digital history influen-cers: os limites entre a comunicação digital e a história pública. In: História da ditadura, Rio de Janeiro, 9 jun. 2020.
6. PENNA, Fernando e Silva, Renata. As operações que tornam a história pública: a responsabilidade pelo mundo de história. In: MAUAD, Ana Maria, Almeida, Juniele R. Santhiago, Ricardo (orgs.). História Pública no Brasil: sentido e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016. Pp. 195-206.
7. WANDERLEY, Sónia. Didática da História escolar: um debate sobre o caráter público da História ensinada. ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; MENESES, Sônia (Org.). História pública e debate: Patrimônio, educação e mediações do passado. São Paulo: Letra e Voz,2018, p.95–108.
Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.
Os artigos publicados, por colunistas e articulistas, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Factótum Cultural.