História Pública e Ensino de História

Resumo  

Estudos participativos sobre as novas formas de aprendizado histórico e o uso  de tecnologias digitais como recursos de ensino para tornar as aulas mais  dinâmicas e envolventes. A troca de ideias poderá ser embasada na vivência do  professor/aluno e no conteúdo programático do curso. 

Palavras-chave: História Pública, Ensino de História Digital

A atual sociedade está vivenciando um incrível avanço tecnológico que  nos surpreende a cada dia. Os alunos, na disciplina de história, estão envolvidos  em diversos ambientes, ricos de aprendizagem e troca de informações, e muitas  vezes lidam com isso de forma independente e o papel do professor com a sua  instrumentalização é imprescindível no processo de aprendizagem.  

Com a evolução da tecnologia, a atual situação do aumento do uso das  redes sociais, o conhecimento está sendo compartilhado por um número elevado de pessoas e, consequentemente, o público também se ampliou, resultando num  interesse crescente por uma história mais dinâmica, fora das instituições  tradicionais, com materiais e métodos diversos que estimulam a interação,  porém exigindo uma maior atenção dos especialistas.  

Com base nos temas como: aprendizado de história e conhecimentos  escolares, percebeu-se, no entanto, uma relação interessante entre a era digital  e a história pública. A história não mais se produz somente nos muros  universitários, muito menos se veicula apenas por meio do livro impresso. As  plataformas digitais incluíram as bases da produção e circulação das narrativas  sobre o passado. Esses espaços se mostram cada vez mais democráticos no  sentido de que qualquer pessoa é capaz de emitir a sua opinião sobre  determinado fato histórico baseado nas suas próprias convicções ou interesses  particulares. “Se ensinar é marcar, se ensinar História é produzir marcas temporais, é  discutir e fazer ver as marcas que o tempo deixa nos nossos corpos, nas nossas vidas e  nas nossas sociedades, o ensino de História deve ser capaz de expor feridas, de remexer  traumas, de expor a carne sangrando, os corpos em sofrimento, os homens em comoção”  (ALBUQUERQUE JR. D. M., p. 40).  

Nessa perspectiva, o autor se refere sobre os regimes da historicidade, o  próprio ensino de história e a relação – Professor/aluno. Cada vez mais pessoas  interessadas em fazer sentido do passado voltam-se à história como espaço de  experiência para guiar a sua ação ou para utilizar esse conhecimento como arma  política no presente. Podemos considerar que as transformações ao longo do  tempo alteraram como divulgamos e adquirimos conhecimento, se antes o livro  era o principal veículo, hoje a internet e tudo que contempla o mundo virtual, vai  muito além da escrita, ofertando diversas formas de divulgar esse conhecimento,  seja mediante vídeos, blogs, filmes, postagens, imagens, jogos, redes sociais e  muitas outras possibilidades. “Tendo em vista que o ensino escolar da história deve  ser colocado na sua dimensão real, ou seja, mergulhado na vida da sociedade que o  produz(…), não se pode menosprezar, nas pesquisas que se utilizam da didática do ensino  de história, o diálogo — em alguns casos, entrechoque — produzido na sala de aula entre  a narrativa daí resultante, a historiografia e as narrativas históricas midiáticas” (WANDERLEY, S. p. 213.)  

A relação entre ensino de história, história pública e as mídias, na  atualidade, implica num desafio para todas as instituições educacionais. Faz-se necessário horário, links permanentes para abertura de salas de aulas via Meet,  distribuição de e-mails para que os alunos tenham acesso. Existe a produção de  um variado número de instrumentos que servem de material de apoio a serem  explorados no momento da aula, como: slides, vídeo aula, jogos e avaliações.  Criam-se contatos e grupos de aprendizagem no WhatsApp, aprende-se a  utilizar as mais diversas plataformas a fim de proporcionar o aprendizado e dar  assistência aos educandos da maneira mais dinâmica possível. Todo material  pesquisado ou desenvolvido pelos professores é disponibilizado no Google, sala  de aula, ou na plataforma criada para dar assistência aos alunos. Em meio à  necessidade, emerge um modelo de ensino diferente do usual, cheio de  estratégias, recursos tecnológicos e utilização de novos espaços virtuais. Dar  continuidade à utilização dessas ferramentas em sala de aula no formato  presencial, ainda que seja desafiador, mostra-se como fator primordial para o  processo de integração, visto que se trabalha com uma geração habituada, na  sua grande maioria, ao meio digital.  

A tecnologia vem modificando a vida das pessoas no que se refere à  economia, produção e relações humanas, essa evolução também perpassa o  meio educacional, proporcionando virtualmente visitas em exposições em  museus, monumentos, artefatos construídos por nossos antepassados, que  podem ser estudados de maneira efetiva. Agora, mais do que nunca, vivemos  um período promissor, em que incorporar os novos meios, buscar o domínio das  mais variadas ferramentas que temos disponíveis acabou por se mostrar  essencial. Não se trata aqui de colocar o ser humano como escravo da  tecnologia e sim de fazer um bom uso do leque de possibilidades de que  dispomos a fim de dinamizar o processo de ensino de história e melhorar a  qualidade da aprendizagem. Nesse sentido, o professor de História terá que se  alinhar com uma metodologia segundo as demandas educacionais exigidas na  contemporaneidade. 

Embora este não seja um elemento absolutamente novo. Já no final dos  anos 1990, a historiadora Circe Bittencourt já escrevia…  

A escola sofre e continua sofrendo, cada vez mais, a concorrência da mídia, com gerações de alunos formados por uma gama de informações obtidas por intermédio de sistemas de comunicação  udiovisuais, por um repertório de dados obtidos por imagens e sons, com formas de transmissão diferentes das que têm sido realizadas pelo professor que se comunica pela oralidade, lousa, giz, cadernos e livros, nas salas de aula (BITTENCOURT, 2019, p. 14).  

O problema central é a ascensão de discursos evasivos, negacionistas e  redutores sobre o complexo processo de reconstrução do passado realizado por  historiadores profissionais. 

Nela confluem as experiências e conhecimentos do  professor/pesquisador, formado profissionalmente na universidade, e do  estudante, cuja vivência sociocultural, política e econômica ajuda a conformar  uma percepção de conhecimentos; além daquilo que podemos chamar de saber  histórico universal, construído por meio de variadas culturas, comunidades,  sociedades e linguagem registrando a riqueza das narrativas humanas.  

Estabelecer caminhos que proporcionem a integração dos novos espaços  de aprendizagem e a inovação das práticas de ensino no contexto atual, em que  as mudanças ocorrem de maneira cada vez mais acelerada e em todos os  âmbitos, é um desafio. Refletir acerca da ação docente mostrou-se no desenrolar  deste artigo como exercício essencial à comunidade escolar, visto que estamos  vivendo um período de grandes transformações, principalmente quando o  objetivo é contribuir para uma formação crítica e atuante.  

Conforme o olhar da professora Cristiane Bereta da Silva, do  departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina  (UDESC), em relação aos que estão engajados no estudo da história é, 

“Não apenas conhecer os acontecimentos do passado, mas privilegiar o investimento em dotar os estudantes de instrumentos para a análise e interpretação desses processos que lhes permitam construir a sua própria representação do passado. Conhecimento histórico que seja capaz de possibilitar aos estudantes lidar com versões contraditórias, com conflitos, que consigam contextualizá-los, conscientes da distância que os separa do presente, das suas crenças, das suas perspectivas, do lugar que ocupam no mundo”. (FERREIRA; OLIVEIRA, 2019, p. 54).  

Dessa forma, a proposta é desconstruir ideias e crenças anteriores e se  concentrar nos processos de interpretação que se baseiam na epistemologia do  professor, historiador com ferramentas digitais atuais, e claro, sempre  respeitando a ciência histórica e os limites humanos. 

Para Ferreira (2018) a escola tem lugar privilegiado para a história pública,  pois é um lugar em que os profissionais que trabalham no campo da história  tenham contato com diferentes profissionais e alunos, sendo possível utilizar  diferente materiais para a divulgação do conhecimento histórico, sendo ele, por  exemplo, filmes, fazendo com que o conhecimento e a pesquisa histórica saiam  do ambiente acadêmico e alcancem diferentes públicos. 

O âmago do processo educativo está em aceitar esta responsabilidade pelo mundo,  mesmo que estejamos insatisfeitos com ele no presente. A educação passa por inserir  estes jovens no mundo e garantir que eles assumam este compromisso pela sua  continuidade, caso contrário à sua existência está em risco. ” (PENNA, F. A e SILVA,  R. C. A, p. 201).  

Enfim, apresentamos os sérios problemas das fake news e a pandemia  Covid-19 é um exemplo notável de crueldade na história recente do Brasil,  atingindo níveis preocupantes, tais como a negação ou minimização da  gravidade da doença, o boicote às medidas preventivas, a falta de informações  epidemiológicas, a omissão de traçar políticas nacionais de saúde, o estímulo a  tratamentos terapêuticos sem comprovação científica e a tentativa de  descredibilizar a vacina, entre outros exemplos. A recusa aumenta as dúvidas,  afeta a adesão da população aos protocolos de prevenção, a resposta do país à  pandemia e ameaça a democracia.  

Durante a pandemia do (Covid-19), o Brasil atingiu níveis preocupantes,  como a diminuição da gravidade da doença, o boicote às medidas preventivas,  a falta de dados epidemiológicos, a omissão de traçar estratégias nacionais de  saúde, o incentivo a tratamentos terapêuticos sem comprovação científica e a  tentativa de desacreditar na vacina, dentre outros exemplos. A negação aumenta  a incerteza, afeta a adesão da população aos procedimentos de prevenção, afeta  a resposta do país à pandemia e ameaça a democracia.  

Esse fenômeno pode incentivar especulações ou mentiras. Um conjunto  de crenças que, de forma sistemática, nega o conhecimento objetivo, a crítica  relevante, as evidências empíricas, o raciocínio lógico, as premissas de um  debate público racional, e uma rede de desinformação organizada. Em outras  palavras, os historiadores não são considerados “formadores de opinião”. Se  incluirmos os encarregados das mídias sociais nessa categoria, a situação se  agrava. (PIANTÁ; TERRES, 2020). Os historiadores, na esfera pública das  mídias digitais, têm um papel relevante nos resultados a serem alcançados para combater os fenômenos das fake news, da pós-verdade e do negacionismo  histórico.  

Dessa forma, os historiadores cumprirão a sua função social,  demonstrando que o conhecimento histórico pode contribuir para que a  sociedade atual não adote características, como a falsidade e a falta de  transparência em relação à verdade. (PRADO, 2021). 

É necessário pensar em como podemos assumir uma epistemologia de  história na era digital para enfatizar a relevância do conhecimento histórico. Ao  longo deste artigo, procuramos relacionar o campo de estudo do ensino de  história às discussões sobre a história pública, para criar um conhecimento  escolar mais plural, democrático e conectado às demandas dos estudantes na  atualidade. Dessa forma, a relação entre o ensino de história e a história pública  pode ser considerada uma atividade de natureza dupla. A história pública deve  reconhecer que se constitui por ações de mediação didática e pode ajudar a  despertar a consciência da dimensão pública do ensino de história. A história  escolar deve reconhecer que o conhecimento que produz e mantém circulante é  uma constante inserção pública, o que ajuda a descobrir novos caminhos  metodológicos para uma comunicação eficaz com públicos mais amplos e para  a produção colaborativa de saberes históricos. 

Dessa forma, a tarefa escolhida pelo professor de história pode variar conforme a temática escolhida para o aprendizado, podendo incluir a introdução da turma ao conteúdo das aulas de história, disponível no blog ou nos grupos de aprendizagem da escola, ou a exploração coletiva, mediante uma leitura dinâmica em sala de aula, observando e questionando os passos, tanto as situações apresentadas quanto as decisões a serem tomadas e o feedback recebido. 

Portanto, é crucial que o professor incentive o estudante a aprender a história, pois isso é relevante para a divulgação dos eventos ocorridos e para a formação do cidadão que deseja se relacionar com a sociedade de maneira crítica e ativa.

Referências 

1. ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar  o passado. Bauru: EDUSC, 2007. 

2. FERREIRA, Marieta de Moraes; OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de  (org.). Dicionário de ensino de história. Rio de Janeiro: FGV Editora,  2019.  

3. FERREIRA, Rodrigo de Almeida. Qual a relação entre a história pública  e o ensino de História? In: Ana Maria Mauad; Ricardo Santhiago; Viviane  Trindade Borges. (Org.). Que história pública queremos? 1ed.São Paulo:  Letra e Voz, 2018, v. 1, p. 29-48. 

4. PRADO, Giliard da Silva. Por uma história digital: o ofício de historiador  na era da internet. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 13, n.  34, p. e0201, 2021. DOI: 10.5965/2175180313342021e0201. Disponível  em:https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180313342021e0201. Acesso em: 19 mar. 2024. 

5. PIANTÁ, Lucas; TERRES, Pedro. Digital history influen-cers: os limites  entre a comunicação digital e a história pública. In: História da  ditadura, Rio de Janeiro, 9 jun. 2020.  

6. PENNA, Fernando e Silva, Renata. As operações que tornam a história  pública: a responsabilidade pelo mundo de história. In: MAUAD, Ana  Maria, Almeida, Juniele R. Santhiago, Ricardo (orgs.). História Pública  no Brasil: sentido e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016. Pp. 195-206. 

7. WANDERLEY, Sónia. Didática da História escolar: um debate sobre o  caráter público da História ensinada. ALMEIDA, Juniele Rabêlo de;  MENESES, Sônia (Org.). História pública e debate: Patrimônio,  educação e mediações do passado. São Paulo: Letra e Voz,2018,  p.95–108.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.