Descartes, conhecimento e Deus

Nesse texto, o objetivo é apresentar algumas  ideias do filósofo René Descartes a respeito do  conhecimento e Deus. Ele nasceu no ano de 1650,  a sua principal obra tem como título, “O Discurso do  Método”. Para ele, a matemática poderia ser  considerada uma ciência segura, confiável, verdadeira e os conhecimentos da filosofia e das  ciências não eram seguros, já que surgiam sempre novas ideias e teorias que substituíam as anteriores. 

Descartes elaborou um método baseado na  matemática conhecido como cartesiano que poderia  ser utilizado em todas as áreas. O método foi  elaborado em quatro regras. A evidência, a análise,  a síntese, a enumeração e a dúvida que sempre  fizeram parte como elemento central da sua teoria.

É possível existir uma verdade tão evidente  que não poderia ser questionada? Para ele, duvidar  de tudo era importante para se chegar à verdade, a  percepção adquirida através dos órgãos dos  sentidos, audição, tato, visão, olfato e paladar deveriam estar aliados na racionalidade e de forma  clara e nítida. E mesmo com certo rigor, ele chegou  a duvidar de a capacidade do homem raciocinar (cogito), coerentemente. Nas suas observações  conseguiu chegar no seguinte ponto, a dúvida é uma  categoria de pensamento e o pensamento só pode existir na nossa mente, se duvido eu estou pensando, se eu estou pensando eu tenho mente,  logo se eu penso, eu existo. Assim, para duvidarmos  do pensamento, precisamos pensar, é impossível  duvidar do pensamento, mas podemos duvidar da  matemática, dos órgãos dos sentidos e da realidade,  mas não do pensamento. Com isso, criou a sua frase  filosófica, “penso logo existo” ou “penso logo sou”.

A importância de salientar as suas ideias é o  motivo pelo qual, até hoje, ele influencia o  pensamento moderno e a filosofia iluminista. A sua  filosofia se preocupou em oferecer uma visão  científica e do conhecimento em geral, com base em  métodos que atestem a verdade. Em cada cultura,  percebemos o interesse do homem em comprovar  com eficiência as suas descobertas e inventos com  cunho científico. Essa preocupação também era do  filósofo Descartes com o seu racionalismo e  pragmatismo. 

Descartes tentou colocar a religião e Deus  nos seus esquemas mentais, visto que no  iluminismo o homem tenta libertar-se dele. A religião  deixou de ser fornecedora de conhecimento do  mundo e explicação do homem.

Para ele, se a ciência poderia dar-nos algum  conhecimento acerca do mundo sensível, deveria  ser uma ferramenta imprescindível para a reflexão  filosófica. 

Na sua obra “Regras para a direção do  espírito”, Descartes salientou que o princípio básico  da filosofia seria afastar o que impede a “evidência  matemática”. Entendemos que nos seus dizeres o  espírito só deve acreditar no que pode conhecer e  apreender de modo certo e inquestionável, as  nossas premissas devem passar pelo crivo da  prova. 

Revisão:  

Para Descartes, a maior forma de ideia clara,  sólida e inquestionável é a existência do espírito que  pensa, ou seja, aquele que pensa só pode existir.  Mesmo diante da incerteza de que os sentidos  apreendem algo de real fora de mim, tenho ao  menos certeza de que o espírito que pensa e questiona existe e certamente não se pode achar  estranho que Deus, ao criar-me, tenha posto em  mim esta ideia de que a marca do operário está  impressa na sua obra: e não é tampouco necessário  que essa marca seja algo diferente da própria obra.  Mas pelo simples fato de Deus ter me criado, é  bastante crível que ele, de algum modo, tenha-me  produzido à sua imagem e semelhança por meio da  mesma faculdade pela qual me concebo a mim  próprio (…) “Esse mesmo Deus, digo eu, do qual  existe uma ideia em mim, isto é que possui todas as  altas perfeições de que o nosso espírito pode possuir  alguma ideia, sem, no entanto, compreendê-las a  todas, que não é sujeito a carência alguma e nada tem  de todas as coisas que assinalam alguma  imperfeição”. (1973, p.39) 

Revisão: Aqui Descartes nos mostra que Deus é o  princípio que garante a interpretação do mundo. O  pensamento que já traz a ideia da perfeição e de  Deus, são por si a afirmação de Deus. Para o  filósofo, se nós não somos os responsáveis pela criação das coisas, somente Deus pode sê-lo.  Somente podemos chegar a Deus por meio do  pensamento e do conhecimento. Para ele, o  conhecimento é o caminho para Deus, porque  quanto mais se conhece e desvenda, maior a  perfeição e abrangência do espírito e mais próximo  este estará da perfeição. 

Para Descartes, Deus é o princípio que  garante a interpretação do mundo e somente Deus  poderá ser o criador de tudo que é possível de ser  provado, mas como provar a existência de Deus? A prova está no próprio homem (ser), é uma prova  ontológica. Segundo ele, se está dentro de mim a  ideia de Deus, devo concluir que não fui eu mesmo  que a dei, não pude criá-la porque já nasci com ela, é parte inerente de mim e eu sou finito.  

Conhecemos o mundo porque temos a mola  motriz que rege o universo e o conhecimento de  Deus, e para ele não é o conhecimento do mundo  que nos dá a ideia de Deus, mas à medida que avançamos no conhecimento deste mesmo mundo, chegamos mais perto da ideia primeira, da  concepção de infinito e da perfeição que esteve  sempre em nós, assim, foi origem impulsionadora da  sede de conhecimento. Portanto, não deveríamos  partir do cosmos para explicar Deus e sim do próprio  sujeito.  

“Penso logo Existo” 

René Descartes 

E você, como faz para alcançar o  conhecimento? Como interpreta Deus no seu  mundo? 

Referências

DESCARTES, R. Regras para a direção do espírito.  2. Ed. Lisboa: Estampa, 1997.  

_____. Discurso do Método. São Paulo: Martins  Fontes, 1989.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.