por Adriano Nicolau da Silva
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Nesse texto, o objetivo é apresentar algumas ideias do filósofo René Descartes a respeito do conhecimento e Deus. Ele nasceu no ano de 1650, a sua principal obra tem como título, “O Discurso do Método”. Para ele, a matemática poderia ser considerada uma ciência segura, confiável, verdadeira e os conhecimentos da filosofia e das ciências não eram seguros, já que surgiam sempre novas ideias e teorias que substituíam as anteriores.
Descartes elaborou um método baseado na matemática conhecido como cartesiano que poderia ser utilizado em todas as áreas. O método foi elaborado em quatro regras. A evidência, a análise, a síntese, a enumeração e a dúvida que sempre fizeram parte como elemento central da sua teoria.
É possível existir uma verdade tão evidente que não poderia ser questionada? Para ele, duvidar de tudo era importante para se chegar à verdade, a percepção adquirida através dos órgãos dos sentidos, audição, tato, visão, olfato e paladar deveriam estar aliados na racionalidade e de forma clara e nítida. E mesmo com certo rigor, ele chegou a duvidar de a capacidade do homem raciocinar (cogito), coerentemente. Nas suas observações conseguiu chegar no seguinte ponto, a dúvida é uma categoria de pensamento e o pensamento só pode existir na nossa mente, se duvido eu estou pensando, se eu estou pensando eu tenho mente, logo se eu penso, eu existo. Assim, para duvidarmos do pensamento, precisamos pensar, é impossível duvidar do pensamento, mas podemos duvidar da matemática, dos órgãos dos sentidos e da realidade, mas não do pensamento. Com isso, criou a sua frase filosófica, “penso logo existo” ou “penso logo sou”.
A importância de salientar as suas ideias é o motivo pelo qual, até hoje, ele influencia o pensamento moderno e a filosofia iluminista. A sua filosofia se preocupou em oferecer uma visão científica e do conhecimento em geral, com base em métodos que atestem a verdade. Em cada cultura, percebemos o interesse do homem em comprovar com eficiência as suas descobertas e inventos com cunho científico. Essa preocupação também era do filósofo Descartes com o seu racionalismo e pragmatismo.
Descartes tentou colocar a religião e Deus nos seus esquemas mentais, visto que no iluminismo o homem tenta libertar-se dele. A religião deixou de ser fornecedora de conhecimento do mundo e explicação do homem.
Para ele, se a ciência poderia dar-nos algum conhecimento acerca do mundo sensível, deveria ser uma ferramenta imprescindível para a reflexão filosófica.
Na sua obra “Regras para a direção do espírito”, Descartes salientou que o princípio básico da filosofia seria afastar o que impede a “evidência matemática”. Entendemos que nos seus dizeres o espírito só deve acreditar no que pode conhecer e apreender de modo certo e inquestionável, as nossas premissas devem passar pelo crivo da prova.
Revisão:
Para Descartes, a maior forma de ideia clara, sólida e inquestionável é a existência do espírito que pensa, ou seja, aquele que pensa só pode existir. Mesmo diante da incerteza de que os sentidos apreendem algo de real fora de mim, tenho ao menos certeza de que o espírito que pensa e questiona existe e certamente não se pode achar estranho que Deus, ao criar-me, tenha posto em mim esta ideia de que a marca do operário está impressa na sua obra: e não é tampouco necessário que essa marca seja algo diferente da própria obra. Mas pelo simples fato de Deus ter me criado, é bastante crível que ele, de algum modo, tenha-me produzido à sua imagem e semelhança por meio da mesma faculdade pela qual me concebo a mim próprio (…) “Esse mesmo Deus, digo eu, do qual existe uma ideia em mim, isto é que possui todas as altas perfeições de que o nosso espírito pode possuir alguma ideia, sem, no entanto, compreendê-las a todas, que não é sujeito a carência alguma e nada tem de todas as coisas que assinalam alguma imperfeição”. (1973, p.39)
Revisão: Aqui Descartes nos mostra que Deus é o princípio que garante a interpretação do mundo. O pensamento que já traz a ideia da perfeição e de Deus, são por si a afirmação de Deus. Para o filósofo, se nós não somos os responsáveis pela criação das coisas, somente Deus pode sê-lo. Somente podemos chegar a Deus por meio do pensamento e do conhecimento. Para ele, o conhecimento é o caminho para Deus, porque quanto mais se conhece e desvenda, maior a perfeição e abrangência do espírito e mais próximo este estará da perfeição.
Para Descartes, Deus é o princípio que garante a interpretação do mundo e somente Deus poderá ser o criador de tudo que é possível de ser provado, mas como provar a existência de Deus? A prova está no próprio homem (ser), é uma prova ontológica. Segundo ele, se está dentro de mim a ideia de Deus, devo concluir que não fui eu mesmo que a dei, não pude criá-la porque já nasci com ela, é parte inerente de mim e eu sou finito.
Conhecemos o mundo porque temos a mola motriz que rege o universo e o conhecimento de Deus, e para ele não é o conhecimento do mundo que nos dá a ideia de Deus, mas à medida que avançamos no conhecimento deste mesmo mundo, chegamos mais perto da ideia primeira, da concepção de infinito e da perfeição que esteve sempre em nós, assim, foi origem impulsionadora da sede de conhecimento. Portanto, não deveríamos partir do cosmos para explicar Deus e sim do próprio sujeito.
“Penso logo Existo”
René Descartes
E você, como faz para alcançar o conhecimento? Como interpreta Deus no seu mundo?
Referências:
DESCARTES, R. Regras para a direção do espírito. 2. Ed. Lisboa: Estampa, 1997.
_____. Discurso do Método. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.
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