Conhecimento ou alienação?

A teoria do conhecimento poderá oferecer ao homem a oportunidade de entrar em  contato com o mundo que o cerca? Compreender os fenômenos e lidar com eles?  A teoria do conhecimento é representada pela epistemologia da filosofia desde os  tempos da Grécia antiga. O ser humano sempre se preocupou em compreender as coisas, a sua  volta, recorreu aos mitos da magia, da religião e atualmente à contribuição da ciência e  tecnologia. No século XVIII a teoria do conhecimento ganhou consistência colocando o homem  direto com a sua realidade. Atualmente, detém vários conhecimentos, desde os mais simples  aos sofisticados. A preocupação imediata é facilitar a vida, oferecendo-nos a oportunidade de  vivermos em melhores condições na sociedade.  

O conhecimento e a tecnologia, na atualidade, estão em discussão, pois os homens, com  as suas várias facetas e as suas ambições patológicas, destroem a natureza, retirando a matéria prima da terra sem questionamento e transformando em algo destrutivo. O conhecimento, com  as suas várias vicissitudes, oferece uma filosofia mais humana, sem premeditações. No passado,  as crendices ou fenômenos espirituais davam ao homem certo pudor e medo em pensar ou fazer determinadas coisas. 

Hoje, sabemos que o homem corre atrás de interesses materiais e como consequência  explora a ciência para satisfazer o seu consumismo imediato. Pensamos em fabricar objetos  descartáveis para não sentirmos tédio, usamos vestes descartáveis, alimentos cheios de  substâncias tóxicas e entupimos os nossos rios de lixo urbano matando os peixes. Gastamos  bilhões e bilhões de dólares em tecnologia de ponta para a realização de procedimentos médicos  nos grandes centros urbanos e poderíamos investir na prevenção da maioria dos nossos  problemas de saúde, colocando os nossos conhecimentos para o cultivo de alimentos em terras  férteis, evitando o adoecer humano. São coisas simples, mas que requerem de nós uma ciência  voltada para o natural, o que poderia fazer muito bem. Não faço uma crítica à evolução  tecnológica, mas na sua aplicação. Na mesma proporção em que se preocupa em evoluir, existe  o lado da destruição pela sua utilização.  

Tenho certeza de que os grandes filósofos, aqueles que realmente se preocuparam em  oferecer uma vida digna aos seus irmãos, estão rolando nos seus túmulos ao perceberem a  poluição nas cidades, as nossas crianças morrendo de fome, as guerras por motivos fúteis, o desmatamento a troco de madeiras nobres e os poderososinvadindo as nossas ilhas e devastando  tudo com as suas ambições.  

Essa é a teoria do conhecimento que queremos? Era isto que Descartes, Hume e Kant queriam? Não, não pode ser, quero acreditar que não. Queremos, sim, uma tecnologia a favor  da vida. A vida que engloba todos, queremos venerar, vivenciar com todas as nossas potências  humanas saudáveis. Recorrer à ciência para salvar vidas, manter vidas, rejuvenescer, amar e  obter o prazer que a vida poderá nos proporcionar. 

Muitos filósofos contribuíram para o desenvolvimento da teoria do conhecimento. Dos  vários estudiosos destacam-se, na era moderna, René Descartes (1596 – 1650) e Locke (1632 – 1704). Esses estudiosos sistematizaram o conhecimento em quatro partes, essencialmente,  como o problema, a origem, a essência e a possibilidade. Encontramos também os  representantes do empirismo. O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo o  conhecimento sintético é baseado na experiência, (BERTRAND RUSSELL). O conhecimento,  segundo a corrente empírica, é resultado das experiências do homem por meio das suas  condições sensoriais.  

A filosofia se beneficiará dos conhecimentos provenientes da razão, do empirismo e da  intuição do homem com boa vontade de mudar o que existe de não humano. Para isso,  pensamos, refletimos e discutimos possibilidades de mudanças e estamos na posição de criticar  e alavancar propostas para uma iniciativa de transformação e um novo olhar. Essa postura nos  proporcionará uma reflexão dos movimentos sociais da atualidade. A geração “Y” já está  perdendo terreno para a geração “Z” que vem trazendo a sua ânsia em consumir aparelhos  eletrônicos e generalizar uma insatisfação no campo interpessoal. Cabe-nos oferecer condições  de compreensão, com todo o aparato de conhecimento construído para partilhar e humanizar.  Precisamos, urgentemente, pensar em novos caminhos e para isso necessitamos de uma  tecnologia que nos faça tomar consciência dos verdadeiros valores intrapessoais e interpessoais. 

Precisamos dos jovens e eles de nós, para inventarmos uma tecnologia social, capaz de  promover o significado e o sentido da verdadeira essência da vida para viver bem e para o bem.  

Qual é a importância do Período Moderno para a filosofia  do conhecimento? 

Tudo pode ter começado quando o homem passou a perceber as suas potencialidades  para pensar o mundo e a si, recorrendo à metacognição. Resolveu se libertar das crenças da idade média que o homem e o mundo eram regidos por forças ocultas, a ciência abria espaço  para a fé e o homem se sentia subserviente aos fenômenos espirituais. Foi a partir do pensador  Copérnico que através da sua hermenêutica provocou uma revolução perceptiva do homem,  retirando-o das trevas e o colocando na luz e na história do renascimento nos séculos XIV e  XV, cravada pela arte e literatura grega, estimulando o humanismo e colocando as  responsabilidades de analisar e criticar a realidade com consciência. 

As obras do filósofo Maquiavel contribuíram consideravelmente neste período. O  homem deixou de ser ingênuo e começou a pensar mais os seus comportamentos diante de uma  sociedade, exigindo dele uma postura de identidade na comunidade e um papel de  individualidade com personalidade própria. A filosofia da idade moderna destacou-se a partir  das observações e reflexões, dos vários trabalhos voltados para a cultura, artes e ciência. Entre  eles citarei: Nicolau Copérnico, Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, Francis Bacon, René  Descartes e Immanuel Kant.  

René Descartes contribui de forma significativa ao colocar a razão no conhecido  humano. Descartes, na declaração, penso logo, existo, põe o homem em posição de pensar a  própria existência. Descartes estimulou a curiosidade colocando dúvida no próprio pensamento,  instigando o homem a desenvolver métodos refinados para alcançar o conhecimento. Por outro  lado, Immanuel Kant e outros pensadores não fizeram questão de separar a filosofia da religião  na idade média, o distanciamento da religião aconteceu mais precisamente com os Iluministas  franceses como Voltaire e Diderot que produziram grandes críticas da ação da igreja com a sua  influência opressiva na sociedade e na condução do poder. Danilo Marcondes apresenta nos  seus estudos uma explicação do Iluminismo. O Iluminismo valorizou o conhecimento como  instrumento de libertação e progresso da humanidade, levando o homem à sua autonomia e a  sociedade à democracia, ou seja, ao fim da opressão, (2007, p.210).  

Neste período o homem conseguiu a oportunidade de se libertar dando luz a alguns  pensamentos e atitudes diante da sociedade. Passou a assumir mais responsabilidade das suas  decisões e não atribuindo a um mundo paralelo e fantasioso, com isso seu poder de decisão  aumentou e também a sua responsabilidade diante dos atos. O progresso é determinado pela  razão através da qual o homem caminha rumo ao conhecimento e as descobertas científicas são  alcançadas tanto pela aplicação da razão como pela experiência empírica. Esses fatos são  resultados da influência sobre os conceitos do ser humano e da sociedade mantidos pelos  filósofos modernos do iluminismo. O pensamento iluminista passou a exercer influência nos  grupos responsáveis por movimentos de libertação no século XVIII, o seu efeito repercutiu de  maneira muito particular na França e foi um dos fatores catalisadores da Revolução Francesa. 

A burguesia, educada e geradora de riqueza, via-se presa sobre o jugo da aristocracia,  da monarquia absolutista e da igreja, dominantes desde a Idade Média, obrigada a pagar  impostos para manter o luxo de poucos e ansiava por uma sociedade livre. Nesse período o  filósofo Voltaire escreveu inúmeros contos e usava bem esse recurso literário na divulgação do  seu pensamento filosófico, o uso de tom irônico e polêmico atraiu os leitores e irritou as  autoridades. Segundo ele, a sociedade funciona como um pacto social, onde os indivíduos,  organizados em sociedade, concedem alguns direitos ao Estado em troca de proteção e organização.  Em uma das suas principais obras, ele escreve: O homem nasce bom, a sociedade corrompe. Em seguida, Rousseau declara que o homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado. Para  ele, o homem não deveria ser influenciado pela igreja e uma sociedade opressora, pois o homem  já possuía todo o conhecimento necessário para a constituição de uma sociedade perfeita. Com  a noção da perfectibilidade do homem, chegava à certeza do sucesso do desenvolvimento social  e científico da sociedade.  

Portanto, no período moderno, vemos que o discurso se volta para a mudança de uma  sociedade com mais identidade, resultado da razão do sujeito, possibilitando a tomada de  consciência e se distanciando do controle da igreja poderosa, dispensadora da graça divina na  idade média. A filosofia moderna e o iluminismo passaram a oferecer a possibilidade do  desenvolvimento pleno a todo cidadão que ao investir em sua formação como ser humano, passa  a ter voz ativa na política, ciência e na tecnologia social, oferecendo-lhe meios para a aquisição  de informações, conhecimento e sabedoria para uma vida mais digna. 

Como aplica os seus conhecimentos na vida atual? Existe o sentimento de liberdade ou  alienação? 

Referências

COMTE, A. Curso de filosofia positiva, in. Os pensadores. São Paulo: abril, 1973. 

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2006.

DESCARTES, R. Descartes,  Coleção Os pensadores (vol. XV). São Paulo: abril, 1973. Apostila de Filosofia  Moderna I. Uniram, 2007. EMPIRISMO. Disponível em Acesso em: 24 set. 2008. 

MARCONDES, Daniel, Iniciação à História da Filosofia, Rio de Janeiro, Editor Jorge  Zahar 11º Ed. 2007.

MONTESQUIEU. Disponível em: Acesso em: 19 set. 2008.  LOCKE, J. Ensaio sobre o entendimento humano. Lisboa: Fundação Calouste  Gulbenkian, 1999. (1473-1543) Nicolau Copérnico nasceu em Torun, Polônia, estudou em Cracóvia, Bolhonha, Pádua e Ferrara, laureando-se em direito canônico em  1503. Obra mais importante. De revolutionibus orbium coelestrim. 

4. KANT, Immanuel Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento? Tradução Luiz P.  Rouanet. Disponível em http://br.geocities.com/eticaejustica/esclarecimento.pdf – Acesso em 06/09/2009 ROUSSEAU. Disponível em Acesso em: 19 set. 2008.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.