por Adriano Nicolau da Silva
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Resumo: O transtorno de Burnout tem relação com o estresse intenso e prolongado, acarretando sintomas de esgotamento mental e físico. Como consequência, acontece a desmotivação na vida pessoal, social e de trabalho. Propõe-se que as empresas visem profissionais psicólogos para desenvolver rodas de conversa, utilizando-se de técnicas e intervenções cognitivos-comportamentais, para a eliminação ou diminuição desse transtorno nas organizações de trabalho.
Palavras-chave: Síndrome de Burnout; trabalho; Terapia Cognitivo Comportamental.
Abstract: Burnout disorder is related to intense and prolonged stress, causing symptoms of mental and physical exhaustion. As a consequence, there is demotivation in personal, social and work life. It is proposed that companies target professional psychologists to develop conversation circles, using cognitive-behavioral techniques and interventions, to eliminate or reduce this disorder in work organizations.
Keywords: Burnout Syndrome; work; Cognitive behavioral therapy.
Introdução
A globalização e a evolução tecnológica exigiram do trabalhador mais capacidade, eficiência e produtividade, o que, consequentemente, fez com que a saúde mental fosse questionada pelos resultados negativos da sua produção.
A apatia, desmotivação e desesperança surgem na falta de perspectivas em pessoas com sintomas de burnout, afetando a dinâmica biopsicossocial e em alguns casos, o abandono do trabalho ocasiona problemas pessoais, familiares, sociais e doenças mentais como a depressão e ansiedade generalizada.
Nota-se que o homem, no seu desenvolvimento, constrói o seu repertório comportamental, suas crenças e seus pensamentos na totalidade da personalidade. E por várias causas, entre elas, a desorientação vocacional/profissional ou excesso de responsabilidade profissional, poderá surgir um desconforto na percepção do “eu” ou da realidade externa, como o meio ambiente de trabalho, em consequência ao desrespeito dos próprios limites e possibilidades.
Expectativas, medo e a ansiedade são sentimentos vivenciados por todos e é necessário lidar com eles de forma coerente e realista, sem ser dominado pelos estímulos aversivos vivenciados no cotidiano de trabalho. É importante que os setores que envolvem o capital intelectual das empresas estejam preparados para lidar com a síndrome de burnout, conseguindo estabelecer um ambiente saudável. A roda de conversa, com base na terapia cognitivo-comportamental, é uma alternativa interessante que estimula os trabalhadores a pensarem em verbalizar qualquer desconforto que possa causar esgotamento mental e físico, provocando em alguns casos o adoecimento.
O psicólogo organizacional, ao utilizar a roda de conversa na vertente cognitivo-comportamental, poderá ter, como foco principal, uma melhor compreensão das experiências de cada um, dos eventos que influenciam os pensamentos, das emoções e dos comportamentos que causam desconforto.
De acordo com Beck (2013), um dos princípios fundamentais da terapia cognitivo-comportamental que está relacionado ao tema apresentado é o de ensinar os pacientes a identificar, avaliar e responder as suas ideias e crenças desorganizadas. De acordo com Beck, os funcionários de uma organização podem ter muitos pensamentos irracionais por dia, o que afeta o humor e o comportamento no trabalho. A roda de conversa na empresa, utilizada por profissionais competentes, poderá ser positiva, pois, possibilita os colaboradores a desenvolverem reflexões dos pensamentos, crenças e comportamentos nas relações humanas na empresa. A ressignificação dos problemas pessoais e interpessoais auxilia no processo de mudança na vida pessoal, facilitando o engajamento e uma participação de maneira assertiva no trabalho, na família e na sociedade.
Nas estratégias utilizadas em roda de conversa, sugere-se implementar técnicas de resolução de problemas, assertividade, reestruturação cognitiva, sentimento de pertencimento e o apoio dos gestores com mudanças de ambiente no trabalho, avaliação, programas educacionais e comunicação.
Quando o gestor de pessoas toma consciência das emoções dos colaboradores, valorizando não somente o comportamento observável e também a subjetividade, a identidade é fortalecida, ocasionando o sentimento de pertencimento, fortalecendo o vínculo e o respeito entre todos. É necessária a viabilização de espaços na empresa, permitindo a reflexão sobre as relações humanas, bem como sobre a comunicação entre todos, facilitando a construção metodológica de enfrentamento da síndrome de burnout.
Quando a empresa tem o objetivo de melhorar a saúde mental e os funcionários se unem para compartilhar as suas angústias emocionais numa roda de conversa, ocorre a redução do sofrimento devido ao envolvimento, cooperação, confiança e a implementação de feedbacks no auxílio do crescimento pessoal e profissional, tornando-se uma prática saudável e constante.
Considerando que a TCC criada por Aaron Beck trata o indivíduo amparado em uma epistemologia, em consideração às crenças, os pensamentos e os sentimentos dos colaboradores, seus modelos comportamentais existentes são constituídos em suas singularidades; (BECK, Judith, 2013).
MÉTODO
Uma experiência, adquirida com base, na prática da roda de conversa, aconteceu em uma determinada Universidade de Minas Gerais no Triângulo Mineiro com o (NAP) Núcleo de Atendimentos Psicológicos no período entre 2009 a 2019. O (NAP) teve como objetivo acolher, atender e encaminhar, quando necessário, todos que faziam parte do universo acadêmico. O procedimento utilizado foi a roda de conversa com base na teoria e prática da terapia cognitivo-comportamental como instrumento, visando a saúde mental dos colaboradores e dos alunos.
Quais são os principais sinais da síndrome de burnout?
O comportamento observado é caracterizado pela tensão emocional e pelo estresse causado pelo trabalho exaustivo e desgastante. Os relatos de pessoas com essa síndrome indicam que o sofrimento é intenso, com problemas físicos e psicológicos. Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), alguns sintomas são bastante perceptíveis no comportamento do funcionário. Nervosismo, dores generalizadas, indisposição, insônia, impotência sexual, impaciência, irritabilidade, problemas cognitivos, fadiga física e mental, cansaço crônico e sensação de desmaio. A (OMS) apresenta, de forma simplificada, três aspectos fundamentais da síndrome: falta de energia e exaustão, distanciamento mental do trabalho e redução da eficácia.
Conclusão
Conforme os resultados observados com a roda de conversa, baseada na terapia cognitivo-comportamental, foi possível notar uma redução significativa das tensões emocionais e do adoecimento no campo de trabalho. A oportunidade, oferecida pelo mediador, permitiu que cada participante refletisse sobre a sua forma de acreditar, sentir e agir, reestruturando sua atitude no campo organizacional. É necessário ter atenção especial ao capital intelectual, considerando as suas peculiaridades e tendo um olhar atento para aqueles que sofrem de fadiga mental e física. Dessa forma, a roda de conversa, fundamentada na teoria e prática da psicoterapia cognitivo-comportamental, pode ser uma alternativa interessante para melhorar a qualidade de vida de todos no campo de trabalho.
Referências
BECK, J. Terapia cognitivo-comportamental. Teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
Oliveira, R. G., & Bueno, S. M. V. (2016). Processos educativos transformadores no contexto da saúde: uma proposta metodológica para pesquisa ação. Atas – Investigação Qualitativa em Saúde, 2, 674-78. Recuperado em 05 de setembro de 2018 de: https://proceedings.ciaiq.org/index.php/ciaiq2016/article/view/809/795.
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Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.
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