Alcoolismo e o serviço social

1. Resumo 

O consumo de álcool faz parte da vida dos homens há muitos anos, com  destaque para celebrações em períodos festivos, notadamente no final e início  do ano. E por vários fatores, algumas pessoas desenvolvem a compulsão e  dependência do álcool, ocasionando acidentes de trânsito, perda de  produtividade no trabalho, problemas familiares e violência urbana. O artigo visa  mostrar o papel do Assistente Social para quem vive o problema.  

Palavras-Chave: Assistente Social, Álcool, Família. 

Alcohol consumption has been part of men’s lives for many years, with  emphasis on celebrations during festive periods, notably at the end and  beginning of the year. And due to various factors, some people develop  compulsion and dependence on alcohol, causing traffic accidents, loss of  productivity at work, family problems and urban violence. The article aims to  show the role of the Social Worker for those experiencing the problem. 

Keywords: Social Worker, Alcohol, Family. 

2. INTRODUÇÃO 

O Alcoolismo é um dos maiores problemas de saúde pública, em nível mundial e brasileiro, pela prevalência e gravidade no impacto social. A natureza  multidimensional e sistêmica do alcoolismo exige a adoção de estratégias de  avaliação e intervenção neste relevante problema social. 

O álcool é uma substância psicoativa legal que causa dependência  conhecida como alcoolismo. O alcoolismo foi reconhecido como doença pela  Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948. É considerado um transtorno  mental e de comportamento na Classificação Internacional de Doenças (CID 10), e no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DMS-5),  unificando esses diagnósticos em transtorno por uso de álcool, podendo ser leve, moderado ou grave, ou Síndrome da Dependência do Álcool, tendo como  características a compulsão, perda do controle, dependência física e tolerância. 

Pessoas dependentes do álcool desenvolvem uma série de prejuízos de  ordem fisiológica, como as doenças relacionadas aos órgãos nobres, coração,  fígado, pâncreas, rins e alguns tipos de câncer. Os déficits cognitivos envolvem a perda de memória, dificuldade para tomar decisão, pensamentos obsessivos  e nos aspectos comportamentais, a desmotivação, lentidão nas atitudes,  desânimo e inércia. Em algumas pessoas, a manutenção do vício poderá  desencadear problemas de ordem social e jurídica, violência e acidentes de  trânsito, ocasionando enormes transtornos pessoais, familiares e sociais. 

O alcoolismo é responsável por uma das quatro causas mais comuns de  morte masculina entre os 20 a 40 anos, contribuindo para as doenças mentais e  físicas, estado civil, trabalho, relacionamentos interpessoais, entre outros, é o  terceiro motivo de absenteísmo no trabalho e a oitava causa para a concessão  de auxílio-doença do Ministério da Previdência Social (MORAES & PILATTI,  2004). 

Segundo Duarte (2004) as primeiras discussões referentes ao consumo  do álcool no ambiente de trabalho no Brasil remetem ao final da década de 70 e  início dos anos 80. A questão foi tratada com base na Consolidação das Leis do  Trabalho (CLT) que no artigo 482 considerava justa causa pelo empregador a  embriaguez habitual ou em serviço. Com o fortalecimento dos movimentos  sindicais, um novo modelo surgiu e as organizações foram surpreendidas por  decisões judiciais determinando a reintegração de trabalhadores demitidos e um  olhar diferenciado das organizações de trabalho focado na ação preventiva e de  tratamento da dependência química.

O alcoolismo ou Síndrome da dependência do álcool, conforme explica do  Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), é uma doença caracterizada pela  compulsão, perda de controle, dependência física e tolerância. A compulsão  envolve uma forte necessidade ou desejo de beber. A perda de controle é  caracteriza pela impossibilidade de parar de beber após ter começado.  Dependência física envolve o surgimento de sintomas de abstinência, como  náusea, sudorese, tremores e ansiedade quando alguém para de beber após um  período de consumo excessivo de álcool. A tolerância é a necessidade de  aumentar a quantidade de álcool para sentir-se sob efeito. Síndrome de  abstinência é uma consequência da interrupção ou redução do consumo  excessivo de álcool, sem orientação médica. Caracteriza-se fundamentalmente  pela ocorrência de ansiedade, irritabilidade, tremores, suores, náuseas, aumento  da pulsação cardíaca, taquicardia, insônia, febre, entre outros sintomas.  

Segundo a 5ª edição do Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos  Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-5), da  Associação Americana de Psiquiatria (APA, na sigla em inglês), os transtornos  relacionados ao uso de álcool são definidos como a repetição de problemas  decorrentes do uso, que levam a prejuízos e/ou sofrimentos clinicamente  significativos, conforme o número de sintomas apresentados no quadro 1.

Quadro 1. Critérios para transtornos relacionados ao uso de álcool DSM-5

3. OBJETIVOS DO TRABALHO 

Entender a contribuição da atuação do assistente social com pessoas que  vivenciam o sofrimento psicoafetivo-social em decorrência do uso de álcool,  sensibilizando-as a parar ou diminuir o uso. Os objetivos estão articulados com:  a Identificação das atividades desenvolvidas pelos profissionais da saúde; o  conhecimento da relação entre profissionais e usuários; a identificação das dificuldades que estes profissionais encontram no seu cotidiano para a sua  atuação. 

4. A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO ALCOOLISMO 

A atuação do profissional assistente social tem papel relevante para o  portador de dependência do álcool, seja no diagnóstico, no tratamento e  reintegração na família. 

O trabalho do Serviço Social inserido em dispositivo de saúde mental  requer criatividade, competência e comprometimento ético-político, no sentido  de intervir de modo qualificado, diante das demandas dos seus usuários, no  entanto, é preciso cautela para não realizar um serviço terapêutico, pois tal  atribuição não condiz com as competências e atribuições do serviço social na  atualidade (CFESS, 2010). 

Serviço Social, enquanto profissão de investigação, intervenção, deve  compreender a família e a sociedade, e as diversas mediações que permeiam a  instituição, dando voz ao sujeito no social e na esfera política. A saúde pública  brasileira contemporânea, direito de todos e dever do Estado (BRASIL, 1990), exercida através do SUS (Sistema Único de Saúde), é resultado do confronto  direto entre os interesses inconciliáveis de classe, fruto da conquista histórica  dos trabalhadores. Isso especialmente por conta de seu caráter ineditamente  universal, que outrora era contributivo (FIOCRUZ, 2018). O trabalho na saúde é  importante na formulação de melhorias sociais visando o bem-estar pautado no  direito do cidadão, na prevenção e criação de programas e políticas voltadas  para melhorias numa visão que respeita o direito a saúde, participação no social,  no trabalho, na política, dentre várias outras questões.  

O principal instrumento do assistente social é a linguagem, alcançando  um objetivo essencial: a ação direcionada, com perspectivas de continuidade da  vida para além do discurso da doença, uma promoção da saúde no seu sentido  lato. Esta se torna a dimensão política do seu trabalho, produzindo relações  sociais, agregando afetividade às relações humanas e demostrando a potência  das suas ações (SODRE).

5. CONCLUSÃO 

O assistente social desenvolve, em nossa sociedade, um papel importante  para o dependente químico e seus familiares. Seu objetivo é proporcionar  ajuda profissional, resgatando o usuário de álcool para a uma vida com  dignidade, pautada em direitos e deveres de cidadania.  

O exercício do vínculo em família faz-se necessário devido à fragilidade  emocional, social, causando em alguns casos, conflitos interpessoais, dificultando o convívio entre todos.  

O serviço social garantirá os direitos do usuário e seus familiares, após  uma leitura das principais demandas do usuário de álcool, no intuito de integrá lo em programas de redes psicossociais e assistenciais, acompanhando e  observando para não ocorrer o abandono do tratamento. É necessário pensar  em práticas multidisciplinares, bem como em estratégias que contribuam com  a adesão, buscando espaços e agentes facilitadores para a realização das ações  necessárias. Dessa forma, todos os sujeitos envolvidos no tratamento do  dependente químico podem contribuir para a eficácia da recuperação total da  saúde mental, física, social, espiritual, familiar e de trabalho. 

6. REFERÊNCIAS 

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de  transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 31-86. 

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (Chefes). Serviço Social e  Reflexões Críticas sobre Práticas Terapêuticas. Brasília, DF: Chefes, 2010.  Disponível em:<  http://www.cfess.org.br/arquivos/doc_CFESS_Terapias_e_SS_2010.pdf. > Aces  so em: 04 maios. 2022, 15:52.

DUARTE, P. C. A. V. Redução de danos no ambiente de trabalho. In: BRASIL.  Ministério da Saúde. Álcool e Redução de Danos: uma abordagem inovadora  para países em transição. 1. ed., Brasília, 2004. 

MORAIS, G. T. B., PILATTI, L. A. Alcoolismo e as Organizações: por que investir  em Programas de Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos. In:  Enegep 2004. Florianópolis: ABEPRO, 2004. p. 2477 – 2484. 

FIOCRUZ. Segundo grande debate do Abrascão aborda os desafios do SUS em  tempos de austeridade. 2018. Disponível em: Disponível em:  https://portal.fiocruz.br/noticia/2o-grande-debate-do-abrascao-aborda-os desafios-do-sus-em-tempos-de-austeridade Acesso em: 14 maio 2021. 

GIGLIOTT, Analice; BESSA, Marco Antônio. Síndrome de Dependência do  Álcool: critérios diagnósticos. Revista Brasileira de Psiquiatria. v.26, n.1, p. 11- 13, maio. 2004. Disponível  em:<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26s1/a04v26s1.pdf&gt;. Acesso em: 15 nov.  2014. 

SODRE FO. Serviço Social entre a prevenção e a promoção da saúde: tradução,  vínculo e acolhimento. Serv. Soc. 2014 jan – mar; 117: 69-83.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. E-mail: adrins@terra.com.br. Colunista do Factótum Cultural.

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