por Adriano Nicolau da Silva
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Resumo
O transtorno de pânico é conceituado como o medo de sentir medo que se desenvolve para uma percepção de morte iminente. Os alunos universitários que vivenciam o problema relatam sentir os mais variados sintomas, entre eles são: palpitações ou taquicardia, sudorese, tremores, sensações de falta de ar ou sufocamento, sensação de asfixia, dor ou desconforto torácico, náusea ou desconforto abdominal, sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio, medo de perder o controle ou enlouquecer, medo de morrer, parestesias, calafrios ou ondas de calor, despersonalização e desrealização dificultando de forma acentuada no processo de aprendizagem. Diante de tais sintomas a pessoa acredita que vai morrer ou desmaiar. O artigo trata da contribuição clínica da “Neuropedagogia e a Psicologia Cognitivo-Comportamental” e faz um levantamento bibliográfico, analisando o papel do professor/educador frente aos alunos portadores do transtorno, visando oferecer-lhes, oportunidades de reestruturar a forma de pensar o problema assertivamente, estimulando-os a novas possibilidades de reestabelecer o equilíbrio emocional, dando sequência nos estudos acadêmicos.
Palavras-chave: Ansiedade. Transtorno. Pânico. Neuropedagogia, Cognição e Comportamento.
Abstract
Panic disorder is conceptualized as the fear of fear that develops into a perception of imminent death. The university students who experience the problem report the most varied symptoms, among them: palpitations or tachycardia, sweating, tremors, feelings of shortness of breath or suffocation, choking sensation, chest pain or discomfort, nausea or abdominal discomfort, feeling dizzy, Instability, vertigo or fainting, fear of losing control or going crazy, fear of dying, paresthesias, chills or heat waves, depersonalization and derealization, making the learning process more difficult. In the face of such symptoms the person believes that he will die or faint. The article deals with the clinical contribution of “Neuropedagogy and Cognitive-Behavioral Psychology” and makes a bibliographical survey, analyzing the role of the teacher / educator in the students with the disorder, with the aim of offering them opportunities to restructure the way of thinking The problem assertively, stimulating them to new possibilities of reestablishing the emotional balance, giving continuity in the academic studies.
Keywords: Anxiety. Disorder. Panic. Neuropedagogy, Cognition and Behavior.
1 – INTRODUÇÃO
Acessos súbitos de ansiedade acompanhados de sintomas físicos e afetivos: a sensação é tão forte que o sentimento é de que vai desmaiar, ter um ataque cardíaco, enlouquecer ou mesmo morrer. Todos esses sintomas estimulam os portadores a vivenciarem sentimentos de incapacidade e insegurança intensa.
A vida atual, com as pessoas em movimento intenso, poderia nos conduzir à premissa de que este acontecimento é natural, no entanto, vamos encontrar na história do homem relatos de transtorno de angústia em comunidades consideradas tranquilas, independentemente do nível socioeconômico.
Na concepção da Neuropedagogia e a Psicologia cognitivo-Comportamental oferecerá caminhos que venham de encontro aos alunos universitários em estado de pânico e por este motivo estão prejudicados nos processos de aprendizagem. O adequado desenvolvimento biopsissocial cognitivo do aluno, estimulado pelo professor/educador, respeitando a individualidade, potencializando sua capacidade de aprender mesmo diante de um transtorno severo como o transtorno do pânico. (CARVALHO; FLOR, 2011, p. 224) Foi por volta de 1980 que o Transtorno de Pânico foi reconhecido como um problema psiquiátrico específico de ansiedade. Até aquela época, os ataques de pânicos eram considerados uma forma de ansiedade de livre variação. As abordagens de tratamento psicoterapêutico eram demoradas e não tinham uma resposta eficaz.
O Transtorno de pânico atinge uma proporção de 2% da população mundial e são as mulheres mais atingidas (Barlow, 1998). Uma possível explicação poderia ser por fatores hormonais e pelo comportamento aprendido.
Para relvas (2012), esse processo da neuropedagogia perpassa uma visão neurocientífica do processo não só de aprender, mas também em ensinar, porque contribui na “identificação de uma análise biopsicológica e comportamental do educando por meio dos estudos de anatomia e da fisiologia no sistema nervoso central” (p.53). Esse estudo possibilita ao professor elencar estratégias pedagógicas em relação ao seu conteúdo nos planejamentos.
Geralmente o transtorno se apresenta na fase adulta, justamente no momento em que a pessoas se entregam para o mundo acadêmico, universitário e do trabalho, assumindo responsabilidade com a sua própria família.
Este artigo trata-se de um breve levantamento bibliográfico a respeito desse transtorno que incapacita quem o vivencia. Os transtornos de ansiedade estão cada vez mais presentes na sociedade contemporânea e os tratamentos disponíveis estão entre os mais efetivos. Por essa razão, tratar-se-á aqui do processo da neuropedagogia cognitivo-comportamental no transtorno de pânico e da definição deste transtorno de ansiedade, bem como da exposição de alguns conceitos relativos ao assunto, tudo com base numa sucinta revisão de teóricos reconhecidos.
Não é fácil perceber se uma ansiedade é patológica ou não (HAWTON, 1997). Durante os últimos 20 anos, houve um grande progresso no campo dos estudos neurobiológicos, genéticos, psicofarmológicos e comportamentais e o professor/educador atento a esta postura poderá auxiliar significadamente para o aluno universitário que vivencia do transtorno do pânico em sala de aula.
Existem fortes evidências de hereditariedade e, futuramente, com o conhecimento genético, esta característica estará ainda mais definida. Sabe-se que atualmente há 15% a 25% do transtorno de pânico em familiares de pacientes com quadro de patologia psiquiátrica. Em gêmeos monozigóticos, à taxa de concordância é de 40% (DALGALARONDO, 2008).
O suicídio no transtorno de pânico é comparável ao da depressão maior. Alguns autores apresentam que 20% a 40% já atentaram contra suas vidas. De 44% a 60% já tiveram ideias de suicídio. Tudo indica que a explicação para esse fenômeno é consequência do desenvolvimento da depressão (SCARPATO, 1998).
O transtorno de Pânico é classificado pelo DSM IV e pela CID 10 dentro dos distúrbios de ansiedade e considerando a pouca informação sobre o assunto, este artigo tem também interesse em expor uma síntese para informar e esclarecer dúvidas aos interessados, estimulando-os para novas pesquisas (SCARPATO, 1998).
PROBLEMA: Como a ciência da “Neuropedagogia Cognitivo-Comportamental Clinica” poderá contribuir para amenizar o problema do transtorno de Pânico em alunos Universitários em sala de aula?
METODOLOGIA: Revisão literária a partir dos artigos, livros e textos de assuntos especializados.
RESULTADOS: Foram descritos os fundamentos da eficácia da “Neuropedagogia Cognitivo Comportamental Clínica” na aplicação do transtorno de pânico e revisadas as evidências de eficácia em curto e longo prazos aplicados por professores/educadores em Universidades em sala de aula.
CONCLUSÕES: A “Neuropedagogia Cognitivo-Comportamental clínica” é eficaz na atuação individual ou em grupo para alunos Universitários com transtorno de pânico, seja como abordagem de primeira linha ou como um próximo passo para alunos com resposta parcial a outros tratamentos.
2 –TRANSTORNO DE PÂNICO
A ansiedade tem função evolutiva de proteção. É uma reação biológica de resposta ao contexto ambiental, associada à manifestação emocional que dentro de certos limites é necessária ao ser humano. “A ansiedade se torna patológica quando muito intensa ou desproporcional ao estímulo que a originou ou quando surge sem que haja um motivo para isso” (SKINNER, 1980; apud SILVA, 2003). Quando a ansiedade é intensa e recorrente pode originar o que se conhece como o medo, de sentir medo, ou o ciclo cognitivo do medo provocando o transtorno de pânico. Veja a figura a seguir para facilitar a compreensão.
SADOCK (2007) caracteriza o transtorno de pânico pela ocorrência espontânea e inesperada de ataques de pânico, isto é, períodos distintos de medo intenso ou desconforto que podem variar de vários ataques por dia a apenas poucos por ano. “O ataque dura, em média, de 20 a 30 minutos e raramente mais de uma hora”.
O mesmo autor diz que o primeiro ataque de pânico costuma ser espontâneo, embora muitos possam estar relacionados à excitação, esforço físico, atividade sexual ou trauma emocional moderado.
Silva (2003) afirma que o transtorno de pânico é uma desordem emocional e está entre os problemas mais frequentes e incapacitadores na área dos transtornos mentais, derivada das ansiedades. “A síndrome do pânico é produto da aprendizagem que a pessoa é capaz de articular com seu repertório comportamental e as estimulações internas e externas. Existem fortes evidências de hereditariedade”.
É um episódio de medo, uma intensa crise de ansiedade, com sintomas psíquicos próprios e acompanhados de sinais neurológicos, gastrointestinais, cardíacos, pulmonares, que frequentemente simulam doenças orgânicas. O sofrimento psíquico subentende o medo de morrer, perder a razão e o próprio controle. Pode haver concomitância ou não com agorafobia. O agorafóbico é incapaz de fazer qualquer coisa se estiver desacompanhado (SILVA, 2003).
Agorafobia é a aversão a locais ou situações nos quais possa ser difícil (ou embaraçoso) escapar ou onde o auxílio pode não estar disponível caso tenha um ataque de pânico. Os ataques agorafóbicos podem envolver as seguintes situações evitadas: estar fora de casa desacompanhado; estar em sala de aula; estar em meio a uma multidão ou permanecer numa fila; estar em uma ponte; viajar de ônibus, metrô ou automóvel, (ASSAGIOLI, 1966).
De acordo com Sadock (2007, p. 643) os alunos não podem designar a fonte de seu medo; podem se sentir confusos e problemas em se concentrar. O ataque de pânico também pode revelar ruminação, dificuldade na fala e comprometimento da memória.
O paciente com transtorno de pânico apresenta alteração da percepção com generalizações persecutórias, visão em túnel e abstração seletiva. Faz uma interpretação errônea da realidade, distorcendo as informações extraídas do meio, através dos órgãos sensoriais.
Há uma inundação da consciência por estímulos aversivos que desorganizam a percepção da pessoa e a levam a um estado de intensa angústia. Está ocorrendo uma superexcitação interna, além do que pode ser integrado e suportado. O que a pessoa não consegue perceber como emoção ou sentimento é vivido como reações desordenadas do corpo, confusão mental (SILVA, 2003).
O transtorno de pânico se apresenta “como ataques espontâneos de perigo ou morte iminente, associados a sintomas de hiperatividade autonômica” (NETO; ELKIS, 2007, p. 298). Os sintomas mais facilmente percebidos são palpitações ou taquicardia, sudorese, tremores, sensações de falta de ar ou sufocamento, sensações de asfixia, dor ou desconforto torácico, náusea ou desconforto abdominal, sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio, medo de perder o controle ou enlouquecer, medo de morrer, parestesias (anestesias ou sensações de formigamento), calafrios ou ondas de calor. De acordo com Dalgalarrondo (2006), “nas crises intensas, os pacientes podem experimentar diversos graus da chamada despersonalização”. Esta se revela como sensação de “cabeça leve” e de o corpo ficar estranho; há um estranhamento de si. “Pode ocorrer também à desrealização (sensação de que o ambiente, antes familiar, parece estranho, diferente, não familiar) ”.
Chalub (1997), citado por Dalgalarrondo (2006) menciona que as crises “são, muitas vezes, desencadeadas por determinadas condições como: aglomerados humanos (Universidades), ficar preso (ou com dificuldade para sair) em congestionamentos no trânsito, supermercados com muita gente, shopping centers, situações de ameaça, etc.”.
Para Neto e Elkis (2007) a pessoa pode ser acometida pela crise de pânico quando fica apreensiva diante de sensações emocionais e físicas com consequente descarga de adrenalina que intensifica tais sensações e as interpreta negativamente de forma catastrófica irremediável. Para explicar a vulnerabilidade desenvolvida pelo aluno veja a figura a seguir:
As crises de pânico podem ocorrer em qualquer época da vida, sendo mais frequentes no final da adolescência e início da vida adulta, quando a pessoa entra para a Universidade. Pessoas com baixa autoestima e pouca autoconfiança julgam que possuem recursos insuficientes para enfrentar seus problemas. Os portadores do transtorno, geralmente se isolam por sentirem-se envergonhados e não conseguirem definir o que sentem. Para Silva (2003) “as pessoas com transtorno de pânico, podem ficar desacreditadas pelos familiares e podem entrar em depressão profunda”. A depressão explica o risco de suicídio e pode ser originada também pela falta de um acompanhamento (tratamento) adequado.
3 – Neuropedagogia
A Neuropedagogia se importa para as questões do cérebro humano referente a questão de aprendizagem. Ligada aos processos de neurociência, a neuropedagogia oferece caminhos para o professor atuar com alunos que vivenciam o transtorno de pânico e necessitam de uma abordagem diferenciada. O verdadeiro sentido neste processo de aprendizagem é perceber que mesmo diante dos desafios do aluno com pânico, a neurociência poderá atuar de forma diferenciada no processo de aprender. Quando o professor/educador respeita os mecanismos cerebrais que são basicamente o hipotálomo, o sistema límbico e o córtex, sua instrumentalização passará a ser assertiva, estimulando o aprender do aluno mesmo diante de uma intensa ansiedade.
De acordo com Alves (2010), a Neuropedagogia engloba concepções de funcionamento do cérebro humano para aprender e as formas de entendimento dessa aprendizagem armazenada, mas ainda envolver a escola com metodologias orientadas ao melhor desempenho cognitivo.
O hipotálamo é o órgão localizado na base do crânio que controla as funções de sobrevivência. O aluno com pânico estimula esta parte do cérebro que fica em evidência por motivo de se sentir ameaçado e com medo intenso. A função do hipocampo também se estende para o centro da fome, da saciedade, da sede e do impulso sexual.
O sistema Límbico possui a função voltada para os afetos, sentimentos, emoções. Nota se que o aluno com pânico altera totalmente o seu sistema límbico, pois suas emoções ficam totalmente alteradas, como, por exemplo: medo, raiva, frustração, terror, ansiedade e outros.
O Córtex gerencia três grandes áreas importantes: controle do movimento e equilíbrio do corpo, a percepção dos sentidos e os processos cognitivos.
É muito importante o professor ficar atento para o comportamento do mesmo em sala de aula pelos vários motivos, entre eles se destacam: ele é um ser social, afetivo, cognitivo, psicomotor e perceptivo.
Goleman afirma que LeDoux (1996), neurocientista do Centro de Ciência Neural da Universidade de Nova Iorque, descobriu o papel-chave da amígdala no cérebro emocional. Paralelamente às conhecidas projeções das aferências sensitivas e sensoriais do tálamo sobre o córtex que então viabilizam a identificação do estímulo em questão e que orquestram uma reação elaborada, “pensada”, como resposta, LeDoux et al (1996), descreveram que o tálamo também projeta as aferências sensoriais sobre a amígdala que, então, atua diretamente sobre o tronco encefálico. Esta via mais direta acarreta, portanto, respostas inespecíficas e mais rápidas (com intensos componentes autonômicos), prévias às respostas processadas pelo córtex cerebral, o que explica, por exemplo, reações abruptas de medo frente a determinadas situações. Em relação a esses embricamentos funcionais, é ainda interessante a observação de LeDoux et al (1996) de que, dado o fato da amígdala apresentar um amadurecimento funcional prévio em relação ao hipocampo e ao resto do córtex cerebral, o armazenamento das primeiras lembranças com carga emocional pode ocorrer de maneira ainda pouco elaborada e se tornar um elemento de memória não apropriadamente codificado e que, eventualmente, pode vir ser posteriormente mobilizado de forma também inapropriada.
Para o professor/educador que atua com alunos universitários com pânico a “Neuropedagogia Cognitivo-Comportamental Clínica” contribuirá para a melhora do mesmo, pois ela é uma ciência abrangente, que necessita de um olhar diferenciado no processo de ensino, aprendizado, a memória e a motivação ficam afetadas pela carga emocional de quem vive o problema.
A educação formal necessita ser revisada e sair de uma postura reducionista, segundo Flor (2011) é preciso “ensinar o indivíduo a aprender a aprender, a aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a se comunicar, e não apenas reproduzir e memorizar informações, mas, sim, desenvolver competências de resolução de problemas”. Ainda no mesmo pensamento de Taricano (2009) ressalta a importância do ensino da lógica e do conhecimento de técnicas apropriadas conforme o funcionamento cerebral para tornar a aprendizagem mais eficaz.
A Neuropedagogia uma ciência inteligente baseada nos pilares da neurologia e pedagogia capaz de oferecer ao professor alternativas eficazes de atuação no campo pedagógico. Quando o professor instrumentaliza no campo de trabalho os aspectos múltiplos cognitivos, a estimula a vivenciar os sonhos, memoria, tomada de decisão e todos os processos mentais do aluno, surgem a espontaneidade e a inteligência emocional, facilitando o mesmo a lidar melhor com o problema de ansiedade provocada pelo pânico.
De acordo Pitta (2006), algumas pessoas preferem escutar e pensar as palavras, numa dimensão da programação neurolinguística, tornando-se característicos do sistema representacional auditivo. Isso indica a facilidade de alguns em memorizar mais facilmente algumas informações ao ouvi-las com atenção, em detrimento ao que se pensa, para armazenar dados relevantes é preciso apenas repetir várias vezes ou ficar visualizando por escrito. Mais realidade ainda, quando o professor na sala de aula faz com que todos copiem e reproduzam várias vezes um conhecimento a fim de fixar no cérebro. O processo criativo emanado por uma mente estimulada no campo pedagógico produz bilhões de neurônios e outras células comunicando-se entre si por meio de um número intenso de conexões sinápticas e tudo isso acontece por um órgão que pesa aproximadamente 1,4 kg (cérebro).
E importante o professor entender que as sinapses são componentes essenciais da comunicação ao cérebro. Os neurônios assumem sua identidade, como sinalizadores químicos. As funções inerentes a estas estruturas, que são: receber, analisar e armazenar os estímulos de natureza auditiva, tátil-cinestésica e visual, recodificar as informações recebidas, são nomeadas por Luria (2006, p. 233) como zonas secundárias das áreas corticais posteriores (aferentes). Os neurotransmissores têm papel importantíssimo por que se ligam a receptores localizados nos dendritos ou corpos celulares de outro neurônio, estimulando outros sinais fisioquímicos.
Nota-se aqui todo o processo cognitivo que o professor necessita entender e sua instrumentalização se volta para os estímulos adequados no momento de se trabalhar o processo de comunicação, percepção, inteligência e os pensamentos frente a todas as adversidades do aluno ao vivenciar o transtorno de pânico em sala de aula.
Os parâmetros curriculares nacionais abordam o assunto de formação adequada aos estudantes com atitudes dizendo que “não basta ensinar… ao realizarem procedimentos de observação e experimentação, os alunos buscam informações e estabelecem relações entre elementos dos ambientes” (BRASIL, 1997, p.32). Com isso, o professor/educador precisa desenvolver meios interativos para os estudantes entenderem e aquilo se torna verdadeira aprendizagem e não memorização. Esse reforço da observação para os estudantes do sistema visual preconiza entender elementos mais inter-relacionados aos ambientes vividos e aspectos vistos pelos mesmos e neste ponto os neurônios desempenham funções bem específicas.
Cada neurônio corresponde a uma tarefa deferente como, por exemplo: sorrir, entender, imaginar, nadar, chorar, interpretar, enxergar, etc. Os neurônios se organizam em grupos e os mesmos são responsáveis pelos movimentos corporais, oculares e a atenção para todos os processos perceptíveis dos acontecimentos ao redor do aluno.
Segundo Maia (2011), as funções cognitivas representadas pelo sistema sensorial cenestésico se concentram nos lobos frontais e parietais, e quando o professor/educador conhece as partes do cérebro que comandam as atitudes de seus alunos sua atuação se diferenciada no campo pedagógico.
4 – NEUROPEDAGOGIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A Neuropedagogia e a Psicologia Cognitivo-Comportamental Clínica baseiam-se em pressupostos claros em apresentar, aplicar princípios simples, objetivos e bem definidos.
Nota-se que alunos universitários com o transtorno de pânico tornam-se susceptíveis a desenvolver uma interpretação catastrófica e pensamentos pessimistas dos fenômenos observados e vivenciados.
A Neuropedagogia Cognitivo-Comportamental tem por objetivo auxiliar o aluno Universitário a identificar, avaliar e modificar os pensamentos que precipitam e causam desconforto.
A postura do professor/educador que utiliza a ciência neuropedagógica deverá ser levada em consideração como um aspecto importante no processo da modificação comportamental. Empatia, cordialidade, compreensão, afetuosidade e motivação para ajudar são fatores imprescindíveis para quem sofre com o transtorno.
De uma forma breve, pretende-se apresentar os benefícios da neuropedagogia e a psicologia cognitivo-comportamental com estratégias de enfrentamento baseadas em informações que já foram testadas e que têm eficácia comprovada em pacientes/alunos com pânico.
Percebe-se que com a tomada de consciência, os próprios pacientes/alunos procuram os psicólogos, os psiquiatras ou são encaminhados pelos médicos clínicos. É importante salientar que para alguns, o tratamento farmacoterapêutico é tão importante e eficaz quanto à “Neuropedagogia Cognitivo-Comportamental Clínica” no processo psicoterapêutico, oferecer informações sobre as etapas da terapia ajuda o paciente a perceber o significado do tratamento.
Algumas etapas poderão fazer parte para estimular o paciente/aluno a se engajar e se motivar:
(1) – Fornecimento de informação ao paciente sobre o modelo da “Neuropedagogia Cognitivo Comportamental” e o ciclo do pânico.
(2) – Identificação das situações evitadas, das sensações corporais, pensamentos automáticos e interpretações errôneas que os acompanham.
(3) – Elaboração de uma lista hierárquica de situações que o indivíduo tem receio de enfrentar. (4) – Treino de respiração e relaxamento, exposição interoceptiva.
(5) – Exame, pelo cliente, das interpretações errôneas e estratégias cognitivas para sua correção: exame de evidências, explicações alternativas.
(6) – Decatastrofização de tarefas de casa: identificação dos sintomas, uso das técnicas cognitivas (HAWTON e SALKOVSKIS, 1997).
As etapas aqui apresentadas necessitam ser articuladas em uma aplicação psicodinâmica, respeitando sempre a condição individual, psiconeurobiológica e sociológica de cada paciente/aluno.
Small (1974) define a terapia breve “como um tratamento no qual a extensão, a frequência e a duração da entrevista são determinadas pelo mínimo necessário para se atingir a melhor condição possível para o aluno/paciente”. Ela não busca a reconstrução da personalidade, exceto se se considerar que qualquer intervenção dinâmica leva, secundariamente, à sua reestruturação. Sua finalidade é dirigida para o alívio da sintomatologia e fortalecimento dos mecanismos de defesa existentes, procurando desenvolver suficientemente o conforto do aluno para se comportar em sala de aula no processo de aprendizado.
O que se pretende com a psicoterapia breve com alunos que vivenciam o transtorno de pânico em sala de aula em Universidades:
[…] é fornecer uma intervenção imediata num problema onde ocorra um distúrbio psicológico de certo nível, a fim de melhorar os sintomas – não curá-los, e sim restabelecer o estado de equilíbrio anterior, mais eficiente, ou talvez alcançar um estado de equilíbrio mais permanente. (SMALL, 1974, p. 17)
A abordagem neuropedagógica pode ser vista como um procedimento breve e foi derivada das teorias psicanalíticas e da aprendizagem; e tem suas próprias técnicas de tratamento e critérios específicos.
Enfatiza o desenvolvimento de uma experiência emocional corretiva que visa à reparação de eventos traumáticos passados e conscientiza o paciente da possibilidade de novos pensamentos, sentimentos e comportamentos.
As psicoterapias breves são um componente importante dos métodos atuais para tratar uma variedade de transtornos mentais. Abordagens e tratamentos de curto prazo (também chamadas de psicoterapia de tempo limitado) não apenas ajudam as pessoas a lidarem com problemas e crises atuais, mas também são úteis para transtornos mentais maiores como os de ansiedade (SADOCK, 2007, p. 990).
Este mesmo autor considera ainda outras variáveis que limitam a terapia breve: (1) compreensão das forças que desencadeiam o distúrbio;
(2) reconhecimento de alguns dos problemas da personalidade que interferem no melhor ajustamento da vida;
(3) compreensão parcial da origem dessas circunstâncias nas experiências do passado; (4) nível de conscientização do relacionamento entre os problemas predominantes da personalidade e a doença em questão;
(5) compreensão das medidas que podem contornar as dificuldades atuais do meio. “A psicoterapia breve é um paliativo; em vez de reformular o indivíduo de dentro para fora, ela o ampara de fora para dentro” (SMALL, 1974, p. 18). É um incentivo e conduz a uma verdadeira maturação, implicando numa identificação proveitosa com o terapeuta, associada a um fortalecimento da autoestima e a uma maior tolerância a impulsos anteriormente inaceitáveis.
Requer o estabelecimento de um foco terapêutico, a capacidade de interação emocional, a história de relacionamentos de troca e a capacidade de os alunos/pacientes experimentarem e tolerarem ansiedade, culpa, depressão, além da motivação para a mudança e disposição psicológica. É necessária ainda a identificação das situações evitadas, das sensações corporais, dos pensamentos automáticos e das interpretações errôneas.
É importante estimular o aluno/paciente a avaliar com clareza suas dificuldades emocionais para tomar consciência e responder às interpretações do estresse do tratamento com mais assertividade. Concentrar-se na determinação do mesmo e na exploração de crises para o melhor amadurecimento psicoemocional. Os conflitos interpessoais deverão ser identificados e trabalhados em sessões psicoterapêuticas, encorajando o aluno a estabelecer relacionamentos e a diminuir o isolamento social.
Uma das terapias breves mais utilizadas no tratamento do transtorno de Pânico é a Cognitivo-comportamental. Seu foco principal é oferecer uma resposta positiva, rápida, estruturada, orientada para problemas atuais, utilizando a colaboração ativa entre paciente e terapeuta no tratamento (BECK e ALFORD, 2000).
A psicoterapia cognitivo-comportamental sugere alguns pressupostos básicos para se alcançar os objetivos propostos no tratamento, entre eles, destacamos:
(1) Percepção e experiência em geral são processos ativos que envolvem dados de inspeção e introspecção;
(2) As cognições representam uma síntese de estímulos internos e externos; (3) Como as pessoas avaliam uma situação costuma ser evidente em suas cognições (pensamentos e imagens visuais);
(4) Tais cognições constituem o fluxo de consciência ou campo fenomenal, que reflete a configuração que se tem de si próprios, de seu mundo, de seu passado e de seu futuro; (5) Alterações no conteúdo das estruturas cognitivas subjacentes afetam seus estados afetivos e padrões comportamentais;
(6) Com terapia psicológica, os pacientes podem tomar consciência das distorções cognitivas;
(7) A correção dos construtos disfuncionais defeituosos pode levar a melhora clínica (HAWTON e SALKOVSKIS, 1997).
O objetivo principal da terapia cognitiva é enfatizar e alterar as distorções cognitivas que mantém os sintomas. A terapia requer uma explicação completa do relacionamento entre pensamento, afeto e comportamento, bem como a razão para todos os aspectos do tratamento. A abordagem inclui três processos:
(1) Evocação de pensamentos automáticos – também chamados de distorções cognitivas, se interpõem entre eventos externos e reação emocional da pessoa;
(2) Testagem de pensamentos automáticos: objetiva encorajar o paciente a rejeitar pensamentos automáticos incorretos ou exagerados após exame cuidadoso; (3) Identificação de pressupostos mal adaptativos: à medida que terapeuta e paciente continuam a identificar pensamentos automáticos, certos padrões passam a se tornar evidentes (HAWTON e SALKOVSKIS, 1997).
Assagioli, (1996) atribui importância quando os indivíduos são encorajados a terem autoconfiança fazendo coisas simples. Segundo o mesmo autor, alguns aspectos são fundamentais para atribuição de tarefas graduais:
(1) Definição do problema.
(2) Formulação de um projeto com atribuição de tarefas da simples à complexa. (3) Observação imediata e direta pelos pacientes de que são capazes de alcançar um objetivo específico. O feedback concreto contínuo fornece uma nova informação corretiva em relação à sua capacidade funcional.
(4) Ventilação de dúvidas, reações e depreciações de suas realizações.
(5) Encorajamento de avaliação realística acerca do desempenho real.
(6) Ênfase no fato de que os pacientes alcançaram objetivos como resultado de seus próprios esforços e habilidades.
(7) Planejamento de atribuições novas, complexas, em colaboração com os pacientes. Na psicoterapia breve o “Neuropsicopedagogo” deve adaptar a técnica à necessidade do aluno/paciente, com uma intervenção ativa e diretiva, respeitando sempre os processos de transferência e contratransferência para não desenvolver uma dependência. Segundo Neto e Elis (2007), o quadro clínico que o paciente apresenta é complexo, com a participação das seguintes variáveis:
(1) Vulnerabilidade biológica: determinada pela genética;
(2) História de vida e aprendizagem: relacionadas à autoestima e autoconfiança;
(3) Pensamentos negativos: o pensamento catastrófico facilita o desencadear das crises; (4) Hipervigilância: Interpretação de situações como sendo perigosas;
(5) Hiperventilação: gera descargas do sistema nervoso autonômico;
(6) Pouca discriminação das emoções e sensações corporais;
(7) Ansiedade antecipatória;
(8) Vida familiar: a pessoa perde a autonomia e isso pode comprometer a vida econômica da família, o lazer e gerar todo tipo de conflito.
Ao iniciar a abordagem neuropsicopedagógica o aluno universitário com transtorno de pânico, é necessária a investigação minuciosa de todos esses fatores. A orientação sobre o problema é muito importante, pois a informação facilita a cooperação e traz o alívio.
É importante focalizar também as falsas crenças do paciente que o levam a interpretar equivocadamente sensações corporais leves como indicativos iminentes de ataques de pânico, tragédia ou morte. Sendo assim, devem-se incluir explicações de que quando os ataques de pânico ocorrem, são por tempo limitado e não ameaçam a vida.
O professor educador/terapeuta deve “intermediar a conduta adequada da família com o paciente, tendo em vista que o quadro é de difícil compreensão e são atribuídos preconceituosamente à loucura, manipulação, histeria ou fraqueza” (SILVA, 2003).
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que abordagens farmacológicas e “Neuropedagogia-Cognitivo comportamental Clínica Breve” (WOLBERG, 1979) comprovaram ser úteis no combate ao transtorno de pânico. A superação do transtorno de pânico é possível através da elaboração das emoções, reorganização dos padrões fisiológicos que originaram o pânico e pela criação de alternativas pessoais mais satisfatórias apresentadas no ambiente de estímulo. Para BECK, 2000, o esquema cognitivo tem por objetivo reunir recursos mentais, organizando o ambiente de estímulos e antecipando a percepção dos fatos. Esta abordagem, contribui consideravelmente, para que o aluno/paciente possa administrar a sua forma de interpretar, sentir e se realizar nos contatos interpessoais, fortalecendo a sua identidade. Como resultado, a ansiedade e a angústia se dessensibilizam e o aluno/paciente resgata sua autoestima, segurança pessoal e retoma para os interesses dos projetos pessoais. Embora o tratamento psicológico e psiquiátrico do transtorno de pânico ser em uma abordagem breve, é importante o acompanhamento dos pacientes a longo prazo.
Por fim, o estudo do cérebro/encéfalo e suas contribuições para a educação representa um novo mundo na relação das ciências demonstrando a efetividade, eficiência e eficácia para o desenvolvimento das pessoas, especialmente os alunos universitários que se encontram vulneráveis. Assim, a “Neuropedagogia”, “Neuropsicopedagogia”, “Neuropsicologia” e a “Neurocência Comportamental” poderão colaborar expressivamente com práticas educativas e clínicas baseadas nos processos de psicoterapia e ensino/aprendizagem envolvendo a emoção ou psicoemocional do estudante como incentivo ao estímulo psicocerebral.
Portanto, desenvolver um repertório comportamental adequado para a resolução de problemas reais no contexto sociocultural dos indivíduos, como dizia o teórico (LURIA, 1992, p.48), salientando a construção social da mente no saber/conhecimento é ato de inteligência pura do Ser Humano. Dessa forma, os temas abordados nesse trabalho não se esgotam nas possibilidades de pesquisa no aspecto da “Neuropedagogia Cognitivo-Comportamental Clínica”, sendo necessário maior investimento e interesse das instituições públicas e privadas nos estudos para ampliar metodologias capazes de melhorar a atuação do docente no ensino, assim facilitar a aprendizagem para os estudantes universitários, num processo dialógico e com a (e) fetividade nas relações humanas e escolares.
5 – REFERÊNCIAS
1 -ASSAGIOLI, Roberto. Psicossíntese: manual de princípios e técnicas. Trad. Álvaro Cabral. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1996.
2 -Barlow DH. Anxiety and its disorders: the nature and treatment of anxiety and panic. New York: Guilford Press; 1988.
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Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. E-mail: adrins@terra.com.br. Colunista do Factótum Cultural.
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