por Illyana Magalhães

Boa tarde. Após meu café tomado e meu brioche ingerido, lá vamos nós a mais um texto de sexta-feira. Normalmente eu tenho uma lista de assuntos nos quais me sugerem a escrita ou eu simplesmente passo o olho na lista de rascunhos e dou continuidade a textos não terminados. Hoje agirei na contramão e vou escrever baseada em um artigo que acabei de ler sobre os traumas infantis e a repercussão negativa destes na vida adulta. Sem texto base, sem rascunho. Apenas papel, bunda na cadeira e caneta.
Pois bem. Durante anos de minha existência deixei oculta a minha história de vida, ora por medo, vergonha ou até mesmo privacidade. Eu tinha medo das pessoas utilizarem isso como forma de me machucar ou ofender, fato que vivenciei na escola. Entretanto, após um jantar com amigos que ocorreu na cidade de Baixo Guandu/ES a minha mentalidade simplesmente mudou. Explico.
Em 2017 eu estava jantando com um grande amigo e seu melhor amigo, pessoa na qual eu não conhecia até o momento. Josê (nome fictício, claro) aparentava certo desanimo e, levado pela comparação de nossas idades, começou a me dar conselhos acerca da vida. Salvo engano ele tinha sessenta anos à época. Ele acreditava que pelo fato de eu ter meus vinte e poucos anos eu deveria ser orientada por alguém mais “sábio” assim dizendo. Ao relatar a sua infância eu notei que ele começou a chorar e disse ter sido negligenciado pelo pai pois ele trabalhava demais e não foi capaz de ter lhe dado o amor que merecia. Relatou agressões. Agressões, leia-se, puxões na orelha e alguns tapas na bunda.
Ao continuar sua história, meu grande amigo me olhava com certo carinho pois ele conhecia a minha vida e sabia que esse assunto não me era inusitado. Jose, finalmente, informou que seu pai deixara uma grande herança para os filhos e afirmou que nunca precisara trabalhar, utilizando seu tempo exclusivamente para ler, estudar, viajar e cumprir as atividades domésticas do lar.
Eu não sou o tipo de pessoa que compara dores. A título de exemplo: se Pedro me fala que está triste pois perdeu seu celular eu não vou dizer que estou mais triste pois perdi dois celulares. Afinal, eu não sei o valor que cada um atribui a sua própria insatisfação. Eu sei da minha experiência de vida e visão de mundo. Entretanto, e aqui cabe certa cautela: é interessante que nós não pioremos uma situação que, por sua natureza, já é ruim. A nossa mente é capaz de absolutamente tudo, cabe a você filtrar os pensamentos que a permeiam.
Meu amigo pediu autorização para relatar a minha história e José, comovido, deu-me um abraço apertado. Disse ter sentido vergonha de suas lamurias. É obvio que eu não o reprimi, mas não pude deixar de alerta-lo que, por mais que a vida tenha sido infeliz nesse sentido, ele ainda poderia fazer diferente assim como eu faço todo santo dia.
Hoje cedo, por exemplo, li um artigo (citado na introdução) esmiuçando traços negativos deixados na vida de pessoas que sofreram traumas e abusos na infância. Eu nunca vi um artigo falando sobre a parte boa disso tudo. Eu sei que é difícil você ver parte boa quando, por exemplo, um genitor o agride e o envia para o orfanato (falo por experiência), mas se você não olhar a parte boa o que lhe resta se não lamuriar toda uma vida diante de fatos que não podem ser mudados assim como José fazia?!
Eu não sou Karnal da vida que pega um trecho de um livro bonito e escreve frases pomposas sugerindo conselhos de coisas nas quais provavelmente ele nunca viveu. Eu sou uma pessoa que pega a minha experiência de vida e uno a sua experiência de vida e, talvez, eu inclua uma frase de algum escritor que eu goste e dou um conselho que me foi útil. Pronto. Essa é a minha maneira de escrita e ajuda.
Desde 2017 Jose me envia mensagens agradecendo por aquela conversa, por mais dura que ela possa ter sido. Acalenta-me o coração saber que o ajudei e, quem sabe, esse texto possa ajudar alguém que ainda piore situações que já são ruins em sua natureza. Cabe apenas a nós seguirmos a nossa terapia, construirmos dias melhores e fazermos do presente um momento tão especial que dificilmente nos lembremos de algo que aconteceu dez mil anos atrás e que não pode ser mudado, apenas ressignificado.
Bem, e isso : ) Espero que vocês tenham gostado do texto, deixem o seu “curtir” no link abaixo e não se esqueçam dos comentários (heheeh). Beijão e tenha um ótimo final de semana!

Illyana Magalhães é advogada, aspirante a filósofa e escritora. Brasileira transitando em Londres. Colunista do Factótum Cultural.
Os artigos publicados, por colunistas e articulistas, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Factótum Cultural.






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