E sim, as coisas que fiz por amor

E sim, as coisas que fiz por amor.
Ei-lo aqui novamente.
Amor.
Será?
Será mesmo, a conturbada noção, a que somos submetidos a acreditar e buscar, da necessidade de completude a qualquer custo, o tão aclamado amor?
A inquietude que toma conta e chama-se de solidão.
Ora vítimas, ora algozes.
De nós mesmos.
Aquele amor que dilacera, subjuga, abate.
Uma atitude que oscila entre euforia e ameaça.
Uma constante necessidade de sobreposições de máscaras.
E que, mesmo assim, surge o desprezo que rasga a alma no olhar do outro.
Surge a busca por outros olhares, outros corpos, outros padrões.
Amor dói. Essa é a lição que se tatua desde muito cedo.
E não se discorre apenas sobre a mais bruta das dores, aquela que desfaz a carne.
Também há aquela invisível, mas não menos cruel, que consome pouco a pouco.
Palavra por palavra, imposição por imposição.
E inconscientemente, se instala e toma conta.
E o sujeito já não é, a não ser que seja através do objeto do seu amor.
Dor, possessão, anulação.
Não ter poder de decisão e crítica é o papel adequado.
Ser para o outro, pelo outro, através do outro. Já não é.
Aquele sentir que desespera, ansia, desequilibra.
Machuca.
E você permanece.
Sem, não há felicidade, não há prazer, não há identidade, não há exibição.
Não há sentido uma vida sem.
Por que a escolha do que nos faz em pedaços?
Pois há um ordenamento social que te incumbe a ter alguém.
Mas não te mostraram como amar antes disso. O primeiro de todos eles, o amor de si.
Não se oferta o que não se tem.
E se aceita muito pouco, se aceita a dor.
Se destrói para ser aceito.
Se morre, metaforicamente ou não, pela própria mão ou pela do outro ou, ainda, desse sistema mandatório que aos poucos te leva, te sufoca.

Marcela Wengerkiewicz é Graduada em Letras português/inglês pela Universidade Estadual do Paraná, Campus de União da Vitória. Servidora do Ministério Público do Estado do Paraná. Contista do Factótum Cultural.
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