Ser ou não ser, eis a questão
Por Illyana Magalhães

Tolo é aquele que pensa que a felicidade é um sentimento que nos alicerça diariamente. Aliás, eu sempre desconfiei daqueles que se autointitulam felizes o tempo inteiro. Aos olhares de terceiros e de si próprio, não passa de um mero ser que mascara sua mais profunda infelicidade. Engana-se, quando deturpa o conceito de um estado que possui um conceito abstrato, por vezes intangível, inexorável. Quando afirmo isso, pensam que sou infeliz. Mas, há uma linga tênue que separa o realista do mal-entendido.
A filosofia, e eu não preciso ir muito longe, sempre modulou os sentidos desse estado anímico que é inerente a alguns seres excepcionais desde seu nascimento (e aqui eu não incluo o coach) e de fácil acesso àqueles que se esforçam sobremaneira para tal. Aristóteles, em sua belíssima obra “Ética a Nicômaco’, defende que a felicidade seria o maior bem desejado pelos homens e, brilhantemente, se contrapõe à filosofia ulterior afirmando que felicidade não se trata de uma emoção passageira e o traduz numa relação intrínseca entre atividades que geram o bem e as virtudes de um ser humano.
A felicidade, portanto, trata-se de uma conquista diária árdua. Não basta simplesmente acordar e – voa-la! “Sou e estou feliz! ”. Primeiro porque trata-se de um estado de espírito e não de conquistas materiais, pessoais e/ou profissionais. É óbvio que aquele que sente prazer no que faz está um passo adiante daquele que o faz por obrigação. Mas isso não é o bastante. É necessário, na maioria das vezes, ser e não ter. É mais uma condição inerente a alma e a plenitude da vida humana. Observamos seres humanos transbordando felicidade em condições paupérrimas, absorvendo a felicidade até no mais íngreme degrau de sua simplicidade, quando outro ser humano – nas mesmas condições – se agarraria ao seu muro de lamentações diárias esperando cair alguma migalha simplória de felicidade.
Não percebemos que, embora a conquista seja árdua, a felicidade pode estar no caminho, na lição, no alimento, no grão, na dor (sim, na dor), na leitura, no silêncio. A felicidade, pode estar, inclusive, na própria infelicidade. Pois, não basta galgar a felicidade. Basta sê-lo.

Illyana Magalhães, advogada escritora que vive pelo mundo em busca de conhecimento e fonte de viver. Colunista do Factótum Cultural.
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