Todos os cantos do vento
Por Iara Aparecida Dams

Se um dia uma brisa leve e suave tocar seu rosto,
não tenha medo, é apenas minha saudade
que te beija em silêncio.[1]
Seja brisa, ventania ou furacão, o vento tem tantas faces e uma liberdade invejável. Acredito que é um dos elementos da natureza que possui mais interpretações, variável e indisciplinado é dono de um bailar incompreendido, mas que pode ser poetizado até pela alma mais turbulenta. Afinal, não existe turbulência sem vento.
Sempre levado, bagunça e revira tudo. O vento está vivo, tem opinião própria, como já dito, indisciplinado. Parece criança, e talvez seja, vem e vai brincando com tudo que toca, fazendo as folhas dançarem ao som das musas da natureza, mexendo com o equilíbrio das árvores e das sensações, enquanto beija os rostos de quem tem a alma leve o suficiente para entender o quão sublime ele é. E de repente ele se vai. O vento cessa. Como se estivesse cansado e precisasse de uma soneca.
O mesmo vento que nos toca e faz bagunça, é aquele que fora aclamado pelos marinheiros dos barcos a vela, que em alto mar se viram perdidos e sem esperança. Esperança que voltou a arder quando sentiram as brisas soprarem novamente. Poderíamos dizer que o vento surgiu do sopro divino que nos deu a vida?
O Vento foi,
O Vento vem,
Será que o vento já me atendeu?
Só resta agora você me entender,
Que esse vento é o nosso Deus![2]
Desculpem, é óbvio que o vento é um ser divino. Haveria maneira mais perfeita para explicar como o sentimos sem poder tocá-lo? Age como um companheiro da noite, soprando para lembrar que estamos vivos e podemos sentir. Podemos vivenciar o mundo.
Ser tão incompreendido, quando bagunceiro ou frio demais, fechamos a janela calando o seus assobios. Mas sejamos francos, os ventos de inverno merecem ficar do lado de fora, pois gostam de cortar nossa alma enquanto arrepiam a pele. Gélidos. Já no verão, toda brisa é bem vinda, parece que só pra contrariar irrita-se e vira temporal. Mas também, povo indeciso não sabe que elogia ou reclama dele.
O vento vem nos momentos mais inesperados, e leva com ele nossas palavras, mas deixa as emoções. Afinal, quem nunca fez um pedido ao vento, ou gritou aos quatro ventos desabafando o coração? Como pode um elemento da natureza ter tanta liberdade e autonomia sobre o mundo pelo qual vaga em um caminhar aparentemente sem destino?
Vento, ventania
Me leve sem destino
Quero juntar-me a você
E carregar
Os balões pro mar
Quero enrolar
As pipas nos fios
Mandar meus beijos
Pelo ar…[3]
O vento é teimoso, indeciso, belo, furioso, por vezes valente, ora cansado. Já dizia Vinicius de Moraes no poema O Vento: “Estou vivo mas não tenho corpo, Por isso é que não tenho forma”[4]. O vento é vida, desordem e esperança. Mensageiro que nada diz, mas tudo revela, um deus que nos diz “bom dia” quando abrimos a janela.
[1]Autor desconhecido, disponível em: <https://www.pensador.com/frase/MTg5OTg/>
[2]Os Monarcas, O Vento.
[3]Biquini Cavadão, Vento Ventania.
[4]Vinicius de Moraes, O Vento.

Iara Aparecida Dams, Professora do ensino fundamental I no Colégio Santos Anjos – PU. Graduada em Letras: Português/Espanhol (UNESPAR). Pós-graduada em Alfabetização, Letramento e Literatura Infantil (UNINA). Cursando Pedagogia (UNIASSELVI). Poetisa e escritora. Colunista do Factótum Cultural.
Os artigos publicados, por colunistas e articulistas, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Factótum Cultural.
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Perfeito… Sem palavras pra elogiar tamanha grandeza!
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