Por que ler mulheres?
Por Pâmela Bueno Costa

A pergunta parece simples. Porém, na sociedade em que vivemos, cravada em suas raízes por um patriarcado, precisamos responder com muita ênfase: é necessário. É urgente. É primordial para o avanço do conhecimento e para acabar com o epistemicídio que insiste em silenciar as mulheres, é um dever ético!
É imprescindível romper os véus do patriarcalismo, da misoginia e do sexismo dentro da produção de conhecimento em ambientes formativos. Conhecimento esse que, na maioria das vezes, é feito apenas pela elite pensante formada por homens, aliás, homem–cis–branco–ocidental.
Nesse sentido, por que ainda pensar tal questão? Infelizmente, ainda existe a ideia de uma pretensa razão universal predominantemente masculina, ou seja, o direito à fala e à escrita são masculinas e se mantêm há séculos de um falocentrismo que não inclui as mulheres como produtoras de conhecimento. O que nos permite indagar sobre muitas questões, de fato, perguntar por que ler mulheres principalmente na Filosofia? Mais que uma questão epistemológica, é sobretudo uma questão política. Temos uma história que privilegia um sexo biológico, apenas um grupo de indivíduos que detém o poder sobre o conhecimento e sua produção. Entretanto, não é somente a questão de gênero que sufoca as mulheres, mas sim as questões socioeconômicas, as questões ético-raciais e culturais. É urgente uma desconstrução e o caminho, sabemos qual é – e há muito tempo, muitas mulheres vêm fazendo barulho e ecoando suas vozes. Esses séculos de silenciamento e injustiças precisam ser reparados e todas as vozes precisam ser ouvidas. Além disso, é tarefa dos professores e pesquisadores analisarem todas as situações de opressão, sejam de sexismo, racismo e gênero dentro dos ambientes formativos.
A disciplina Laboratório do Ensino de Filosofia busca, nesse sentido, discutir a contribuição das mulheres na Filosofia. Pensando na luta contra as desigualdades dentro dos espaços acadêmicos, constitui como parte da disciplina a leitura e produção de pesquisa (artigo ou ensaio) sobre mulheres na Filosofia.
Ler mulheres, escrever sobre mulheres na Filosofia, torna-se uma atividade essencial, a disciplina ministrada pelo professor Dr. Antonio Charles Santiago, busca divulgar a produção dos mestrandos, e assim dar mais visibilidade às produções das mulheres que são e foram silenciadas pela história, e, portanto, o Portal eletrônico Factótum, tornou-se o canal para a divulgação.
Como afirma Chimamanda Ngozi Adichie, em O perigo de uma história única, precisamos romper com a produção de uma única história: “as histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usadas para espoliar e caluniar, mas também podem ser usadas para humanizar. Elas podem despedaçar a dignidade de um povo, mas também podem reparar essa dignidade despedaçada” (2019, p. 32). E, nesse espaço, todas as histórias importam, todas as vozes, epistemologias e saberes que, ao longo de nossa história, foram silenciadas.

Pâmela Bueno Costa, professora de filosofia na rede estadual e particular de ensino – SC. Graduada em Filosofia. Pós-graduada em Ensino da Filosofia. Mestre em Ensino da Filosofia PROF-FILO. Cursando terceiro ano de Letras: Português/Espanhol (UNESPAR). Ilustradora amadora e aprendiz de aquarela. Colunista do Factótum Cultural.
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