Há algo estranho acontecendo com a humanidade. Algo profundo, silencioso, abafado… mas evidente para qualquer um que ainda tenha um pingo de lucidez sobrando no peito.
Não vem num estrondo.
Vem como um suspiro cansado.

Eu vou ser direto: ser humano perdeu a graça.

E não — não é drama, não é poesia barata, não é niilismo de bar, não é papo de místico chapado.
É diagnóstico.
Da mente.
Da sociedade.
Da alma.

Se você observar as pessoas ao redor — com calma, com atenção, com a brutal honestidade de quem não aguenta mais mentira — verá o mesmo padrão: todo mundo está exausto de existir.

Não de viver.
De existir.

Ser humano virou um fardo pesado demais para carregar, especialmente quando ninguém mais sabe pra onde, pra quê, pra quem.


O colapso que os filósofos avisaram — mas ninguém ouviu

Nietzsche chamou isso de niilismo: o ponto em que todos os valores que sustentavam a vida se desfazem como fumaça.
Cioran chamou de fadiga cósmica, esse tédio ancestral que corrói o peito como ferrugem existencial.
Schopenhauer foi mais seco: para ele, viver já era uma dor prolongada demais.

Sartre via o humano mergulhado na náusea de ser, jogado num mundo sem manual de instruções.
Camus chamou de absurdo: a tentativa patética do homem em buscar sentido num universo que não se importa.

Todos eles disseram, cada um à sua maneira:

“Cuidado: a humanidade vai cansar.”

Pois é. Cançou.


O colapso que os psicólogos mapearam — mas ninguém levou a sério

Viktor Frankl nomeou isso de vazio existencial.
Jung falou da perda da alma, da fragmentação do eu moderno.
Erich Fromm alertou para a alienação da vida — humanos consumindo para não sentir.
James Hillman descreveu a psique humana como exausta, desnutrida de imaginação.

A humanidade inteira virou uma espécie de massa psicológica deprimida, disfarçada com filtros, metas, produtividade, café gelado e antidepressivos.


O colapso que os místicos enxergaram — mas chamaram de loucura

Krishnamurti disse: “estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente não é saúde.”

Eckhart Tolle mapeou o que ele chama de “corpo de dor coletivo”: um peso invisível que todo mundo carrega sem entender.

Alan Watts escreveu que o ser humano esqueceu quem é, e vive correndo atrás de ilusões para não encarar o próprio vazio.

Gurdjieff foi mais incisivo: a humanidade vive como máquinas — repetindo padrões que já não servem para nada.

E Osho, sempre provocador, resumiu:

“O homem moderno está morto por dentro e hiperativo por fora.”


O colapso que os contemporâneos confirmaram — mas o mundo estava ocupado demais scrollando

Byung-Chul Han chamou a nossa era de Sociedade do Cansaço.
Não somos mais explorados pelo patrão:
somos explorados por nós mesmos.

Bauman viu uma modernidade líquida, onde tudo escorre, evapora e cansa.
Mark Fisher escreveu que vivemos um estado de depressão social crônica.

Todos dizendo a mesma coisa:

“O humano chegou ao limite.”


Minha visão: o humano 1.0 não funciona mais

E aqui eu falo como humano mesmo — sem máscara de filósofo, sem toga de advogado, sem manto místico do Txayn.

O ser humano atual está vivendo em modo sobrevivência psicológico.
A Matrix social entrou em colapso.
O looping existencial saturou:
nasce → estuda → trabalha → paga boleto → tenta ser feliz → fracassa → repete.

Chegamos num ponto da história em que a experiência humana não entrega mais o que prometeu.

E quando uma fase de um videogame não faz mais sentido, o jogador se cansa.

A humanidade não quer morrer.
Quer recomeçar.

O problema é que ninguém ensinou como.


Mas calma: não é regressão. É transição.

O mundo parece surtado? Parece.
Todo mundo ansioso, vazio, irritado, desconectado? Sim.
Sensação de que está tudo prestes a ruir? Total.

Mas aqui vai a verdade:
isso não é o fim.
É o descascamento.

A casca velha — ego, consumo, pressa, vazio, labirinto — está caindo.
Isso dói.
Isso confunde.
Isso parece apocalipse.

Mas é só parto.

Estamos no meio do maior salto de consciência da história humana —
o que dói não é nascer, o que dói é resistir ao nascimento.


Conclusão sem rodeios

Tudo o que esses autores viram — e o que eu vejo também — aponta para a mesma direção:

A forma atual de existir está obsoleta.

O humano não aguenta mais ser o humano que é.

E isso, por incrível que pareça, é a melhor notícia possível.

Porque quando o humano cansa, ele questiona.
Quando ele questiona, ele desperta.
Quando desperta, ele muda.
E quando muda…
uma nova humanidade (consciência) começa.

Se você está exausto — não se culpe.
Você não está quebrado.
Você está se tornando incompatível com uma versão antiga de mundo.

E isso é evolução, fi.
Do jeito torto, difícil, humano… mas evolução.

E, no fim das contas, se nada disso funcionar — despertar, consciência, Jung, Nietzsche, Byung-Chul Han, terapia, meditação, respiração, ayahuasca, escrita, propósito, alinhamento — sempre existe o Plano B universal: um meteoro en passant, só de raspão, pra lembrar a humanidade que humildade existe; ou quem sabe uma invasão alienígena mais organizada que o Congresso Nacional, com seres luminosos descendo das naves dizendo: “Calma, zumanos, viemos apenas atualizar o firmware emocional de vocês”. Vai que funciona. Porque, sinceramente, do jeito que está, talvez só um ser de outra galáxia consiga explicar para o Homo Sapiens como é que se vive sem surtar na segunda-feira.


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Neemias Moretti Prudente é escritor, advogado, filósofo, professor, místico cômico e editor-chefe do Factótum Cultural.

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