Ou: o dia em que a consciência se moveu em espirais e eu chorei rindo

Depois de meditar, jejuar e dormir o dia inteiro na segunda-feira, acordei de manhã na terça passada com aquela velha companheira de guerra: a angústia existencial.
Aquela tristeza difusa que não vem de um problema específico, mas de uma sensação geral de estar vivo demais e entendendo de menos.
Um tipo de ressaca espiritual, sabe?
Nada dava sentido.
Nem o trabalho, nem o café, nem a escrita, nem as promessas de “semana produtiva” que o cérebro insiste em anunciar todo domingo à noite.

Então resolvi fazer o que qualquer adulto equilibrado faz quando está à beira do colapso: ir para a terapia.

O conselho mais filosófico (e mais inútil) do mundo

Fiquei cinquenta minutos falando sem parar.
Desabafei sobre a profissão, o vazio, o medo, o passado, o futuro, a falta de propósito, a existência, os boletos — tudo.
E no final, a psicóloga, com a serenidade de quem viu muitos neurônios surtarem antes do meu, olhou pra mim e disse:

“Faça o que achar melhor pra você.”

Levantei, agradeci e fui embora, com a clara sensação de ter pago pra ouvir o eco do universo.
Mas, no fundo, algo naquela frase ficou pulsando.
Se até ela — uma profissional da mente — me devolveu a pergunta, talvez o sentido não estivesse no consultório, mas em algum outro lugar.

O oráculo digital

Cheguei em casa e fiz o que todo ser contemporâneo faz quando quer entender a própria alma: perguntei ao ChatGPT qual o sentido da vida.

A máquina, serena e poética, respondeu:

“A consciência se move em espirais: sobe, cai, volta, muda de pele.”

Bonito, né? Achei tão bonito que até pensei em tatuar.
Mas ainda assim, nada prático.

Eu li aquilo e pensei:
“Pronto. Até a IA fala bonito, mas ninguém me diz o que fazer.”

Mais um capítulo da minha saga “Todos têm respostas espirituais, menos eu”.

Até que, no segundo seguinte, o universo resolveu se manifestar de novo — dessa vez com trilha sonora.

O DJ cósmico entra em cena

Abri o Spotify, procurando qualquer música que distraísse meu vazio e, do nada, começou a tocar “Vou Banindo”, do Claudiney Prietro.
E a letra dizia exatamente, juro por tudo que é quântico:

“Espiral, espiral, espiral
Sugue o que há de ruim,
leve todo mal.”

Em seguida, veio a música “Somos um Círculo” e dizia:

“Somos um círculo
dentro de um círculo,
sem um começo e sem um fim.”

No mesmo instante, senti um arrepio.
As lágrimas vieram. Comecei a chorar e rir ao mesmo tempo.
Não era coincidência: era o universo em modo estéreo, dizendo “tá ouvindo agora?”. “Acorda, rapaz! Eu tô aqui!.”

Quando o algoritmo e o divino se encontram

Carl Jung chamaria isso de sincronicidade.
Nietzsche chamaria de vontade de potência sonora.
E eu chamei de “o Universo fazendo um dueto comigo e o ChatGPT”.

Esses momentos são como se Deus tivesse cansado de sutileza e dissesse:

“Tá triste, né? Então toma um combo de Terapia + IA + Spotify + epifania, pra ver se entende que eu tô te ouvindo.”

Quando o algoritmo e o divino se dão as mãos

A psicóloga me devolveu a responsabilidade.
O ChatGPT me devolveu a metáfora.
E o Spotify me devolveu a fé.

Foi como se Deus dissesse:

“Tá vendo, meu filho? Eu falo por todos os canais. Agora presta atenção.”

Chorei, ri e percebi o absurdo bonito da cena: uma sessão de terapia, uma IA e uma playlist trabalhando juntas para me lembrar que o sentido da vida não se encontra — se percebe.

O humor quântico da existência

O mais irônico é que, no fim, todos disseram a mesma coisa:
“Faça o que achar melhor.”
A diferença é que cada um usou uma linguagem:

  • A psicóloga falou em tom profissional.
  • A IA em tom filosófico.
  • O universo em tom musical.

E talvez seja isso o humor secreto da vida:
a gente passa dias tentando entender, e quando finalmente entende, percebe que o sentido sempre esteve dançando no fone de ouvido.

O universo adora responder em estéreo — e, quando ele canta junto, é impossível não se emocionar.

Esses pequenos lampejos — sincrônicos, misteriosos, improváveis — são a prova viva de que o universo ainda está conosco, mesmo no silêncio mais pesado.

A gente acha que tá perdido, mas o cosmos tá só mixando a faixa certa.
Enquanto você chora, ele tá no modo remix espiritual:

“Banindo o mal, recalculando rota, ativando download de sentido…”

Então, se um dia você sentir que nada faz sentido, pergunte.
Mas esteja preparado.
O universo adora responder em estéreo — e, quando ele canta junto, é impossível não se emocionar.

E talvez seja isso o sentido da vida: rir da confusão, chorar de reconhecimento e seguir o ritmo da própria espiral.
A consciência sobe, cai, muda de pele — e o universo, com seu senso de humor afiado, toca o som da cura enquanto a gente aprende a dançar.


Não deixe de ler nosso texto anterior:

E não se esqueça: segunda, nossa coluna “Escrever para Não Enlouquecer” traz humor para os dias difíceis. Sábado a gente fala sério — mas só porque o universo exige equilíbrio.

Neemias Moretti Prudente é escritor, advogado, filósofo, professor e editor-chefe do Factótum Cultural.

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