1 – RESUMO 

O intuito deste estudo é destacar a importância da utilização clínica da ciência ABA (Análise  do Comportamento Aplicada) no tratamento do autismo em pacientes adultos. Dessa forma,  isso poderá auxiliar psicoterapeutas e professores a reconhecerem as melhorias observadas nos  comportamentos, tais como: comunicação, interação, atenção, inclusão social, capacidade de  tomada de decisões e autonomia no âmbito familiar, escolar e profissional. 

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista no adulto. Intervenções clínicas. ABA.  

2 – INTRODUÇÃO  

Quando o nosso comportamento é reforçado positivamente, nós dizemos que gostamos do que estamos fazendo; dizemos que estamos felizes”. (Skinner, 1974) 

Desejo colaborar com as pessoas que, por diversas razões, adquiriram o transtorno do  espectro autista TEA e, atualmente, já se encontram adultas, enfrentando dificuldades tanto no  comportamento operante e respondente, quanto no desempenho profissional.  

O estudo dedicado à inclusão de indivíduos com autismo nas interações sociais,  profissionais, educacionais e sociais, enfatiza a relevância de uma abordagem personalizada e  focada nos elementos mutáveis do ambiente de estímulo dos indivíduos autistas, propondo as  mudanças de comportamento. Essa abordagem enfatiza a necessidade de reconhecer a  particularidade de cada pessoa com Transtorno do Espectro Autista TEA e adaptar estratégias  de acordo com as suas necessidades específicas, promovendo uma integração mais eficaz e  significativa na sociedade. Isso reforça a relevância de criar ambientes inclusivos e  compreensivos que valorizem a diversidade e permitam que os adultos com TEA tenham uma  vida social plena e enriquecedora (ANDERSON et al., 2018

Com o aprimoramento das técnicas de diagnóstico, é possível identificar características  que indicam a complexidade do espectro autista e auxiliam os pacientes a lidarem com o  problema na vida adulta. Os comportamentos de pacientes autistas apresentam sinais e sintomas  clínicos com desenvolvimento atípico.  

Ao se ater na observação clínica, vemos que a percepção de mundo dos pacientes com  TEA, são diferenciados. É importante analisar com detalhes como o paciente se interage na  vida afetiva e como ele estabelece as suas relações com a sua rotina no dia a dia. O diagnóstico  fica melhor compreendido com a utilização do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de  Transtornos Mentais) e o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças). 

A psicoterapia é crucial para essas pessoas, pois lhes oferece a oportunidade de  compreender as razões de algumas atitudes e também resinificar as cognições desenvolvidas  com as crenças desde a infância que refletem na forma de pensar e se comportar atualmente.  Assim, ao trabalhar o comportamento verbal do paciente na psicoterapia é importante estimular  a comunicação para permitir entender os sinais apresentados do TEA e pensar nas intervenções  da análise experimental do comportamento.  

Nota-se que o paciente, expressa angústia e preocupação por não corresponder no  campo intrapessoal e interpessoal ao perceber os seus limites na sua interação, comunicação e  participação na esfera acadêmica, profissional, familiar e social. Para isso, este estudo provoca  uma discussão entre os profissionais que conhecem e não conhecem a ABA, para proporcionar  esperança de uma vida inclusiva, mesmo diante da adversidade imposta pelo transtorno.  

3 – CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS (TEA)  

A avaliação neuropsicológica é crucial no tratamento do TEA em indivíduos maduros.  Durante uma avaliação neuropsicológica, a análise se concentra, sobretudo, no perfil cognitivo,  social, emocional e sensorial do paciente, o que facilita o diagnóstico diferencial. Desde a  infância, é um distúrbio do desenvolvimento neurológico que afeta a comunicação, socialização  e padrões restritos e repetidos de comportamento e interesses. É importante salientar que alguns  estudos atribuem o TEA à categoria de “Perturbações esquizofrênicas”, permanecendo  associado à esquizofrenia até a nona edição (1979), com a nomenclatura “Psicose Infantil” ou  “Síndrome de Kanner” Vargas & Schmidt, 2011Vargas, R. M., & Schmidt, C. (2011)  Autismo e esquizofrenia: compreendendo as diversas condições. Encontrado em  https://bit.ly/3307DwM. 

O termo “espectro” é usado devido à diversidade de tipos e níveis que as pessoas  apresentam. Cada portador do autismo, tem as suas próprias particularidades, tornando-se  único no espectro. A ciência ainda não tem uma etiologia específica para o TEA. As evidências  científicas indicam uma forte influência genética, hereditária e conexão com fatores de risco  no ambiente. O diagnóstico pode ser realizado em qualquer idade, mas na fase adulta é mais  desafiador, já que muitos indivíduos aprendem a esconder os seus sintomas para atender às  expectativas sociais. Os sinais de autismo podem variar de acordo com a gravidade da doença. 

Em indivíduos extremamente ansiosos, os sinais físicos como taquicardia, palpitação,  dilatação da pupila, sudorese palmar e plantar, dispepsia, sensação de desmaio, dores de  estômago, ideias e ações podem causar ferimentos em si e o surgimento de uma depressão  profunda. Mas alguns sinais podem ajudar a reconhecer o autismo na idade adulta, como: a  dificuldade de interpretar as mensagens do interlocutor, tanto verbal quanto não verbal; a  dificuldade de compreender piadas, ironias e mensagens simples.  

Os indivíduos com transtorno autista enfrentam dificuldades em expressar sentimentos  e contato físico nas suas relações familiares ou com amigos. Pacientes com TEA também  apresentam nos contatos interpessoais, a falta de compreensão do abstrato, a necessidade  obsessiva de uma rotina sistematizada e organizada para evitar ansiedade, agitação diante de  ruídos, focos em objetos, obsessão por regras e rotinas sequenciais de tarefas.  

Como não se trata de uma doença, não se pode falar em cura, mas sim em tratamento,  que deve ser iniciado com antecedência em qualquer suspeita de autismo, mesmo que o  diagnóstico ainda não tenha sido concluído. 

4- NÍVEIS DO TEA 

O DSM-5 divide o autismo em níveis diferentes de acordo com algumas condições do  indivíduo autista. Basicamente, é separado em graus 1, 2 e 3 ou autismo leve, moderado e  severo. No Grau 1 – autismo leve as dificuldades estão relacionadas aos déficits de  comunicação, sem muitas comorbidades associadas. Por conta disso, o adulto com autismo  leve muitas vezes é rotulado como desinteressado. E, clinicamente necessita relativamente de  pouco apoio. No Grau 2 – autismo moderado, este já possui aspectos mais complicados em  relação ao anterior. Nesse caso, a falta da verbalização pode ser um dos problemas do  indivíduo, geralmente, as comorbidades estão associadas ao diagnóstico. E no Grau 3 – autismo severo se caracteriza pelos prejuízos no neurodesenvolvimento serem mais elevados.  Nesse contexto, os problemas estão presentes desde o processo da socialização até o  funcionamento geral do corpo e mente. Fonte:  https://www.opovo.com.br/agencia/edicase/2023/11/12/entenda-como-e-feita-a-classificacao-dos-niveis-deautismo.html 

5 – A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO DO TEA 

O DSM-5 é de fundamental importância para o diagnóstico do autismo e de outras  condições que afetam a mente. Além disso, ele é uma ferramenta valiosa para a padronização  e atualização do conhecimento referente aos transtornos mentais, inclusive o TEA. Com o  avanço científico, a precisão e a velocidade do diagnóstico aumentaram, possibilitando aos  profissionais a definição de estratégias de tratamento em tempo hábil, visando diminuir os  danos causados pelo autismo.  

Portanto, profissionais e pais devem ficar atentos e acompanhar as dificuldades  enfrentadas pelos adultos com diagnóstico tardio de Transtorno do Espectro Autista TEA na  fase adulta, investigando as suas implicações psicológicas, educacionais, profissionais e  sociais, bem como identificar estratégias de apoio e intervenções eficazes para melhorar a sua  qualidade de vida e inclusão na sociedade. Com esse estudo, apresentaremos o método  científico ABA Análise do Comportamento Aplicada, para o paciente, psicoterapeuta e  educador, visando maior autonomia, baseada no desenvolvimento da segurança pessoal, na  construção de afetos e na autoimagem positiva. 

6 – PROPOSTAS TERAPÊUTICAS 

Segundo a psicologia behaviorista, em particular a ABA, as bases teóricas, filosóficas  e práticas são baseadas em evidências científicas. A teoria do reforço desenvolvida por  Burrhus Frederic Skinner (nascimento, 20 de março de 1904 Susquehanna, Pensilvânia, Estados  Unidos e morte em 18 de agosto de 1990 com 86 anos Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos) teve  um impacto significativo na prática clínica, facilitando a vida dos psicólogos e os seus clientes.  

A ideia de Skinner está ligada a uma análise funcional centrada nas variáveis de  estímulos e respostas. Nas análises, as variáveis: estímulo, reforço, e contingências de reforço  são o principal fator. Segundo Oliveira (1973), as variáveis mencionadas são: 1) Estímulo:  evento que afeta os sentidos do aprendiz. 2) Reforço: evento que aumenta a probabilidade de  ocorrência do ato anterior. 3) Contingência de reforço: arranjo de uma situação para o aprendiz  na qual a ocorrência de reforço é dependente da ocorrência imediata anterior de uma resposta  a ser aprendida (OLIVEIRA, 1973, p. 88). 

Segundo Skinner, existem dois tipos de respostas ou comportamentos: o operante e o  respondente. Enquanto os comportamentos respondentes (reflexos ou involuntários) são  provocados automaticamente por estímulos, o mesmo não acontece com os operantes.  Dependendo de certos fatores, indivíduos podem exibir esses sinais. A maioria dos  comportamentos é operante e envolve ações humanas que interferem no mundo externo. 

Skinner sugere a utilização da Análise do Comportamento Aplicada, também conhecida  como ABA (Applied Behavior Analysis). O objetivo dessa abordagem terapêutica é ensinar o  cliente a analisar o seu próprio comportamento, a fim de compreender a sua história  comportamental, antecedentes, observação do organismo em relação ao ambiente de estímulo  e as consequências, sempre buscando compreender as variáveis de contingências em que ele  está inserido. Ao incentivar a aquisição de novos hábitos assertivos, supostamente os  comportamentos indesejados são eliminados. Assim, ao empregar a ABA, o profissional está  ensinando o paciente a adquirir comportamentos desejados.  

Na obra Technology of Teaching, publicada em 1972, Skinner demonstra toda a sua  dedicação à educação que reflete na mudança de comportamento. O autor discute o que é  ensinar e discute as formas de ensinar baseadas nos princípios do seu behaviorismo.  

[…] ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem. […] O ensino é, naturalmente,  muito importante, porque, do contrário, o comportamento não apareceria. […] tudo o que  hoje se ensina deve ter sido aprendido, pelo menos uma vez, por alguém que não foi  ensinado, mas graças a educação já não é preciso esperar por estes eventos raros (SKINNER, 1972, p. 3-4).

Na atuação clínica o psicoterapeuta utilizará de técnicas da ABA que poderão ser uteis  no tratamento do TEA. Conforme as necessidades dos clientes, as seguintes técnicas poderão  ser usadas: treino assertivo aplicada para pacientes com dificuldade de interação social e  comunicação, autocontrole emocional e comportamental, reforço positivo, reestruturação  cognitiva, automotivação, tarefa de casa e psicoeducação. 

7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Antes de escolher uma ou outra intervenção, pense no paciente. As suas características  e particularidades, as suas necessidades e possibilidades são extremamente relevantes para o  psicoterapeuta ou educador. Da mesma forma, refletir sobre as concepções de sujeito,  deficiência educacional e comportamento, que norteiam a atuação de cada profissional, para  encontrar soluções que respeitem essas ideias. É fundamental lembrar sempre do processo de  diversidade e inclusão que implica em estar junto. 

A inclusão de indivíduos com TEA apresenta alguns obstáculos devido às diversas  formas de ser; a interação social estabelecida por indivíduos com TEA é distinta e, às vezes,  pode se chocar com as convenções sociais em vigor. A comunicação diferenciada e os  interesses com foco em assuntos muito pessoais, que estão distantes dos assuntos existenciais,  acabam gerando obstáculos situacionais. 

No entanto, para superar as dificuldades que surgem na comunicação, é preciso ir além  dos métodos, estudos e práticas, buscando auxiliar o portador do TEA com uma grande rede  de apoio: profissionais capacitados, não somente no nível técnico, mas também no nível  humano, que acreditem no potencial do paciente, pois todos têm o direito de aprender dentro  das suas especificidades. É preciso propiciar uma vivência saudável, com uma interação capaz  de superar os obstáculos e estimular a independência e autoestima. É imprescindível  proporcionar uma experiência saudável, mediante uma interação capaz de superar os obstáculos  e incentivar a autonomia e autoconfiança. 

As intervenções proporcionadas pela ABA, resultam num crescimento da pessoa com  TEA que pode ser valorizado, onde as características podem se tornar expressões de cada um,  ajudando as relações e os processos de aprendizagem individuais. Decidir qual a intervenção  ideal não é uma tarefa simples, ela requer a colaboração entre família, saúde, educação e a  valorização dos sinais apresentados pelo indivíduo com TEA. As escolhas de tratamento estão  diretamente ligadas às concepções que cada profissional ou família, suas possibilidades,  desafios, demandas e formas de expressão. 6 

Assim, percebemos que o TEA é significativo para quem vive o problema e existem  métodos terapêuticos que auxiliam a compreender o progresso a partir das suas próprias  experiências individuais. A inclusão e a aceitação da diversidade são relevantes para a formação  de uma sociedade mais justa e equitativa para os autistas nos enriquecendo com as suas  perspectivas únicas e habilidades especiais.  

Ao tomar conhecimento dos princípios da análise aplicada do comportamento ABA, é  possível realizar estudos abrangentes para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Apesar  das evidências científicas, é importante lembrar que a humildade e a sabedoria são  fundamentais, pois existem diversas abordagens para a compreensão do TEA sob uma  perspectiva biopsicossocial. 

8 – REFERÊNCIAS 

1. ANDERSON, Kristy A. et al. Transition of individuals with autism to adulthood: a  review of qualitative studies. Pediatrics, 2018, 141 (Supplement_4): S318–S327.  Disponível em:https://publications.aap.org/pediatrics/articleabstract/141/Supplement_4/S318/345 42/Transiti on-of-Individuals-With-Autism-to-Adulthood.  

2. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e  estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

3. DSM-5: autism spectrum disorder diagnosis, 2021. Disponível  em: https://raisingchildren.net.au/autism/learning-about-autism/assessment diagnosis/dsm-5-asd-diagnosis. Acesso em: 19 ago. 2022. 

4. STEFFEN, F..; DE PAULA, F.; MARTINS, M. F.; LÓPEZ, L. DIAGNÓSTICO  PRECOCE DE AUTISMO: UMA REVISÃO LITERÁRIA. REVISTA SAÚDE  MULTIDISCIPLINAR, [S. l.], v. 6, n. 2, 2020. Disponível  em: http://revistas.famp.edu.br/revistasaudemultidisciplinar/article/view/91. Acesso  em: 19 ago. 2022.

5. Vargas, R. M., & Schmidt, C. (2011). Autismo e esquizofrenia: compreendendo  diferentes condições Recuperado de https://bit.ly/3307DwM » https://bit.ly/3307DwM

6. OLIVEIRA, J. B. A. Tecnologia educacional: teorias da instrução. Petrópolis, RJ:  Vozes, 1973, 158p. 

7. SKINNER, B. F. Tecnologia do ensino. Trad. Rodolpho Azzi. São Paulo, SP: Herder,  Ed. da Universidade de São Paulo, 1972. 

8. https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/transtorno-do-espectro-autista/definicao tea/https://vidasaudavel.einstein.br/espectro-autista/ 

9. https://www.paho.org/pt/topicos/transtorno-do-espectro-autista 

10. https://pt.scribd.com/document/564551409/Manual-de-Orientacao-TEA-SBP 11. https://www.autismoemdia.com.br/blog/sintomas-de-autismo-em-adultos-quais-os desafios-e-como-lidar/

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.

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