
por Adriano Nicolau da Silva
1 – RESUMO
O intuito deste estudo é destacar a importância da utilização clínica da ciência ABA (Análise do Comportamento Aplicada) no tratamento do autismo em pacientes adultos. Dessa forma, isso poderá auxiliar psicoterapeutas e professores a reconhecerem as melhorias observadas nos comportamentos, tais como: comunicação, interação, atenção, inclusão social, capacidade de tomada de decisões e autonomia no âmbito familiar, escolar e profissional.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista no adulto. Intervenções clínicas. ABA.
2 – INTRODUÇÃO
“Quando o nosso comportamento é reforçado positivamente, nós dizemos que gostamos do que estamos fazendo; dizemos que estamos felizes”. (Skinner, 1974)
Desejo colaborar com as pessoas que, por diversas razões, adquiriram o transtorno do espectro autista TEA e, atualmente, já se encontram adultas, enfrentando dificuldades tanto no comportamento operante e respondente, quanto no desempenho profissional.
O estudo dedicado à inclusão de indivíduos com autismo nas interações sociais, profissionais, educacionais e sociais, enfatiza a relevância de uma abordagem personalizada e focada nos elementos mutáveis do ambiente de estímulo dos indivíduos autistas, propondo as mudanças de comportamento. Essa abordagem enfatiza a necessidade de reconhecer a particularidade de cada pessoa com Transtorno do Espectro Autista TEA e adaptar estratégias de acordo com as suas necessidades específicas, promovendo uma integração mais eficaz e significativa na sociedade. Isso reforça a relevância de criar ambientes inclusivos e compreensivos que valorizem a diversidade e permitam que os adultos com TEA tenham uma vida social plena e enriquecedora (ANDERSON et al., 2018)
Com o aprimoramento das técnicas de diagnóstico, é possível identificar características que indicam a complexidade do espectro autista e auxiliam os pacientes a lidarem com o problema na vida adulta. Os comportamentos de pacientes autistas apresentam sinais e sintomas clínicos com desenvolvimento atípico.
Ao se ater na observação clínica, vemos que a percepção de mundo dos pacientes com TEA, são diferenciados. É importante analisar com detalhes como o paciente se interage na vida afetiva e como ele estabelece as suas relações com a sua rotina no dia a dia. O diagnóstico fica melhor compreendido com a utilização do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças).
A psicoterapia é crucial para essas pessoas, pois lhes oferece a oportunidade de compreender as razões de algumas atitudes e também resinificar as cognições desenvolvidas com as crenças desde a infância que refletem na forma de pensar e se comportar atualmente. Assim, ao trabalhar o comportamento verbal do paciente na psicoterapia é importante estimular a comunicação para permitir entender os sinais apresentados do TEA e pensar nas intervenções da análise experimental do comportamento.
Nota-se que o paciente, expressa angústia e preocupação por não corresponder no campo intrapessoal e interpessoal ao perceber os seus limites na sua interação, comunicação e participação na esfera acadêmica, profissional, familiar e social. Para isso, este estudo provoca uma discussão entre os profissionais que conhecem e não conhecem a ABA, para proporcionar esperança de uma vida inclusiva, mesmo diante da adversidade imposta pelo transtorno.
3 – CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS (TEA)
A avaliação neuropsicológica é crucial no tratamento do TEA em indivíduos maduros. Durante uma avaliação neuropsicológica, a análise se concentra, sobretudo, no perfil cognitivo, social, emocional e sensorial do paciente, o que facilita o diagnóstico diferencial. Desde a infância, é um distúrbio do desenvolvimento neurológico que afeta a comunicação, socialização e padrões restritos e repetidos de comportamento e interesses. É importante salientar que alguns estudos atribuem o TEA à categoria de “Perturbações esquizofrênicas”, permanecendo associado à esquizofrenia até a nona edição (1979), com a nomenclatura “Psicose Infantil” ou “Síndrome de Kanner” Vargas & Schmidt, 2011Vargas, R. M., & Schmidt, C. (2011) Autismo e esquizofrenia: compreendendo as diversas condições. Encontrado em https://bit.ly/3307DwM.
O termo “espectro” é usado devido à diversidade de tipos e níveis que as pessoas apresentam. Cada portador do autismo, tem as suas próprias particularidades, tornando-se único no espectro. A ciência ainda não tem uma etiologia específica para o TEA. As evidências científicas indicam uma forte influência genética, hereditária e conexão com fatores de risco no ambiente. O diagnóstico pode ser realizado em qualquer idade, mas na fase adulta é mais desafiador, já que muitos indivíduos aprendem a esconder os seus sintomas para atender às expectativas sociais. Os sinais de autismo podem variar de acordo com a gravidade da doença.
Em indivíduos extremamente ansiosos, os sinais físicos como taquicardia, palpitação, dilatação da pupila, sudorese palmar e plantar, dispepsia, sensação de desmaio, dores de estômago, ideias e ações podem causar ferimentos em si e o surgimento de uma depressão profunda. Mas alguns sinais podem ajudar a reconhecer o autismo na idade adulta, como: a dificuldade de interpretar as mensagens do interlocutor, tanto verbal quanto não verbal; a dificuldade de compreender piadas, ironias e mensagens simples.
Os indivíduos com transtorno autista enfrentam dificuldades em expressar sentimentos e contato físico nas suas relações familiares ou com amigos. Pacientes com TEA também apresentam nos contatos interpessoais, a falta de compreensão do abstrato, a necessidade obsessiva de uma rotina sistematizada e organizada para evitar ansiedade, agitação diante de ruídos, focos em objetos, obsessão por regras e rotinas sequenciais de tarefas.
Como não se trata de uma doença, não se pode falar em cura, mas sim em tratamento, que deve ser iniciado com antecedência em qualquer suspeita de autismo, mesmo que o diagnóstico ainda não tenha sido concluído.
4- NÍVEIS DO TEA
O DSM-5 divide o autismo em níveis diferentes de acordo com algumas condições do indivíduo autista. Basicamente, é separado em graus 1, 2 e 3 ou autismo leve, moderado e severo. No Grau 1 – autismo leve as dificuldades estão relacionadas aos déficits de comunicação, sem muitas comorbidades associadas. Por conta disso, o adulto com autismo leve muitas vezes é rotulado como desinteressado. E, clinicamente necessita relativamente de pouco apoio. No Grau 2 – autismo moderado, este já possui aspectos mais complicados em relação ao anterior. Nesse caso, a falta da verbalização pode ser um dos problemas do indivíduo, geralmente, as comorbidades estão associadas ao diagnóstico. E no Grau 3 – autismo severo se caracteriza pelos prejuízos no neurodesenvolvimento serem mais elevados. Nesse contexto, os problemas estão presentes desde o processo da socialização até o funcionamento geral do corpo e mente. Fonte: https://www.opovo.com.br/agencia/edicase/2023/11/12/entenda-como-e-feita-a-classificacao-dos-niveis-deautismo.html
5 – A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO DO TEA
O DSM-5 é de fundamental importância para o diagnóstico do autismo e de outras condições que afetam a mente. Além disso, ele é uma ferramenta valiosa para a padronização e atualização do conhecimento referente aos transtornos mentais, inclusive o TEA. Com o avanço científico, a precisão e a velocidade do diagnóstico aumentaram, possibilitando aos profissionais a definição de estratégias de tratamento em tempo hábil, visando diminuir os danos causados pelo autismo.
Portanto, profissionais e pais devem ficar atentos e acompanhar as dificuldades enfrentadas pelos adultos com diagnóstico tardio de Transtorno do Espectro Autista TEA na fase adulta, investigando as suas implicações psicológicas, educacionais, profissionais e sociais, bem como identificar estratégias de apoio e intervenções eficazes para melhorar a sua qualidade de vida e inclusão na sociedade. Com esse estudo, apresentaremos o método científico ABA Análise do Comportamento Aplicada, para o paciente, psicoterapeuta e educador, visando maior autonomia, baseada no desenvolvimento da segurança pessoal, na construção de afetos e na autoimagem positiva.
6 – PROPOSTAS TERAPÊUTICAS
Segundo a psicologia behaviorista, em particular a ABA, as bases teóricas, filosóficas e práticas são baseadas em evidências científicas. A teoria do reforço desenvolvida por Burrhus Frederic Skinner (nascimento, 20 de março de 1904 Susquehanna, Pensilvânia, Estados Unidos e morte em 18 de agosto de 1990 com 86 anos Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos) teve um impacto significativo na prática clínica, facilitando a vida dos psicólogos e os seus clientes.
A ideia de Skinner está ligada a uma análise funcional centrada nas variáveis de estímulos e respostas. Nas análises, as variáveis: estímulo, reforço, e contingências de reforço são o principal fator. Segundo Oliveira (1973), as variáveis mencionadas são: 1) Estímulo: evento que afeta os sentidos do aprendiz. 2) Reforço: evento que aumenta a probabilidade de ocorrência do ato anterior. 3) Contingência de reforço: arranjo de uma situação para o aprendiz na qual a ocorrência de reforço é dependente da ocorrência imediata anterior de uma resposta a ser aprendida (OLIVEIRA, 1973, p. 88).
Segundo Skinner, existem dois tipos de respostas ou comportamentos: o operante e o respondente. Enquanto os comportamentos respondentes (reflexos ou involuntários) são provocados automaticamente por estímulos, o mesmo não acontece com os operantes. Dependendo de certos fatores, indivíduos podem exibir esses sinais. A maioria dos comportamentos é operante e envolve ações humanas que interferem no mundo externo.
Skinner sugere a utilização da Análise do Comportamento Aplicada, também conhecida como ABA (Applied Behavior Analysis). O objetivo dessa abordagem terapêutica é ensinar o cliente a analisar o seu próprio comportamento, a fim de compreender a sua história comportamental, antecedentes, observação do organismo em relação ao ambiente de estímulo e as consequências, sempre buscando compreender as variáveis de contingências em que ele está inserido. Ao incentivar a aquisição de novos hábitos assertivos, supostamente os comportamentos indesejados são eliminados. Assim, ao empregar a ABA, o profissional está ensinando o paciente a adquirir comportamentos desejados.
Na obra Technology of Teaching, publicada em 1972, Skinner demonstra toda a sua dedicação à educação que reflete na mudança de comportamento. O autor discute o que é ensinar e discute as formas de ensinar baseadas nos princípios do seu behaviorismo.
[…] ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem. […] O ensino é, naturalmente, muito importante, porque, do contrário, o comportamento não apareceria. […] tudo o que hoje se ensina deve ter sido aprendido, pelo menos uma vez, por alguém que não foi ensinado, mas graças a educação já não é preciso esperar por estes eventos raros (SKINNER, 1972, p. 3-4).
Na atuação clínica o psicoterapeuta utilizará de técnicas da ABA que poderão ser uteis no tratamento do TEA. Conforme as necessidades dos clientes, as seguintes técnicas poderão ser usadas: treino assertivo aplicada para pacientes com dificuldade de interação social e comunicação, autocontrole emocional e comportamental, reforço positivo, reestruturação cognitiva, automotivação, tarefa de casa e psicoeducação.
7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de escolher uma ou outra intervenção, pense no paciente. As suas características e particularidades, as suas necessidades e possibilidades são extremamente relevantes para o psicoterapeuta ou educador. Da mesma forma, refletir sobre as concepções de sujeito, deficiência educacional e comportamento, que norteiam a atuação de cada profissional, para encontrar soluções que respeitem essas ideias. É fundamental lembrar sempre do processo de diversidade e inclusão que implica em estar junto.
A inclusão de indivíduos com TEA apresenta alguns obstáculos devido às diversas formas de ser; a interação social estabelecida por indivíduos com TEA é distinta e, às vezes, pode se chocar com as convenções sociais em vigor. A comunicação diferenciada e os interesses com foco em assuntos muito pessoais, que estão distantes dos assuntos existenciais, acabam gerando obstáculos situacionais.
No entanto, para superar as dificuldades que surgem na comunicação, é preciso ir além dos métodos, estudos e práticas, buscando auxiliar o portador do TEA com uma grande rede de apoio: profissionais capacitados, não somente no nível técnico, mas também no nível humano, que acreditem no potencial do paciente, pois todos têm o direito de aprender dentro das suas especificidades. É preciso propiciar uma vivência saudável, com uma interação capaz de superar os obstáculos e estimular a independência e autoestima. É imprescindível proporcionar uma experiência saudável, mediante uma interação capaz de superar os obstáculos e incentivar a autonomia e autoconfiança.
As intervenções proporcionadas pela ABA, resultam num crescimento da pessoa com TEA que pode ser valorizado, onde as características podem se tornar expressões de cada um, ajudando as relações e os processos de aprendizagem individuais. Decidir qual a intervenção ideal não é uma tarefa simples, ela requer a colaboração entre família, saúde, educação e a valorização dos sinais apresentados pelo indivíduo com TEA. As escolhas de tratamento estão diretamente ligadas às concepções que cada profissional ou família, suas possibilidades, desafios, demandas e formas de expressão. 6
Assim, percebemos que o TEA é significativo para quem vive o problema e existem métodos terapêuticos que auxiliam a compreender o progresso a partir das suas próprias experiências individuais. A inclusão e a aceitação da diversidade são relevantes para a formação de uma sociedade mais justa e equitativa para os autistas nos enriquecendo com as suas perspectivas únicas e habilidades especiais.
Ao tomar conhecimento dos princípios da análise aplicada do comportamento ABA, é possível realizar estudos abrangentes para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Apesar das evidências científicas, é importante lembrar que a humildade e a sabedoria são fundamentais, pois existem diversas abordagens para a compreensão do TEA sob uma perspectiva biopsicossocial.
8 – REFERÊNCIAS
1. ANDERSON, Kristy A. et al. Transition of individuals with autism to adulthood: a review of qualitative studies. Pediatrics, 2018, 141 (Supplement_4): S318–S327. Disponível em:https://publications.aap.org/pediatrics/articleabstract/141/Supplement_4/S318/345 42/Transiti on-of-Individuals-With-Autism-to-Adulthood.
2. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.
3. DSM-5: autism spectrum disorder diagnosis, 2021. Disponível em: https://raisingchildren.net.au/autism/learning-about-autism/assessment diagnosis/dsm-5-asd-diagnosis. Acesso em: 19 ago. 2022.
4. STEFFEN, F..; DE PAULA, F.; MARTINS, M. F.; LÓPEZ, L. DIAGNÓSTICO PRECOCE DE AUTISMO: UMA REVISÃO LITERÁRIA. REVISTA SAÚDE MULTIDISCIPLINAR, [S. l.], v. 6, n. 2, 2020. Disponível em: http://revistas.famp.edu.br/revistasaudemultidisciplinar/article/view/91. Acesso em: 19 ago. 2022.
5. Vargas, R. M., & Schmidt, C. (2011). Autismo e esquizofrenia: compreendendo diferentes condições Recuperado de https://bit.ly/3307DwM » https://bit.ly/3307DwM
6. OLIVEIRA, J. B. A. Tecnologia educacional: teorias da instrução. Petrópolis, RJ: Vozes, 1973, 158p.
7. SKINNER, B. F. Tecnologia do ensino. Trad. Rodolpho Azzi. São Paulo, SP: Herder, Ed. da Universidade de São Paulo, 1972.
8. https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/transtorno-do-espectro-autista/definicao tea/https://vidasaudavel.einstein.br/espectro-autista/
9. https://www.paho.org/pt/topicos/transtorno-do-espectro-autista
10. https://pt.scribd.com/document/564551409/Manual-de-Orientacao-TEA-SBP 11. https://www.autismoemdia.com.br/blog/sintomas-de-autismo-em-adultos-quais-os desafios-e-como-lidar/

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.
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