Você faz Cultura? 

Este texto examina a cultura a fim de destacar a relevância da educação do indivíduo na interação com o ambiente ao seu redor. A influência da cultura  no desenvolvimento psicológico e social está sendo estudada atualmente  visando compreender como ela interfere nas funções psíquicas. A cultura está  diretamente ligada à história, arqueologia, antropologia e psicologia, assim, de  forma dinâmica e espontânea, o homem, nas suas relações, sempre está  produzindo cultura. Na ciência da psicologia, o estudioso Russo, Vygotsky teve  a preocupação de questionar, diversas vezes, as condições sociais influenciando  o desenvolvimento do ser humano no campo subjetivo e deixou bem claro que:  

Toda a cultura é social. A cultura é um produto da  

convivência social e da atividade social do ser humano.  

Sendo assim, a definição do problema do desenvolvimento  

cultural do comportamento nos leva diretamente ao plano  

social do desenvolvimento. (Vygotsky, 1995:150-151) 

Esse teórico deixou uma herança filosófica do materialismo histórico  dialético. Além disso, é importante salientar que a nossa sociedade é  extremamente acelerada, o que dificulta a apreciação da cultura, destacando o  fenômeno de separação entre indivíduos e instituições.  

Estamos enfrentando uma situação de incerteza com a desvalorização  crescente da nossa cultura. De acordo com a OMS, a sociedade está sem  identidade e estamos pagando um preço elevado. O Brasil é o país com a maior  incidência de doenças mentais, de acordo com a pesquisa Data/SUS de 2024.  A educação deveria capacitar as pessoas a desenvolverem a autonomia  emocional, os direitos culturais, a ordem social e as relações humanizadas  baseadas na cidadania, com participação ativa na sociedade. Ao analisarmos a  história humana, com foco na valorização da cultura, encontraremos o  iluminismo, um movimento intelectual que surgiu na Europa e teve um grande  impacto cultural no século XVIII, denominado “século das luzes”. O objetivo do  Iluminismo era transformar a política, a economia e a sociedade da época e teve  um impacto significativo na esfera intelectual e política de grande parte dos  países ocidentais. O Renascimento marcou o movimento iluminista em termos  de arte, cultura e ciência. 

Os renascentistas acreditavam que a ciência e a lógica eram os pilares  para a compreensão do mundo, argumentando que a razão é capaz de ver Deus  presente na natureza e no ser humano. É importante notar que, apesar de os iluministas terem falado sobre a igualdade entre os homens, isso nunca foi  absoluto, pois defendiam a igualdade entre as pessoas, mas somente para  beneficiar a burguesia. 

É possível notar esse discurso nas instituições públicas e privadas,  visando privar a população da sua capacidade de pensar e agir com criatividade. No século XXI, surgiram novas maneiras de ensinar e compreender a  cultura e a história. A educação no Brasil e o ensino de História estão investindo  em iniciativas para incentivar a continuidade dos estudos fora da educação  básica e a construção de uma escola democrática e plural, tendo em vista a  complexidade, diversidade e disparidade entre as camadas sociais. As  publicações sobre ensino e aprendizagem de História evidenciam uma variedade  de tópicos, problemas, abordagens e fontes relevantes para o ensino de História,  produzidas por diferentes agentes: professores, historiadores, educadores e  produtores de materiais em diferentes ambientes educacionais. Fonte:  (FONSECA, 2010, p.1) 

Mais do que procurar uma uniformização, devemos considerar todas as  discussões e debates em busca de um ensino de valorização da cultura que “se  não pode ensinar toda a história cultural”, mas que também não deixe de lado a  contribuição dos diferentes sujeitos que podem nos informar sobre as ações  humanas no passado. 

A cultura é a expressão da presença humana no mundo através das suas  criações artísticas, culturais e intelectuais. Vaz (1966, p.5) sustenta que a única  forma de compreender o mundo é através da cultura, o que permite uma  definição completa do homem.  

A transição do mundo natural para o mundo cultural ocorre por meio da  criação cultural, quando o ser humano se realiza e se desenvolve no ambiente  humano com consciência de si. Por meio da cultura, o ser humano é capaz de  se expressar e se realizar como indivíduo. É crucial destacar que a cultura é a  trajetória do ser humano e as suas conexões com o meio ambiente, reforçando  a importância da identidade pessoal na comunicação global. Além disso, a cultura incentiva a compreensão dos símbolos sociais, normas sociais, valores  sociais e a forma de ver e agir no mundo. 

A opinião de Ruth Benedict (1934, p. 13) é que.  

Interessa para o antropólogo a vasta gama de  

costumes que existem em culturas diferentes, e o  

seu objeto é compreender o modo como essas  

culturas se transformam e se diferenciam, as formas  

diferentes por que se exprimem, e a maneira como  

os costumes de quaisquer povos funcionam nas  

vidas dos indivíduos que os compõem

Sendo assim, considerar a cultura na totalidade é uma forma de superar  as suas barreiras, oferecendo um elemento adicional que possa contribuir para a sua permanência ou transformação. 

Dessa forma, conforme a autora Chauí, não se deve estudar uma cultura  sem analisar as determinações que a constituem e as ideologias às quais está  sujeita, além de considerar a influência da sociedade no progresso cultural,  presente na sua simbologia. Acreditamos que a cultura atual precisa se libertar  das amarras do preconceito, discriminação, poder abusivo e perseguição,  através da história pública. 

Portanto, ressaltamos a importância de investigar as fontes materiais, em  conjunto com outras fontes, como as escritas, a fim de representar as pessoas  anônimas, exploradas e subalternas. Essas são, na realidade, a grande maioria  da população e estão excluídas do poder público e da cultura, mas não da  História, onde estiveram e continuam imersas. 

Referências. 

CHAUÍ, M. e MORAIS, F. A teoria, na prática, e outras, teoria & Debate, n. 13,  jan., 1991, pp. 42-53. 

LIMA VAZ, H.C. Ideologia e verdade. Revista de Cultura Vozes. Petrópolis, v.  60, 1966. 

BENEDICT, R. s/d. Padrões de Cultura. Lisboa: Edição “Livros do Brasil” (1ª  parte: pp. 13-70; 3ª parte: pp. 247-304). (Apenas 1ª parte. Disponível em: Acesso  em: 10 jul. 2017. 

Vygotsky, Lev S. (1995). História del Desarrollo de las Funciones Psíquicas  Superiores. Em Lev S. Vygotsky. Obras Escogidas. Tomo III. Madri:  Visor/MEC.

Adriano Nicolau da Silva, Psicoterapeuta, Neuropsicopedagogo e Neuroeducador. Graduado em Psicologia e Filosofia. Especialista nas áreas de educação e clínica. Uberaba, MG. Colunista do Factótum Cultural. E-mail: adrins@terra.com.br.