por Leandro Karnal

Existe um caminho formal para o estudo da Filosofia: uma graduação na área.

Serão alguns anos em aulas, trabalhos, seminários, fichamentos e avaliações. Em média, em quatro anos, você se tornará um bacharel ou licenciado. Se estiver em uma boa instituição, precisará dominar inglês e francês, e conhecimentos adicionais em grego e alemão seriam desejáveis.

O curso é fascinante e transformará sua maneira de pensar. Processos mentais serão questionados e você fará perguntas melhores do que fazia antes do curso.

A Filosofia é teoria, prática e questionamento.

Embora as demandas sejam grandes e nem sempre acessíveis, o interesse pela área vai além do profissional: a vontade de filosofar transborda em muitos lugares, assim como o prazer de cozinhar ou comer excede os cursos de gastronomia.

🤯 Mas, por onde começar?

O primeiro caminho é buscar cursos não acadêmicos de Filosofia que sejam reconhecidos e de qualidade. Afinal, existem alternativas para aqueles que não desejam percorrer o caminho de um curso universitário, mas ainda assim têm amor pelo mundo das ideias.

O segundo caminho é ser autodidata.

O terceiro caminho é diferente. Talvez você não tenha tempo ou disposição para um curso oficial e não deseja o domínio das grandes obras. Talvez queira algo mais prático e direto. Nesse caso, há livros de divulgação.

Começo falando de uma grata descoberta: “50 Ideias de Filosofia que Você Precisa Conhecer”, de Ben Dupré – autor, editor e pesquisador da Universidade de Oxford. O texto é bem pensado e indica um estudo quase sistemático de ideias amplas sobre o que é consciência, conhecimento, validação do real e outras ideias contemporâneas como os direitos dos animais.

No caminho de dicas práticas, o livro “Diário Estoico”, dos autores norte-americanos Ryan Holiday e Stephen Hanselman, apresenta 366 dicas sobre a arte de viver. Você pode ler uma reflexão por dia e será de grande proveito.

“O Mundo de Sofia”, do professor de Filosofia e intelectual norueguês Jostein Gaarder, dedicado ao público mais jovem, é um livro muito popular há mais de 20 anos e ainda conserva um bom interesse.

Existem boas histórias da Filosofia em forma mais didática: “Iniciação à História da Filosofia” do professor brasileiro Danilo Marcondes.

Se tiver fôlego, “História da Filosofia” (7 volumes) organizado pelo professor italiano Giovanni Reale.

Eu disse que este era um terceiro caminho:

Ler para pensar mais, sem pressa ou demandas de um diploma.

📖 Os livros introdutórios ficaram fáceis?

Chegou o momento de fazer o itinerário dos grandes clássicos de Platão, Aristóteles, Agostinho, Descartes, Kant, Sartre, Simone de Beauvoir ou Hannah Arendt. Num dia, você pode estar lendo Hegel em alemão e… gostando.

Por esse caminho, em um dado momento, você pode escutar um discurso de um político e identificar falácias claras, conforme a lógica formal. De outra sorte, simplesmente, pode usar o termo “navalha de Ockahn” com propriedade.

Não importa se seu Sócrates chegará de havaianas ou de black-tie, o importante é que ele possa ter alguma conversa com você.

“Ah, Leandro, eu não entendo tudo o que leio.” 😳

Não se preocupe: ninguém entende tudo o que lê. A esperança é perfectível; a perfeição é divina e não filosófica.

LK.

Texto adaptado do artigo “Sócrates de hawaianas”, publicado no jornal Estadão.

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