The Creation of God (2017), Harmonia Rosales. A pintura recria a obra Creazione di Adamo (A Criação de Adão) de Michelangelo, exibindo Deus e Adão como mulheres negras.

A História é retratada majoritariamente pela figura masculina. Temas ligados ao corpo feminino, como o aborto, são legislados por homens.

Quanto mais frágil a sociedade julga ser uma pessoa, mais a atacará.

A base da singularidade do feminino está assentada na consciência masculina que elaborou grande parte da representação das mulheres na história.

A Bíblia foi escrita por homens. 

“Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a sua mulher, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo” (Êxodo 20, 17).

Enumeram-se “bens” interditados à cobiça alheia: casa, mulher, escravos, bois e jumentos. A lista seria em ordem crescente ou decrescente de importância, na visão do autor? 

Deus tem identidade masculina na língua criada por homens. Todo teólogo dirá que Deus não tem gênero ou forma e, sendo assim, nada impede que seja representado com seios, tão equivocados na iconografia quanto a barba.

A opção gramatical de gênero é uma questão menor, mas significativa. A língua determina, por exemplo, o predomínio do masculino na enumeração de itens. Se eu falar de 35 meninas numa sala e, no meio, incluir um João, são “eles”, e não “elas”.

Há questões mais graves. Um homem sexualmente ativo recebe denominações positivas: tigrão, garanhão ou galo. Uma mulher em idêntica situação é galinha ou piranha, animais com menor associação positiva.

A língua, reflexo vivo daqueles que a usam, apaga o feminino de forma tão antiga e repetitiva que achamos que isso é natural e atemporal.

Quando o Enem de 2015 trouxe uma frase conhecida e antiga de Simone de Beauvoir, causou alvoroço: “Não se nasce mulher, torna-se mulher” foi a afirmação que amotinou algumas pessoas que descobriram, enfim, a ideia escrita 62 anos antes.

Beauvoir adota uma posição que existe há mais tempo ainda: o biológico feminino não é óbvio, mas parte de um processo que envolve elaboração cultural de uma identidade feminina. O tema continua dilacerando o fígado de muita gente.

É provável que a homofobia esteja contaminada por algo anterior e mais vasto, a misoginia. O defeito é ser mulher.

Existe uma cultura do estupro que consegue elaborar a frase mais canalha já criada pela nossa espécie: a culpa estaria na insinuação feminina.

As mulheres negras, estatisticamente, sofrem ainda mais do que as brancas. Misoginia e racismo são um cruzamento desastroso. Mulheres apanham (e morrem), quase sempre, por parte do companheiro.

O racismo já é crime inafiançável, embora se condene menos do que se deveria por esse tipo de comportamento inaceitável.

Já a incitação à violência contra a mulher, infelizmente, ainda não é crime da mesma força. Fica na conta da falta de cérebro e de caráter – com consequências gravíssimas, gerando morte, dor e traumas.

Há uma longa estrada pela frente.

Que possamos eliminar o monstrinho misógino que habita em nós, homens e mulheres.

#RecadoEquipeK

Não é novidade afirmar que a História foi escrita por homens e que, em função disso, inúmeras mulheres que contribuíram para o avanço da Humanidade acabaram silenciadas nos registros e nas análises históricas.

Você sabe quem foi Maria Leopoldina da Áustria, Maria Quitéria, Dandara dos Palmares ou Nise da Silveira?

No novo vídeo, publicado hoje no YouTube, o professor Leandro Karnal faz uma importante viagem no tempo e resgata nomes de mulheres cuja relevância na política, na ciência, no esporte, nas artes, na sociedade como um todo, foi invisibilizada pela misoginia.

Que você tenha um fim de semana inspirador, Leitor.

Abraços!

LK e Equipe K.

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