
Olá, Leitor!
Há dois tipos de conversa, ambos muito bons.
O primeiro é o franco e direto, diálogo vivo do “eu” mais profundo com alguém que você ama e confia.
É libertador abrir-se sem medo, falar de temas densos, de questões biográficas e estruturais. As horas voam e você não percebe.
Segredo: caso você tenha alguém assim, aproveite muito: conversas íntimas são como vacinas contra a insanidade.
O segundo tipo de conversa pode ou não estar contido no modelo anterior, trata-se da conversa inteligente. Você enuncia uma ideia e sua companhia complementa, aprofunda, exemplifica, ouve e se faz ouvir com bons argumentos.
Um diálogo inteligente é sedutor, quase erótico, um jogo gostoso como as gavinhas de uma hera que sobe pela parede do cérebro com elegância.
E, se você tem, na mesma pessoa, confiança e inteligência, entrega e criatividade, quase nada será sentido como falta na sua biografia.
Sejamos francos: a maioria das interações humanas foge dos tipos descritos.
Em geral, nossa vida é dominada pela conversa de elevador, de consultório, de táxi, de avião, de festa. Essas falas sociais com o desconhecido ao seu lado têm temática ampla e superficial.
No Brasil, predomina a ideia de que não é educado ficar em silêncio com outro ser humano, mesmo que você não o conheça (ou “principalmente” se você não o conhece, o que é ainda mais assustador).
Nossa cultura exalta o imperativo da fala.
Para enfrentar nossa sociabilidade tropical, urge aperfeiçoar o papo-furado. O conceito não é para amadores ou para conversadores triviais.
Os iniciantes na delicada arte de falar nada com sofisticação começam pelo tempo: “Que calor, hem?”. O recurso meteorológico é uma técnica de debutante. Resolve o silêncio constrangedor, mas evidencia a falta de traquejo.
O erro oposto, também típico de inábeis, é tornar a conversa densa em demasia. O conversador prolixo, a fim de evitar o silêncio, explana seu fluxo de consciência, suas angústias e seus devaneios, ou até seus sonhos dourados.
Tais temas assustam o ouvinte e constituem excesso de tempo e de abertura pessoal.
Raso demais ou denso em exagero são arestas evitáveis.
O celular é uma ferramenta nova e boa para nos ajudar a driblá-las: basta baixar a cabeça a ele e ficamos blindados, livres da interação casual.
Como você vê, NOME, há um mundo de técnica e talento nas conversas inadequadas. Conversar é uma arte e calar-se é sabedoria pura.
Em tempos em que ninguém cala e jamais escuta, conversar bem, calar-se e ouvir viram tripé inovador.
Infelizmente, quem mais necessita não lerá a reflexão que você acompanhou.
Um grande abraço.
LK.






Deixe um comentário