O consílio dos deuses (1517), Rafael Sanzio

Você sabe o que significa o termo “ateu”?

Confesso que não gosto muito da palavra, que deriva do grego e significa a negação de Deus.

Como toda definição, esse termo fala mais dos valores da pessoa que a utiliza do que sobre o alvo do termo.

Seria como definir a mim, Leandro, como não asiático ou não peixe.

Conhecer pela negação é problemático.

A concepção de Deus responde a quase tudo.

Deus é a hipertrofia da racionalidade, porque, para quem acredita, tudo se torna lógico com Ele.

Mesmo não construindo um campo empírico irrefutável, o religioso pode responder a quaisquer desafios.

Um ateu tem menos respostas do que um religioso.

Porém, ao eliminar a hipótese Deus, comete mais do que uma restrição metodológica.

A voz que nega a existência de divindade(s) é lida como negacionista de todo o fundamento moral e social.

Protágoras de Abdera (nascido em 490 a.C), famoso filósofo grego clássico, sofreu um processo em plena guerra do Peloponeso. Seu tratado “Sobre os Deuses” afirma “não posso saber se existem ou não”

A dúvida de Protágoras nasce de duas posições:

  • A primeira é sofista: relativização das verdades absolutas. 
  • A segunda é seu antropocentrismo radical: o homem é a medida de todas as coisas. 

O ceticismo de Protágoras é muito mais agnóstico do que ateu. Ele duvida se podemos saber algo sobre os deuses, não exatamente discorda da existência deles.

As ideias de Protágoras não se configuravam uma novidade na Atenas do quinto século antes do início da era cristã. A novidade é a perseguição: seus livros foram queimados e ele foi expulso da cidade.

A vitória do Cristianismo na Europa Ocidental fez um refluxo do ateísmo ou do seu registro: multiplicam-se clericais ao longo do milênio seguinte, escasseiam ateus e agnósticos.

Lucien Febvre (1878 – 1956), historiador francês, em uma obra clássica sobre a descrença e a obra de Rabelais, afirmava que era quase impossível existir um ateu até o Renascimento, porque não havia nem palavras ou estruturas mentais para comportar a negação de Deus.

Com o avançar da modernidade, emergem pensamentos claramente vinculados ao ateísmo no sentido como o entendemos o conceito é derivado do Iluminismo e do materialismo do século XIX.

Existem muitos tipos de ateus.

Um deles tem ganhado forte adesão entre jovens: o negador de Deus que faz da ideia uma cruzada contra pais (religiosos) e instituições.

Mas o tipo mais complicado de ateu é o catequista, aquele que herdou o pior das religiões e fica agressivo pregando sua fé negativa.

Cresce, hoje, um pensamento chamado apateísmo, a indiferença em relação à religião.

Não se trata de um ataque ou defesa de Deus, e sim, de um afastamento da experiência religiosa.

Nunca associei ética à fé ou à sua ausência.

O complicado, ultimamente, não é “crer ou não crer em Deus”. Mas crer no homem.

#RecadoDaEquipeK

Por que o professor Leandro Karnal é ateu? 

Talvez esta seja uma das perguntas que mais recebemos nas redes sociais.

Como um católico praticante, criado sob uma educação jesuíta e que dedicou parte da sua formação na Companhia de Jesus se tornou ateu?

Essas perguntas foram respondidas pelo professor Karnal em um dos vídeos mais acessados do “Prazer, Karnal” no YouTube. 

Se você ainda não assistiu ou quer relembrar da relação entre ateísmo e fé religiosa, não deixe de conferir:

Depois de ver o vídeo, que tal continuar em uma maratona sobre o tema?

Com a grande repercussão do vídeo sobre ateísmo, o professor Karnal reagiu a alguns dos comentários deixados neste vídeo estilo “react”:

Um grande abraço e um ótimo final de semana.

Abraços,

LK e Equipe K.

Deixe um comentário

Tendência